Fugas - Viagens

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Albarracín, como um conto de fadas

 

Sem perdão

 

Aos Azagra se deve, de facto, a criação de um episcopado dependente de Toledo e, em face desta política visando a independência, deixando um navarro como senhor de Albarracín, um eventual ataque aragonês motivava a defesa destas terras por parte das tropas castelhanas. Mas, finalmente, em 1248, com a aliança entre os soberanos de Albarracín e os franceses, Pedro III de Aragão patrocinou uma declaração de guerra contra os primeiros. Reza a história que, uma vez mais, a defesa de Albarracín foi digna de heróis mas não impeditiva de uma capitulação – ainda assim, Aragão, temendo a confrontação com Castela, resolveu manter a independência da cidade.

Albarracín teimava em resistir, à chegada dos Reis Católicos, à ambição de Felipe II – e, juntamente com Teruel, foi a única cidade que enviou as suas tropas para apoiar Juan de Lanuza, que se incumbia de enfrentar o monarca, não recebendo, tal como Teruel, o perdão real. Só mais tarde, já com Felipe V, Albarracín teve de admitir a autoridade do rei e, em consequência, perder os seus foros e uma independência que garantira já no século XI.

Subo ao castelo, ou ao que resta dele, sobre um penhasco e recortando-se no centro da antiga medina. Dali, nas alturas, tenho uma panorâmica privilegiada e procuro correr com o olhar, como quem percorre um livro com um dedo, as casas, os palácios, as igrejas que mais me cativaram: o palácio de los Navarro de Arzuriaga, o dos Sánchez Moscardón, o dos Monterde y Antillón, a casa dos Dolz Espejo, a dos Martinez Rubio, a de la Comunidad, a dos Pérez de Toyela e, para lá da catedral, o casarão dos Martínez Marcilla, da família de um dos protagonistas dessa bela história de amor de que nos fala a lenda dos Amantes de Teruel.

Desço até à Plaza Mayor, onde até ao século XI se observava o fosso da muralha, apagado do mapa da cidade quando Ibn-Razin se decidiu pela ampliação da cidade. Mas o charme continua intacto, destaca-se o edifício camarário mas também a arquitectura popular do espaço, agora, neste domingo de sol, mais popular pelas tapas e as cervejas que exacerbam a felicidade de quem um dia visitou Albarracín.

Sinto que, ao desfazer mais uma curva, agora para norte, em direcção à nascente do Tejo, a tentação será mais forte do que eu – e uma vez mais, mesmo que seja a última, vou olhar para trás, para o casario, para a muralha que ameaça tocar o céu, com pena, como uma criança, de ver chegar ao fim um bonito conto de fadas.  

 

Guia prático

 

Quando ir

Albarracín goza de um clima quente e temperado e, na prática, pode ser visitada em qualquer época. Janeiro é, em média, o mês mais seco ao longo do ano e um dos mais frios (a queda de neve é sempre uma possibilidade a ter em conta), Maio aquele que regista maior precipitação e Julho o que apresenta as temperaturas mais altas.

Caso visite a cidade em Setembro, não perca a oportunidade de assistir às festividades em honra de Santa María de Oriente, um longo fim-de-semana de actividades que englobam desporto, música, dança e o guiñote, um jogo tradicional de cartas de Aragão. A festa da padroeira de Albarracín servirá também de pretexto, este ano, para a reabertura da catedral de El Salvador, após mais de seis anos de restauros. No entanto, ao longo do ano não faltam os eventos culturais, divididos entre exposições, recitais de piano, concertos, seminários de música clássica, fotografia e pintura, entre outros – a Fundación Santa María de Albarracín, criada há 20 anos, terá todo o prazer em fornecer-lhe uma lista detalhada dos mais importantes acontecimentos.

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