Fugas - Viagens

  • João Cortesão/Clube Escape Livre
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  • Paulo Ricca

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Uma peregrinação sobre rodas pelos trilhos de Santiago

De Ucanha dirigimo-nos a Lalim, uma freguesia de Lamego atravessada pelo rio Barosela. Com origens pré-históricas e repovoada entre 1130 e 1140, tem uma igreja dessa época ainda preservada e que foi abadia dos monges de Cister, sendo local de acolhimento de peregrinos. Atravessando Lamego, por trilhos e veredas de paisagens deslumbrantes da serra do Marão, chegamos a Mesão Frio com os olhos cheios e a barriga vazia — a altura certa para almoçar na Quinta Vale de Locaia, com vista para o Douro.

Mas nada nos preparara para o que se seguiria. A tarde estava reservada para uma das vistas mais impressionantes de toda a viagem: as Fisgas de Ermelo, perto de Mondim de Basto. A impressionante cascata, com uma extensão de 200m no rio Olo, nasce no Parque Natural de Alvão, sendo talvez a maior queda de água de Portugal e uma das maiores da Europa. A somar à paisagem, o ruído da torrente ouve-se a quilómetros de distância e persegue-nos mesmo depois dos roncos dos motores já cantarem rumo a Mondim, onde nos espera um descanso já merecido.

Do mosteiro ao rali

O dia começa muito cedo, mas não há tempo a perder e muitos quilómetros a fazer por um percurso misto de asfalto e terra. E, já se sabe, nesta coisa de peregrinos pouco dados à peregrinação há sempre uma boa razão para parar e descobrir qualquer recanto que seja. Como o Castelo de Arnóia, em Celorico de Basto, já no distrito de Braga. Construído pelos mouros, provavelmente no século VII, foi reconstruído pelos cristãos em 1043, antes da fundação de Portugal. Presume-se que estaria ligado ao mosteiro beneditino de São Bento de Arnóia, outro dos pontos do Caminho de Santiago. Aliás, locais de acolhimento não faltam ao longo do percurso e, poucos quilómetros adiante, encontramos mais um: o Santuário de Nossa Senhora do Viso, que domina lá do alto a bacia do Tâmega.

Porém, nem só de religião se faz o nosso caminho, como comprova a próxima paragem. Agra, freguesia de Rossas, no concelho de Vieira do Minho, surge anichada no sopé da serra da Cabreira, num aglomerado de casinhas de granito, por onde ainda se respira um ambiente rural. Com a sua ponte românica sobre o rio Ave, Agra está classificada como Aldeia de Portugal desde 2005.

Seguimos os passos dos peregrinos até ao Santuário de São Bento de Porta Aberta, um local de acolhimento e descanso dos viandantes no Caminho de Santiago, para confirmar que para lá dos chamarizes religiosos há algo que é imperdível nesta região: os deleites gastronómicos – porco, vitela barrosã, frango caseiro, vinho verde… Mas, para abrir o apetite, nada como sucumbir a outro pecado: a luxúria de nos atrevermos pelo mítico troço do Rali de Portugal Fafe-Lameirinho.

Forças retemperadas, enveredamos por um íngreme trilho, habitualmente percorrido a pé pelos peregrinos na direcção do Santuário de Nossa Senhora da Abadia, com uma paisagem de cortar a respiração sobre a albufeira da Barragem da Caniçada. Não há vestígios do primitivo templo que ali existia. O edifício é do século XVIII, bem como as oito capelas alinhadas em forma de Via-Sacra a uma centena de metros da igreja.

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