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Carnaval de Binche: Um dia na vida de um gille

Quando a manhã ainda se espreguiça, por volta das dez, tem início o ritual mais solene do dia: pela primeira vez no ano, os gilles enfeitam-se com as suas máscaras e, acompanhadas dos tambores, as diferentes sociedades exibem as suas danças (o ramon ajuda a marcar a cadência) e as suas cores, a caminho da Grand-Place. Bem no coração da cidade, são recebidos, com pompa e circunstância, pelo presidente da câmara e pelos vereadores e agraciados com uma medalha todos aqueles que já participam nas festividades há 25 ou 50 anos.

Logo depois de uma recepção, segue-se um momento de repouso para todos nas suas casas — e as ostras e o salmão fumado também já os esperam. A festa, essa, irá continuar pela tarde.

Não é para todos

Mas, afinal, o que significa ser um gille? Em primeiro lugar, apenas os homens se podem arvorar desse título tão desejado pelas gentes de Binche — e não consta que, até aos dias de hoje, qualquer mulher tenha reclamado igualdade de direitos. Segundo reza a tradição, as mulheres gozam da reputação de serem seres mais sensíveis aos maus espíritos durante os dias de frio e, a ser verdade, uma verdade irrefutável para homens, cabe a estes baterem com os seus tamancos para os afugentarem.

A admissão e a obtenção do estatuto requerem ainda o cumprimento de outras regras, nem sempre fáceis de preencher: como, por exemplo, ter nascido em Binche, uma cidade que não possui maternidade, o que constitui, desde logo, um entrave para todos os jovens que teimam em preservar esta tradição. Para contornar o problema, as sociedades aceitam que os candidatos (terão de ser propostos por dois membros) sejam filhos ou netos de um natural de Binche, que residam há pelo menos cinco anos na cidade e que com ela mantenham laços estreitos — e é imperioso, ainda, que nunca tenham beneficiado de idêntica designação em qualquer outra entidade, como as que existem em Charleroi, Nivelles, Morlanwelz ou La Louvière (e como é forte e ancestral a rivalidade entre os gilles desta última e os de Binche).   

Da mesma forma, é expressamente proibido que um gille se passeie com o seu traje fora da cidade. A única vez que tal aconteceu foi em 1958, alegadamente a pedido do Palácio Real e durante a Exposição Universal; mas, perdidos entre os espectadores e outras personagens de Carnaval, juraram nunca mais o fazer. Em todo o país, apenas um belga — e famoso — se pode orgulhar de se vestir, uma vez por ano (na Terça-feira Gorda), como um gille: o Manneken Pis. Há dois anos, uma grande delegação, composta por políticos locais, representantes do folclore de Binche e do Museu do Carnaval e da Máscara, deslocou-se a Bruxelas para oferecer um novo traje à figura liliputiana que tantos visitantes atrai à capital, substituindo aquele com que fora presenteado, em 1929, pela União de Binche para a Expansão Comercial.

- Não há outra Binche no mundo. Esta é uma frase que ouvirá da boca de todos os habitantes locais. E, de facto, o Carnaval de Binche é uma impressionante herança viva, uma manifestação folclórica que, tendo nascido de uma muito antiga tradição oral, se perpetua como um ritual em que cada membro tem o sentimento de ser único, observa Marie Lempereur.

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