Fugas - Viagens

  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda

Continuação: página 3 de 9

Dentro de uma Rússia há sempre outra Rússia

Saímos por entre jardins que Elena nos garante estarem sempre viçosos só para descobrirmos mais jardins de encher o olho, Jardins de Alexandre (o czar), espectáculo público monumental, matematicamente delineado entre mármore, verde e flores, com fontes e estátuas saídas das lendas. Com o calor que está não é de admirar que algumas crianças mais ariscas mergulhem a bom mergulhar no canal cruzado por pontes. Ali ao lado, outro monumento mais introspectivo, com as suas chamas e guarda de honra eternas — haveremos de voltar, nós e umas centenas, para acompanhar a cerimónia de mudança de guarda (é a cada hora certa) do Túmulo do Soldado Desconhecido, homenagem aos soldados soviéticos mortos na Segunda Guerra Mundial. Pode haver muitas opiniões, mas no ar sente-se o (também nosso) respeito por quem deu a vida para derrotar o exército nazi.

Em visita panorâmica, passamos os olhos do Palácio dos Romanov ao Museu Pushkin e pelo assustadoramente sólido edifício do ex-KGB. Paramos frente à única estátua resistente de Karl Marx, onde um bloco de granito reza “Trabalhadores do mundo, uni-vos”. Já houve discussões para retirá-la… Sinais dos tempos, como o são dois monumentos quase frente a frente, cada um do lado do rio. Descemos à Catedral do Cristo Salvador, branca que transluz com as essenciais cúpulas douradas a chamar-nos. O interior não desilude: parece tamanho do céu, poderosa, repleta de tesouros. É verdadeiro símbolo do regresso do poder da Igreja após o comunismo: tendo sido construída no século XIX, foi destruída de alto a baixo a ordens de Estaline no século XX. No ano 2000 foi inaugurada como nova, levantada do chão e da História. É ver para crer.

Do outro lado do rio, outra reinvenção: passada a bela ponte do patriarca, é descer as escadas para a esquerda e entrar no “ilhéu” (Bersenevskaya) da antiga Fábrica de Chocolate Outubro Vermelho, que tantas alegrias deu à pequenada. Toda a zona está em transformação e é um manancial de lojas, restaurantes, bares, galerias de arte, ginásios, empresas de media e artes (e apartamentos topo de gama) — incluindo o Strelka, Instituto para Imaginar o Futuro, organização não-governamental que quer revolucionar a cultura urbana. Por nós paramos no Primitivo, restaurante e bar de vinhos. Entre dois copos, descansamos enquanto olhamos para trabalhadores em actividade à frente de um grande grafitti galáctico, focado num astronauta de corpo inteiro.               

Ainda teremos tempo para um tour pela Moscovo nocturna, entre as luzes do skyline do bairro financeiro à iluminação eterna de memoriais como o da Grande Guerra Patriótica. E há que descer às profundezas do metro de Moscovo, atracção por si só, corrente de estações monumentais, reais galerias de arte, compostas de escadas rolantes quilométricas e corredores a chão polido, estátuas e esculturas, relevos e pinturas, lustres, frescos temáticos, azulejos e espigas de cerâmica, deusas humanas com armas da lavoura, soldados, operários, archotes de ouro. Quando deslizámos numa escada rolante e toca um instrumental do Tico Tico no Fubá até viajámos no espaço e tempo.

--%>