Fugas - Viagens

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De mão dada com os amantes

A torre de El Salvador, também restaurada pelo mesmo arquitecto, é um exemplo mais tardio do mudéjar turolense. Existem documentos assinados pelo bispo de Saragoça, de 1277, em que este autoriza a recolha de fundos para a igreja e o campanário, mas a torre está datada da segunda ou terceira décadas do século XIV. Tanto na sua estrutura como na arte decorativa, a torre é muito similar à de San Martin, com a diferença de que apresenta mais detalhes no seu exterior, bem como uma abóbada em cruzaria na passagem sob a mesma.

Não muito distante, um conjunto de grande complexidade, com oito séculos de existência: a bonita catedral de Santa Maria de Mediavilla, com o seu campanário mudéjar (1257-1258), o soberbo tecto em madeira decorado com elementos vegetais estilizados, geométricos e epigráficos de tradição islâmica, bem como o zimbório, assinado por Martín de Montalbán, também reconhecidos pela UNESCO já lá vão 30 anos.

À medida que a manhã avança, vai aumentando o número de turistas nas ruas até agora silenciosas. Passando sob a torre da catedral, desaguo na elegante Plaza Fray Anselmo Polanco, que acolhe a Casa de la Comunidad, agora transformada em Museo Provincial, e o Palacio de los Marqueses de Tosos; mais para lá, o Portal de San Miguel o La Traición (um dos dois sobreviventes — o outro é o de Daroca, associado à história dos amantes — da antiga cidade fortificada), e a muralha medieval (conserva ainda alguns torreões, entre eles o de Ambeles, com a sua planta em forma de estrela), de onde a vista se perde no horizonte antes de se fixar no Acueducto-viaducto de los Arcos, uma construção iniciada em 1537 (a obra mais emblemática de Pierres Vedel) para trazer a água desde a Peña del Macho, situada a quatro quilómetros, até à cidade.

Até essa altura, a recolha da água fazia-se através das cisternas medievais (duas delas abertas ao público) situadas no subsolo da Plaza Carlos Castel, na altura a Plaza del Mercado e nos dias de hoje vulgarmente conhecida como Plaza del Torico, onde agora me encontro, fitando o pequeno bovino que encima uma coluna e se projecta contra as casas de cores múltiplas perfiladas sobre arcadas que testemunham um passado glorioso. Todos os anos, em Julho, a praça acolhe uma multidão em clima festivo para viver intensamente a Vaquilla de Santo Ángel, o patrono da cidade, com largadas de touros, bailes, cortejos e o momento mais esperado, quando um vaqueiro coloca, com a ajuda da sua peña, um pano vermelho sobre o torico. Aquela que é considerada a festa mais popular de Teruel e que consagra a fundação da cidade, encerra, também ela, uma lenda que se perde na noite dos tempos: durante a Reconquista, e já depois de haver conquistado algumas praças importantes, Alfonso II dividiu o seu exército, levando com ele soldados para combater rebeldes nas montanhas de Prades e deixando outro grupo em Cella, próximo de Teruel, na defensiva. Desobedecendo ao soberano, as tropas seguiram um touro bravo que era acompanhado por uma estrela no firmamento, um touro que haviam visto em sonhos premonitórios e que era um sinal para estabelecer uma nova povoação. E assim se lançaram ao assalto da fortaleza, plantando o estandarte na praça conquistada.

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