As cataratas de Niágara podem ser uma desilusão, mas só se deixar que assim seja. Se já teve a oportunidade, por exemplo, de estar em Iguaçu, a comparação entre as selvagens e gigantescas cataratas na fronteira entre o Brasil e a Argentina podem arrancar-lhe um suspiro de desapontamento ao ver as cataratas entre a província de Ontário e o estado de Nova Iorque — o mesmo é dizer entre o Canadá e os Estados Unidos da América. Mas não seja assim. Olhe bem para elas, Niágara ainda é capaz de o encantar.
Primeiro, as cataratas estão mesmo no meio da cidade — e isso não tem que ser mau. Pode percorrer a alameda bem cuidada que acompanha todo o percurso das duas cataratas (a americana e a canadiana) e lá ao fundo, bem junto da maior das duas brutais quedas de água, a canadiana, vai ser difícil não sentir toda a sua força, com os salpicos de água que caem constantemente sobre o passeio, encharcando-o e a quem lá estiver (e vai estar muita gente, acredite).
Depois, já reparou naquela cor verde esmeralda que a água tem? É muito bonita, quase hipnótica, assim como a potência impressionante dos milhões de litros de água que caem brutalmente sobre a superfície lá em baixo, no seu percurso entre os lagos Ontário e o lago Eerie. E, se puder, por favor, vá ver as cataratas à tarde num dia de sol. A posição do astro vai oferecer-lhe um nunca mais acabar de arco-íris, aos pedaços ou num arco perfeito, que só podem mesmo arrancar-lhe um sorriso. À noite, as cataratas iluminam-se com feixes de luzes coloridas projectadas sobre a sua imparável correria. É uma experiência mais kitsch, mas se estiver por ali também vale a pena ver.
O que também pode não querer perder é um passeio num dos barcos que, diariamente, de quinze em quinze minutos, levam passageiros (mal) protegidos com um impermeável até à base da catarata canadiana. Vai encharcar-se, mas isso faz parte da diversão e poucos são os que optam por ficar na zona protegida do barco, em vez do convés superior, onde é garantido que vai ficar molhado.
Dito isto, as cataratas são apenas uma das atracções da península em que a água e as vinhas tomam conta da paisagem. A cidade de Niágara pode parecer uma versão um bocado foleira de uma liliputiana Las Vegas (o que, vá, também pode ser divertido, se estiver com o espírito certo), mas a poucos quilómetros de distância, Niagara-on-the-Lake é uma das mais bem preservadas vilas norte-americanas do século XIX e percorrer as suas ruas bem tratadas, carregadas de árvores, flores e casas com painéis de madeira, até à margem do lago Ontário, é um belo passeio e uma boa forma de fugir aos milhares de visitantes que espreitam, incessantemente, para as cataratas.
Outra atracção líquida, também marcando a fronteira entre Ontário e o estado de Nova Iorque, é a região das Mil Ilhas. Situada na área onde o rio St. Lawrence está quase a encontrar-se com o lago Ontário, a zona tem cerca de 1700 ilhas, algumas tão pequenas que não comportam mais que uma casa e um pequeno jardim. Há várias actividades que pode querer fazer, mas uma das mais procuradas é um cruzeiro que o leva através daqueles pedaços de terra cheios de moradias (onde apostamos que não se importaria de passar algum tempo) e outras tantas histórias para contar.
As Mil Ilhas têm um toque romântico e, talvez por isso, também têm uma ilha-coração, com um castelo e tudo. Mas não se anime demasiado. Estamos a falar de uma tragédia, não de uma comédia romântico.
O castelo Boldt foi construído no início do século XX, pelo milionário George Boldt, para a sua mulher Louise. Mas a construção, iniciada em 1900, foi interrompida quatro anos depois, quando Louise morreu. Destroçado, Boldt nunca mais regressou ao local, que acabou abandonado, antes de ter sido recuperado e estar agora aberto a visitas e eventos.
Atenção: o castelo já está situado do lado norte-americano, mas se não sair do barco não vai ter problemas.
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