Fugas - Viagens

  • Reuters
  • Reuters
  • Reuters
  • Reuters
  • Reuters
  • Reuters
  • Reuters
  • Reuters
  • Reuters
  • Reuters
  • Reuters
  • Reuters
  • Reuters
  • Reuters
  • Reuters
  • Reuters
  • Reuters
  • Reuters
  • Reuters

Continuação: página 3 de 6

Carnaval de Binche: Um dia na vida de um gille

Determinar as origens do gille e do Carnaval de Binche é como caminhar num labirinto, tantas são as teses que outros tantos historiadores defendem e tão escassas as informações anteriores aos finais do século XVII. A lenda que mais parece seduzir a população local — mas a quem agrada também esta aura de mistério que envolve a figura verdadeiramente icónica do gille e das raízes do evento — envolve os incas: alguns destes terão estado, com os seus trajes coloridos, nas festividades organizadas por Maria de Habsburgo (mais conhecida em Binche — mas não só — como Maria da Hungria), em Agosto de 1549, para receber o seu irmão Carlos V e o seu sobrinho Philippe II. Os habitantes terão gostado de tal maneira das cores e do exotismo das roupas dos incas que decidiram perpetuar, todos os anos, as procissões nas ruas de Binche. 

As mesmas onde, a esta hora, se voltam a ouvir os sons festivos, um murmúrio que se aproxima como uma vaga. Já sem a máscara e o ramon, mas com o seu chapéu de plumas de avestruz (cada um representa oito horas de trabalho) que se ergue (uns 90 centímetros) no céu, os gilles, carregando um cesto, vão distribuindo laranjas (alguns oferecem também maçãs e nozes) pelos espectadores como símbolo da sua generosidade. Ao mesmo tempo, dançam ao som dos tambores e batem com os seus tamancos, despertando a natureza e contagiando, com a sua alegria, o mar de gente que se acumula para presenciar o ritual.

O dia avança, dá lugar a mais uns momentos de repouso e a uma derradeira volta pela cidade, aquela que irá conduzir os gilles e todas as sociedades, os Arlequins, os Pierrots, os Paysans, os Incas, os Incorruptibles, os Petits Gilles, entre outras, até à Grand-Place. Os chapéus de plumas (não devem ser usados se chover ou o vento soprar com força mas um desfile sem chapéu não augura nada de bom para o futuro) repousam agora em casa, bem como as máscaras (uma reminiscência do reinado de Napoleão III) e os ramons, e os gilles movimentam-se com mais liberdade, bailando à volta de uma fogueira que se recorta no centro da praça. O fogo-de-artifício enche o céu já escuro, sem estrelas, e duas palavras iluminam-se: plus outre.

Sempre mais além, seguindo o lema de Carlos V.

E os gilles e outros membros das sociedades vão mais longe, dançam, enfrentam a noite, alguns, mais resistentes, ficam até pouco antes de um novo dia romper. É quarta-feira de Cinzas, o início simbólico da Primavera. E os gilles deitam-se, finalmente, nas suas camas, sonhando não com a normalidade do dia-a-dia mas com a loucura de um dia como este. No próximo ano.

Meses de preparativos

“Um homem em Binche não pode ter uma grande vida: gasta num dia aquilo que ganha num ano.” Descontando o exagero, Binche respira, de facto, o Carnaval.

- Durante três dias, e mesmo durante os dias que os antecedem, a cidade vive para as festividades. Não é por acaso que o Carnaval de Binche, pela suas características sociais, humanas, tradicionais e populares, foi reconhecido pela UNESCO como Obra-Prima do Património Oral e Intangível da Humanidade, assume Marie Lempereur.

--%>