Fugas - Viagens

  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda

Continuação: página 2 de 9

Dentro de uma Rússia há sempre outra Rússia

O venerado Teatro Bolshoi, com a sua imponente fachada, prende-se ao olhar mas avançamos logo a pé para o coração russo, esse outro centro do mundo, a Praça Vermelha. Quando chegamos, a praça está cortado ao meio por… obras. Pelo menos temporárias, já que está a ser montada a feira do livro. Entre os operários, de um lado brilha ofuscante a Catedral de São Basílio, chamas multicoloridas soltam-se das suas cúpulas-cebola encimadas pelo dourado-ouro. No outro lado, o Museu Histórico do Estado, vizinho da pequena e icónica Catedral de Kazan, destruída por Estaline e reconstruída pós-URSS.

Na lateral, penetramos pelas infinitas galerias comerciais GUM. “Noutros tempos, todos os soviéticos sonhavam vir aqui às compras”, diz Elena. Agora talvez todos os russos também sonhem, mas as “galerias do povo” são agora galerias de todas as Prada e Vuitton deste mundo. Lá centro cintila dinheiro. Chocam-se os tempos, chocam-se os poderes. Estar na Praça Vermelha e olhar em redor explica-nos muita coisa do poder: Igreja, Estado, Dinheiro. Entre tantos santos, o poder encontra-se com a memória no túmulo de um outro “santo”, uma espécie de pirâmide a vermelho-sangue e negro-luto: é o Mausoléu de Lenine, onde temos direito a alguns segundos em redor do corpo mumificado do líder da Revolução, no seu eterno e silencioso descanso apenas perturbado, claro, pelos turistas. Logo atrás, à muralha do Kremlin, fica um panteão de figuras dos tempos soviéticos, incluindo Estaline, relegado pela História a singelo túmulo e busto. Com os olhos no passado e no presente, fica-nos a questão: que fará a História com os líderes actuais?

Nem de propósito, vamos à casa do Presidente, figura tão popular e controversa como o serão os souvenirs com o seu rosto (t-shirts, canecas, ímanes, é escolher). Entramos pelo Kremlin, que, lembre-se, não é apenas sinónimo da presidência russa: kremlin vem de fortaleza (cada velha cidade russa tem o seu) e é onde a cidade começou no século XII — são 250 mil m2 entre muralhas de 20 metros de altura). Não veremos o Presidente mas espiamos a casa presidencial, o Grande Palácio do Kremlin, bem cercada por agentes que não nos deixam pôr pé em falso e sair do caminho. “Depressa, depressa”, gritam, com o ar mais maldisposto que vimos em toda a viagem. Tirando isso, o Kremlin é uma paz que sobreviveu a tudo, se bem que agora, quase a baterem as cinco da tarde, parece tremer por duas multidões inversas: a dos turistas e a dos muitos trabalhadores que estarão a terminar a jornada — e não deixa de ser marcante ver o Kremlin cheio de operários…

Dentro das muralhas (sendo o complexo de acesso pago), é passear pés e olhos pela dúzia de catedrais e palácios, incluindo os do Patriarca, o líder ortodoxo, um museu das artes, e os do Estado, que recebe espectáculos, ou o Terem, com as suas 11 cúpulas e o Arsenal, museu das riquezas czares. Da Catedral da Assunção — cuja magnitude advém do século XIV, luxo policromático e dourado onde o poder era coroado e os patriarcas da igreja eram enterrados — à Catedral da Anunciação ou do Arcanjo, onde até os olhos se levantam perante a tumba levitada de Dmitri, o filho assassinado de Ivan o Terrível — cujo túmulo também está aqui mas não se pode ver —, considerado anjo e por isso não enterrado sob a terra. Por todas, uma miríade de frescos e ícones. E que dizer de colossos tão singulares quanto o maior sino do mundo (quebrado por sinal) ou o maior canhão do mundo? Não diga nada e faça como toda a gente, faça-se a foto (até, prova provada, este vosso escriba tirou uma foto acompanhado por dois agentes de segurança do Kremlin, mais ou menos satisfeitos com a ideia…).

--%>