Fugas - Viagens

  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha

Continuação: página 2 de 3

Um mergulho na floresta

O que nos acontece quando estamos em espaços verdes? Baixa o cortisol (uma hormona da família dos esteróides, que funciona como um indicador do stress), diminui a pressão arterial, baixa a condutância da pele (a pele emite sinais quando se está sob tensão ou emoções fortes). Por outro lado, as emoções mais positivas levam a maior atenção e concentração; sentimento de revitalização e menor percepção de cansaço; menos stress e fadiga mental; melhor humor (redução da tensão, raiva e depressão) e melhor auto-estima, enumera Ana Loureiro.

Pode até nem ser preciso passar um dia inteiro na floresta para que a presença de ambientes naturais – um parque no bairro, árvores nas ruas, plantas em casa ou no escritório - tenha “um efeito positivo na saúde psicológica, proporcionando mais bem-estar”, adianta a psicóloga ambiental. Segundo vários estudos, as simples imagens (fotografias ou vistas da janela) em espaços de saúde resultam em recuperações mais rápidas e atenuação de dores.

Língua de fora

Por enquanto, só há no país duas pessoas a fazer os “banhos de floresta” certificadas pela Association Nature and Forest Therapy (ANFT): Alex Gesse e Maria do Carmo Stilwell, os dois guias que organizaram este passeio pela mata dos Medos (também os fazem na serra de Sintra). Maria do Carmo está ligada à organização de eventos, mas há 15 anos que desenvolve actividades relacionadas com o mindfullness; Alex trabalhava numa multinacional como avaliador de investimentos em start-ups, em Barcelona, até perceber que queria fazer outra coisa da vida. Criaram a Shinrin-Yoku Portugal depois de terem ambos feito uma formação em shirin-yoku na Irlanda, dada pela ANFT, durante a qual se conheceram.

Maria do Carmo chama várias vezes a atenção para o facto de esta imersão ser “uma medida de saúde pública”. “Há libertação de óleos essenciais [das árvores] que ajudam a criar defesas.” Para além disso, “o cérebro viveu aqui quatro milhões de anos”, o que explica a sensação de conforto e pertença.

O passeio vai sendo pontuado por “convites” - instruções que Alex nos dá para “despertar os sentidos e abrandar o ritmo, sentir a presença”, afirma o catalão. Depois, fazem-se os conselhos: o grupo junta-se em círculo, todos a olhar para todos, e partilha-se a experiência individual (numa herança das culturas indígenas, explicam os guias). “Às vezes ficamos um bocadinho isolados nas sensações que temos”; a partilha pretende romper esse isolamento. No fundo, será a comunhão dos onze passeios diferentes que necessariamente resultarão daqui – um por cada participante.

Como os grupos não são todos iguais (podem ser escolas, ou empresas, que querem trabalhar um aspecto específico como criatividade ou espírito de equipa, por exemplo), os convites focam-se em aspectos diferentes consoante os passeios. Mas os mais “básicos” serão aqueles que são orientados para “despertar os sentidos e desacelerar, ou evidenciar algum dos sentidos em particular – a vista é geralmente mais usada e apaga os outros. Aqui vamos despertá-los um a um”, explica Alex. “É uma ferramenta que pomos nas mãos das pessoas. Começas a ter experiências novas, que geram vários processos internos e externos.” Maria do Carmo acrescenta: “A cobertura das árvores cria uma protecção e uma envolvência que ajuda as pessoas a virarem-se para dentro.”

--%>