Tudo começa e acaba num círculo. O começo: onze pessoas e um pau ao centro, que será tomado por quem quiser falar. Cada um descreve a “sua” árvore. E haverá quem diga que escolhe a oliveira, porque nos dá azeitonas e azeite, e quem diga que escolhe a floresta, porque não consegue separar a parte do todo.
O que vamos fazer a partir daqui é precisamente “mergulhar” no conjunto e tentar separar as partes. Primeiro tentar esquecer a vista, o sentido que se impõe aos outros, e atentar aos sons, aos cheiros e às texturas. Ver a floresta com as mãos e com os ouvidos, saboreá-la com a língua de fora, levá-la ao fundo dos pulmões.
Estamos na Mata dos Medos (perto da Fonte da Telha, no concelho de Almada). Chama-se assim porque medos (deve ler-se médos) é outro nome dado às dunas. A mata foi mandada plantar por D. João V, no século XVIII, para evitar que as areias invadissem os terrenos agrícolas a leste. São 340 hectares de pinheiros, aroeiras, perpétua-das-areias, camarinhas, medronheiros, com o som do mar em fundo. No site da Câmara Municipal de Almada podemos ler estas indicações sobre o local: “Com sorte, vai poder admirar o voo sereno da águia de asa redonda, a coruja do mato, o mocho galego e o peneireiro. Mais raras são as visitas do falcão peregrino, açore e águia de bonelli. No chão, procure vestígios da passagem da raposa, dos ouriços-cacheiros, coelhos, ginetes, texugos e répteis.”
Não tivemos sorte, aqueles animais ficaram escondidos. Mas nada se perdeu na proposta que Alex Gesse e Maria do Carmo Stilwell lançaram – mergulhar na floresta, caminhando sobre areia.
Os japoneses (exímios em arranjar etiquetas para tudo) cunharam o termo shinrin-yoku, que traduzido à letra significa “banho de floresta”. É uma prática que aparentemente pode parecer trivial mas que vendo bem se afastou do quotidiano de uma grande parte da população mundial: estar em contacto com as árvores. O Governo japonês adoptou-a nos anos 1980 para tentar baixar os níveis de stress da população urbana e faz agora parte dos cuidados preventivos de saúde. Do Japão, a prática passou para Los Angeles e dali para o resto do Ocidente.
Intuitivamente, saberemos que o contacto com a natureza nos faz bem. A socióloga Luísa Shmidt, do Instituto de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Lisboa, refere à Fugas que quando num estudo, apresentado em Setembro de 2016, perguntou a 1500 portugueses que mudanças nas actividades de lazer foram trazidas pela crise, a frequência de parques e jardins sobressaía da lista: mais 17,6% do que antes, o que significa um aumento superior ao de qualquer das outras actividades listadas. “Foi uma forma de encontrar compensações. Os portugueses deixaram de ter tantas possibilidades de ir para centros comerciais para passar a frequentar espaços públicos gratuitos.” A viragem manteve-se, porque se “verificou que se retira prazer e bem-estar do contacto com espaços verdes”.
A psicóloga ambiental Ana Loureiro, professora auxiliar da Universidade Lusófona e investigadora no Copelabs, confirma: “Há estudos que mostram que os ambientes construídos, por terem maior complexidade, tornam-se mais geradores de stress. Ou pelo menos não proporcionam tantas emoções positivas como os ambientes naturais.” A explicação tem a ver com a própria evolução humana: “A espécie desenvolveu-se em ambientes naturais, considerados mais seguros (mas também há pessoas que sentem mais ansiedade e medo nos espaços naturais). São ambientes mais simples, com menos carga de informação para processar ao nível cognitivo.”