Fugas - Viagens

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De mão dada com os amantes

Não se sabe por ordem de quem, talvez de um familiar, mas os jovens foram enterrados juntos na mesma sepultura, na capela de San Cosme e San Damián da igreja de San Pedro, onde foram descobertos em 1555. Durante 23 anos, estiveram expostos ao público mas de novo foram enterrados por ordem do bispo e logo desenterrados por decisão do notário Yague de Salas, que redigiu um documento determinante para perpetuar esta história de amor.

O interior do mausoléu, inaugurado em 2005, impressiona e é um apelo constante ao amor: num sector fala-se do amor nos tempos difíceis, profundamente marcado pelo carácter político, social e cultural em que estava mergulhada Teruel nos primeiros anos do século XIII; noutro, da história dos amantes, noutro ainda, neste fenómeno que inspirou o mundo das artes — da literatura, do teatro, da pintura, da música e da escultura.

A morte de Isabel de Segura e  Diego de Marcilla foi ainda mais turbulenta do que a vida: de armário para panteão, de capela para sala de claustros, passando pelo sótão durante a Guerra Civil. Uma morte sem descanso até que, por fim, Juan de Ávalos, de visita a Teruel, horrorizado com o que viu, decidiu construir e oferecer o mausoléu em bronze e alabastro onde repousam hoje os corpos, sem que as mãos se toquem, como manifestação simbólica de um amor que nunca chegou a materializar-se.

Torres, torreões e touros

A igreja e a torre de San Pedro, a mais antiga das torres mudéjares turolenses (século XIII), tocam-se e dominam a Plaza de los Amantes, em contraste com o mausoléu modernista. Para um lado e para outro, duas torres, acompanhadas das igrejas homónimas, recortam-se contra o céu vestido de azul: a de San Martin e a del Salvador,  também associadas a uma lenda envolta num triângulo, com um final trágico e no contexto de uma cidade profundamente cicatrizada pela guerra.

No século XII, as tropas de Alfonso II invadem a província e conquistam, de forma gradual, cada vila. Mas, em Teruel, os muçulmanos são autorizados a permanecer (no início do século XVI foram obrigados a converter-se ao cristianismo e na mesma altura a última mesquita foi transformada em igreja) e a sua arte mudéjar é preservada. Omar e Abdullah, arquitectos a quem pediram a construção de duas torres, disputam Zoraida, proprietária de uma beleza sem paralelo. Um e outro, quase em simultâneo, pediram a mão ao pai e, este, percebendo que Zoraida tinha estima por ambos, definiu que o feliz contemplado seria o primeiro a terminar a obra. Omar e Abdullah trabalharam noite e dia,  o primeiro na de San Martin, o segundo na de El Salvador, tapando uma e outra com andaimes de forma a ocultarem a evolução que se ia registando. Omar foi o primeiro a concluir os trabalhos e o povo saiu à rua para admirar a elegância da estrutura; mas no mesmo momento Omar, vendo que a torre estava (ainda está) ligeiramente inclinada, lançou um grito e correu até ao topo, de onde se atirou para o vazio, preferindo a morte a uma vida sem amor e sem honra.

De volta à realidade, as duas torres são dos monumentos que mais turistas atraem a Teruel e integram o conjunto monumental mudéjar reconhecido desde 1986 pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade. Se a história e os números não mentem, a torre de San Martin foi terminada em 1316, há precisamente 700 anos, mas objecto de uma importante renovação, dirigida pelo conceituado Pierres Vedel, entre 1549 e 1551 — e uma vez mais já neste século, sob a responsabilidade de José María Sanz.

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