Fugas - Viagens

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Albarracín, como um conto de fadas

 

Grita Liberdade

 

Quem conhece um pouco das raízes de Albarracín, dessa fortaleza inexpugnável, não terá dificuldade em explicar por que razão El Cid Campeador esteve perto de encontrar a morte nestes territórios em que a luta pela liberdade, beneficiada pela localização estratégica, sempre se afigurou como prioritária aos olhos daqueles que os foram habitando desde tempos ancestrais. Não há documentos que provem as origens de Albarracín mas sabe-se que estas terras, tantas e tantas vezes disputadas, já eram povoadas na pré-história, uma realidade que é testemunhada pelos valiosos vestígios de arte rupestre que se podem ver em redor da cidade, como na “Paisaje protegido de los Pinares de Rodeno de Albarracín”, a sudoeste da serra e ao longo da estrada que nos conduz a Bezas, bem como no Prado del Navazo (com um património rico que terá uma existência superior a oito mil anos), na Masada de la Losilla (com quatro dezenas de figuras na gruta de Doña Clotilde) e no Barranco de Arriuelo (um equídeo com cerca de meio metro desenhado numa parede). 

Quando erro pelas suas ruas silenciosas, aqui e acolá escutando sons que parecem distantes e gozando de uma visão inquietante, espero que as paredes das casas me contem histórias de um outro tempo, mais longínquo ainda, dessa batalha de Guadalete, corria o ano 711, tão associada às origens de Albarracín, quando um  grupo berbere que integrara o exército de Tarik se terá estabelecido nestas paisagens a mando da tribo de Ibn-Razin. Há quem jure que, inspirados pela facilidade de defesa em caso de ataque, rapidamente estenderam a sua influência a outros pontos da serra, um domínio que permitiu criar, já no século XI, uma taifa, com Abu Mohamed Hudail como primeiro soberano.

Albarracín, com pouco mais de mil habitantes, é uma cidade que convida ao passeio, o mais demorado possível, como o conto de fadas que a criança vai ouvindo com todos os sentidos despertos. É louvável o gosto dos seus habitantes, a preocupação em evitar atentados à sua estética tão singular e em manter, tanto quanto lhes é possível, o espírito medieval que emana das suas ruas e vielas, das suas casas senhoriais do século XVIII, da sua arquitectura popular, feita de pedra e madeira, sem imponência e aparentemente na presunção de que todos eram iguais.

Em Albarracín, os olhos têm de imitar a muralha – há que olhar para cima, quase sempre, à procura das varandas de ferro forjado, das casas que bordejam as ruas e praticamente se tocam, de outras que se aninham como quem receia o frio. E, depois, para dar um pouco de descanso ao pescoço, sabe bem fitar as portas das casas e, mais do que as portas, os batentes, verdadeiras obras de arte, até que outras portas se abrem e, uma vez no interior, tanto na Casa de la Brigadiera, levantada no século XVII, como na Casa de la Julianeta, cuja imagem foi utilizada num cartaz promocional de Espanha pelo extinto ministério de Informação e Turismo, se percebe que Albarracín é toda ela, no seu conjunto, uma obra de arte.

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