Mas nem só os turistas, também transeuntes, passageiros, e sobretudo funcionários dos caminhos de ferro, chegam a ser exuberantes nas manifestações de encanto e admiração. É assim em todo o percurso de ida e volta até ao Pinhão.
As assistentes, com fardas ao estilo de época, conduzem os participantes aos respectivos aposentos. Dos materiais à decoração, é evidente a qualidade do restauro em todo o comboio. O design apurado de estilo clássico nos candeeiros, madeiras ou puxadores, remetem para o critério e luxo de então. O ambiente foi aromatizado, com fragrâncias que evocam o Douro e as vinhas, a Casa da Música responsabilizou-se pela melodia de fundo e Serralves pelos livros que à entrada de cada carruagem os passageiros têm à disposição. Viagens, Douro e o glamour clássico dominam as temáticas.
Com o início do andamento todos têm na mão um copo de rosé para acompanhar o shot com sopa de champanhe e minisanduíche com caviar que são as boas-vindas do chef. É já no salão restaurante e sentados à mesa que ecoam os primeiros uau! A composição começa a aproximar-se do nível das águas e a confluência do Tâmega com o Douro impõe um cenário que deslumbra naturalmente.
Entre admiração e encanto, as manifestações hão-de multiplicar-se ao ritmo da maior ou menor aproximação às águas, à passagem pela foz do Bestança, Caldas de Aregos, Rede ou à vista da imponência dos terraços vinhateiros das grandes quintas que se esticam nas encostas do rio até ao Pinhão.
Entre a habitual equipa do Vila Joya, os jovens alunos da Escola de Hotelaria do Porto até parecem há muito andar nisto e nem à força de solavancos o rigor do serviço se perturba ou altera. São servidos vinhos da casa Niepoort (Diálogo Rosé 2014, Redoma Reserva 2014, Bioma 2012 e o fortificado Moscatel do Douro 2000) que acasalam de forma superior com o menu que o chef Koschina adaptou às condições do comboio.
Começa com peixe-rei (Hiramasa), couve-flor, gengibre e soja; segue-se o lavagante tristão, com manga, papaia e caril; e culmina com bochecha de porco ibérico, com cevada, chouriço e gamba. A sequência leva-nos até lá do Peso da Régua e a sobremesa — creme de açafrão, com pistáchio e laranja sanguínea — será servida na volta, com vinhos fortificados, whiskies e aguardentes.
Não fosse o ritmo, o espaço e o correr da paisagem e tudo pareceria recriado ao estilo e rigor das duas estrelas do requintado restaurante de Albufeira.
“Experiência única ”
Chegados à estação do Pinhão, os passageiros são acolhidos no renovado Vintage House Hotel (agora propriedade do grupo Taylor’s), de onde partem depois para a Quinta da Roêda. Visitar a vinha, conhecer os processos de criação dos vinhos do Porto, provar e beber o ambiente da região vinhateira classificada pela UNESCO. Sempre rodeados pelo Douro e a sua imponência histórica.
Entre a sobremesa, as bebidas e atenção às paisagens, as conversas recrudescem no regresso ao Porto. É tempo de Dieter Koschina vir ao salão-restaurante receber entusiásticos aplausos e confessar a sua rendição à iniciativa: “O Douro é excepcional. Então neste comboio, uau! Um rio natural, não há infra-estruturas industriais, e tirar este comboio do museu é uma coisa maravilhosa, espectacular, e uma experiência única no mundo.”