Fugas - Viagens

  • Miguel Manso
  • Miguel Manso
  • Miguel Manso
  • Miguel Manso
  • Miguel Manso
  • Miguel Manso

Continuação: página 3 de 6

Em Salem o difícil é não acreditar em bruxas

O Witch History Museum (existe também o Salem Witch Museum) intromete uma banca no meio da rua, chamando visitantes para as “histórias escondidas de 1692”, com representações em tamanho real dos momentos-chave da caça às bruxas; e o Peabody Essex Museum (PEM) chama visitantes pela sua fachada moderna (autoria de Moshe Safdie, que ampliou o antigo edifício, combinando o tradicional tijolo com vidro) e pelas exposições que anuncia — Rodin é o cabeça de cartaz de Junho (quando por lá passámos), num museu que remonta a 1799, ano de fundação da Sociedade Marítima da Índia Oriental por capitães e armadores de Salem que navegaram até ao Oriente. Foi essa sociedade comercial que decidiu criar um “gabinete de curiosidade naturais e artificiais” com objectos trazidos desse vaivém comercial longínquo que entretanto se transformou num museu com uma colecção de 1,8 milhões de obras (pintura, fotografia, escultura, têxteis, arquitectura, desenhos, artes decorativas), divididas em vários núcleos — arte indiana, chinesa, japonesa coreana, africana, nativo-americana, americana, da Oceânia, história e arte marítima — que não estão expostas em permanência. Um dos mais curiosos “objectos” do acervo do PEM é uma casa de mercadores (a família Huang, que aqui viveu durante 200 anos) da dinastia Qing que veio do sudoeste chinês para ser reerguida nas traseiras do museu — as surpresas de Salem não vêm só das artes ocultas.

É diante do PEM que se ergue o Salem Visitor Center: muito mais loja do que posto turismo. Conseguimos um mapa gratuito — e, por isso, bastante esquemático — que abrimos na praça diante do centro, um dos sinos “de” Paul Revere (herói da Revolução Americana que se transformou em fundidor de sinos depois da independência) a olhar para nós e caça-turistas a incentivar-nos a entrar em autocarros que prometem a autêntica Salem em 90 minutos. Temos pouco mais do que esse tempo, mas arriscamos andar por nossa conta. Nem que isso implique refazer todo o caminho até aqui, com uma escapada até Old Town Hall (de 1816 é o mais antigo edifício público da cidade), no centro de uma pequena praça rodeada de edifícios por todos os lados, que no rés-do-chão, antigo mercado, alberga uma galeria pública de arte, para chegar à Essex Street não pedonal.

Agora a direcção é a oposta e os objectivos claros: primeiro — a witch house, a casa da bruxa, que na verdade era a residência de um dos juízes no julgamento de 1692 e é o único edifício relacionado com esse processo ainda de pé; segundo, o McIntire Historical District. Apesar de termos o “trilho vermelho” — a marcar o percurso turístico — aos pés, passamos a “casa da bruxa”, numa esquina e pequeno relvado, sem nos apercebermos, apenas nos detendo pela curiosidade da arquitectura colonial a quebrar a monotonia do tijolo: madeira cinzenta escura, telhados negros, inclinados, com empenas, e chaminé frontal proeminente. Seguimos, portanto, embrenhando-nos muito superficialmente, no bairro histórico que é uma enciclopédia de arquitectura de Salem e dos EUA, em ruas residenciais pacatas e arborizadas de um charme iniludível.

--%>