Depois de Arracão, que tanto diz aos portugueses, o grupo seguiu até Bagan, a sudoeste de Mandalay, antiga capital de um importante império. A maioria dos edifícios são muito marcados pela arquitectura religiosa, e correspondem ao período entre os séculos XI e XIII (d.C.). Em 1287, o reino cairia sob o domínio dos mongóis de Kublai Khan. Bagan tem cerca de três mil pagodes, dos treze mil que existiram nos tempos de glória. A urbe é de uma beleza estonteante, e pode-se adivinhar o que foi a magnífica cidade, de ouro, de pedras preciosas e de uma decoração plena de fulgor, saída de cornucópias cheias de preciosidades. A célebre Porta Tharabar é a única construção que resta do século IX e, segundo a lenda, é guardada pelo “Senhor da Grande Montanha” e pela sua irmã “Face Dourada”.
A viagem para Mandalay tem paragem em Amarapura (“Cidade da Imortalidade”) e no lago Taungthaman, onde se encontra a maior ponte de teca do mundo, a celebérrima U Bein — com 1,2 quilómetros, construída cerca de 1850, que hoje dá preocupações pelo estado de alguns dos 1086 pilares, que tiveram de ser reforçados. Recorde-se que a teca é nativa das florestas tropicais de monção. Amarapura teve o seu auge entre os anos de 1783 e 1857, momento em que Mandalay se tornou a capital da Birmânia. Ainda há reminiscências da actividade artesanal em algodão e seda. O Mosteiro Mahagandhayon atrai a curiosidade, quando os monges vêm, a meio da manhã, buscar os seus alimentos, formando uma impressionante fila de hábitos amarelo-alaranjados…
A despedida de Birmânia faz-se na antiga capital do último reino independente birmanês (1860-1885). Mandalay fica nas margens do rio Irrawaiddy e com a conquista britânica de Burma tornou-se, no essencial, centro da espiritualidade budista. Em 1942, a cidade foi invadida e arrasada pelos japoneses e só em 1990 se reconstruiu o imponente palácio, que voltou a ser uma das referências da cidade. A imponente Catedral do Sagrado Coração (de 1898) é sede do arcebispado, de que é titular Monsenhor Nicholas Mang Thang, defensor do diálogo inter-religioso de cristãos, budistas e muçulmanos. O padre João Baptista não esconde a emoção ao lembrar que descende de portugueses.
Na Tailândia
Na Tailândia a peregrinação inicia-se em Aiútia (Ayuthia). O antiquíssimo reino de Sião é um dos marcos das relações de Portugal com o Oriente. Depois da conquista de Malaca em 1511, Afonso de Albuquerque cedo estabeleceu relações com o prestigioso reino, através de Duarte Fernandes, enviando depois um embaixador a Aiútia, António Miranda de Azevedo, que foi recebido pelo próprio rei de Sião. Sabemos, segundo Martim Afonso de Melo e Castro, que havia dois mil portugueses a viverem no Oriente, na China, Pegu, Bengala, Orissa e Sião. Um século depois, encontramos uma comunidade portuguesa estabilizada no “bandel” (Bang Portuguet) de Aiútia de cerca de duas mil almas, que desenvolveu um processo de miscigenação com siameses, chineses, peguanos e japoneses.
A presença religiosa católica iniciou-se em 1565, com a chegada de dois frades dominicanos, seguindo-se em 1584 os franciscanos e em 1606 os jesuítas. No final do século XX, houve importantes pesquisas arqueológicas, apoiadas pela Fundação Calouste Gulbenkian, sobre os vestígios da igreja de São Domingos — de estilo europeu, com tijolos e argamassa de cal, possuindo três naves. A entrada principal abria-se em direcção ao átrio, enquanto as entradas laterais possuíam escadas flanqueadas por balaustradas, de cada lado. Nas traseiras havia um claustro, onde estavam os aposentos dos missionários, a cozinha e o refeitório.