Fugas - Viagens

  • Aarhus Capital Europeia da Cultura
  • Aarhus Capital Europeia da Cultura
  • Aarhus Capital Europeia da Cultura
  • Aarhus Capital Europeia da Cultura
  • Aarhus Capital Europeia da Cultura
  • Aarhus Capital Europeia da Cultura

Continuação: página 3 de 5

Aarhus: A Dinamarca não é só Copenhaga

A herança viking

Um dia, já com o sol atirando os seus raios sobre a Terra, visitei Moesgård e o seu museu abrigado numa mansão que nos remete para a aristocracia do século XVIII, um museu que erra pelo tempo da mesma forma que um viandante erra pelo mundo — nele nos tornamos menos ignorantes, nele aprendemos e apreendemos mais sobre a Idade da Pedra e a Era Viking, nele observámos, com espanto, o homem de Graballe, esse corpo intacto e tão completo que foi resgatado de uma zona não muito distante e pantanosa, um corpo que remonta ao ano 55 a.C., alegadamente submetido a uma morte ritual, provavelmente menos violenta do que a que enfrentaram outros quatro corpos encontrados nas proximidades, dois deles femininos e nus, à excepção de um gorro de pele que um deles ostentava na cabeça.

No mesmo museu, em Moesgård, mas no topo do edifício, terá lugar um dos momentos altos do programa da cidade para o ano que agora começa — o Røde Orm, uma extraordinária saga viking que é o resultado de uma colaboração que envolve o Teatro Real Dinamarquês, o Museu Moesgård e a organização do Aarhus 2017. A performance baseia-se numa lenda viking que certamente irá seduzir muitos dos visitantes e residentes e é considerada pela organização como uma das maiores manifestações culturais a céu aberto a que alguma vez a Dinamarca assistiu. Sob a direcção de Frede Gulbransen, Røde Orm é uma adaptação do romance clássico de Frans G. Bengtsson feito por Henrik Szklany, durante a qual a assistência irá seguir, de forma entusiástica, Orm, o protagonista que em criança foi tornado prisioneiro e mantido como escravo num barco viking. A peça acompanha o percurso de Orm e enfatiza o seu temperamento ao ponto de ser aceite, ainda que de forma gradual, como um dos membros da tripulação, uma coexistência que marca apenas o início da sua aventura através da Europa e do Médio Oriente, até essa longa jornada o devolver, tempos mais tarde, ao castelo de Jelling, antes de criar inimigos e amigos — e sem esquecer uma ou outra paixão.

Gosto de escutar esta música, imaginando o silêncio à minha volta: “There is a black river/ It passes by my window/ And late at night/ All dolled up like Christ/ I walked the water/ Between the piers/ Singing/ Oh/ River of sorrow/ river of time, river/ River of sorrow/ Don’t swallow this time”.

Anthony and the Jonhsons, agora transformado em Anohni, é o artista residente de Aarhus enquanto capital europeia da cultura, o artista que também deseja evoluir, como a cidade que cria projectos como Coast to Coast, como Water Music, como Aarhus Story, como River Art 2017, como festivais de literatura infantis, com temáticas como “O que seria se algum dia as mulheres mandassem no mundo”, como The Journey, uma iniciativa que fica a martelar no meu cérebro, porque The Journey é também uma viagem, um itinerário que, organizado pelo Moesgård Museum e o Filmby Aarhus nos conduz, desde a tenra idade, da Dinamarca até África, depois até ao Sul da América, mais tarde ao encontro da Oceania, à América do Norte, ao Pólo Sul e, finalmente, à Àsia — porque todos somos seres humanos, porque há sempre algo de humano em nós, porque a viagem, a de Aarhus e a da vida, é feita de amor, de crenças, de receios, de sentimentos de perda e, por fim, uma vez mais porque somos todos humanos, de morte.

--%>