Cidade “mimada”
E já que é de comida que falamos, façamos um parenteses para as sobremesas que Alexandra Rebelo esconde no fundo do Centro Comercial Ecovil (Rua D. Duarte), o primeiro a ser construído na cidade nos anos de 1980. Para encontrar a Donuts Artesanais, que abriu mesmo a tempo do Natal, quase diríamos que “basta seguir o cheiro”. Na pequena loja, o sabor não contradiz o odor: os donuts são leves na massa e criativos nos recheios e cobertura. Há oito por dia: “os de base”, aponta Alexandra, são os de caramelo, Nutella, açúcar e canela e o de doce de leite; entre os que vão rodando diariamente há alguns imprevisíveis, como os de chocolate e vodka ou os de caramelo salgado.
Alexandra, cozinheira tornada pasteleira, conta que “queria fazer uma coisa diferente e, ao mesmo tempo, mimar os clientes”. E mimo não falta na Chocolataria Delícia, de Manuela Soares e do marido chocolatier Ilídio Oliveira. Visual vintage baseado nas “lojas de antigamente”, abriu há três anos, mas o negócio já é antigo. Aqui, a vertente da loja e da fábrica encontram-se: paredes de vidro dão vista total para a parte de produção. Agora são ovos da Páscoa que se fazem; muita mais variedade está exposta. Desde bombons, tabletes (incluindo de fruta), as gomas e, piscadela de olhos aos mais antigos, os velhinhos ratos, carros, lápis, cigarros e rajás que enchiam as mercearias de outrora. Como a fábrica que os produzia faliu, Manuela e Ilídio compraram os moldes e agora também fabricam “tradição portuguesa”. “Faço por carolice, porque faz parte da cultura, é quase um dever cívico, mas perco dinheiro”, assume Manuela. Têm 67 receitas de bombons, diariamente a montra alberga entre 22 e 27: os “residentes” e as “edições limitadas”. O best of é o de coulis de framboesa, o preferido de Carla o de alecrim e flor de sal; já fizeram de urtiga, de gindungo e, claro, de Touriga Nacional.
Do Rossio à feira
Parenteses fechado para voltar à cidade “mimada”. Há cem anos, na Praça da República, mais conhecida como Rossio, abrigada por frondosas tílias, era inaugurado o novo edifício dos Paços do Concelho, obra neoclássica iniciada no século XIX e arrastada para além da queda da monarquia. Esta convulsão histórica levou, aliás, a (mais) atrasos na sua conclusão, nomeadamente na selecção dos 24 “notáveis” de Viseu cujos retratos ornamentam o tecto sobre a escadaria dupla. O Rossio, ainda hoje a sala de visitas da cidade, simboliza a Viseu cosmopolita que se começou a desenhar em finais de oitocentos, libertando-se dos constrangimentos do centro histórico.
E não há melhor local para falar de cosmopolitismo em Viseu do que aqui, com vista para a casa do capitão Almeida Moreira (agora museu), já a caminho, novamente, da cidade medieval — em direcção à Porta do Soar (intervenção de Mariana, a Miserável, logo depois). Almeida Moreira foi uma figura “maior do que a vida” e Viseu disso beneficiou: fundou o Museu Grão Vasco, promoveu o ajardinamento de vários espaços de Viseu e foi o pioneiro da promoção da cidade como destino turístico, por exemplo.