No entanto, nas últimas décadas, “sociedades tão ricas culturalmente como a portuguesa e a espanhola têm-se vendido a modelos de vida puramente norte-americanos, corporativistas, economicistas”, defende o especialista espanhol de 59 anos, vegetariano há 42. “Quando não sabemos de onde vem tudo o que se come, há um desenraizamento social, perdem-se as referências”, reitera. Há que recuar, voltar “a interligar a rede humana que a globalização está a destruir” e a “respeitar os ciclos da natureza”. Um passo de cada vez.
Primeiro, enumera, há que reconhecer “que a alimentação é uma das bases da saúde” e procurar aquilo que, dentro do contexto de cada um, é “mais acessível economicamente e mais fácil de alterar” nos hábitos alimentares. A escolha pode recair na compra de produtos biológicos cultivados nos arredores da localidade onde se reside – apoiando os pequenos produtores e contribuindo para a economia local, ao mesmo tempo que se diminui a pegada ecológica. Ou na criação de uma pequena horta, na varanda ou no quintal.
Manjericão, a “alegria da horta” – e outras dicas úteis
No livro A Horta-Jardim Biológica, editado em Portugal pela ArtePlural Edições, Mariano Bueno e Jesús Arnau revelam inúmeras dicas práticas sobre agricultura biológica, como cultivar em espaços pequenos ou quais as vantagens em ter uma “horta-jardim”. Fundamentalmente: ter um espaço verde que funcione como um “equilíbrio das duas partes do ser humano”, com uma “horta que alimenta o corpo e um jardim que alimenta o espírito”.
Outra das vantagens é aproveitar as “sinergias” que se criam entre algumas plantas e que tornam todo o conjunto mais saudável, viçoso e produtivo. Nesse campo, nenhuma é mais “sociável” que o manjericão. “Estudos científicos comprovam que é anti-depressiva e melhora o humor. Em Espanha, dizemos que é a alegria da horta”. Para a pessoa que a cultiva e para as plantas que o circundam. “Crescem melhor, não há parasitas e tem um aroma muito agradável. É como uma pessoa muito alegre e simpática, que contagia os que a rodeiam”, descreve.
Além disso, a associação entre diferentes espécies hortícolas permite rentabilizar o espaço existente. Por exemplo, ter plantas altas junto ao perímetro do vaso ou do canteiro (como alho, alho francês ou tomateiros) e, ao centro, espécies de porte pequeno e redondo (alfaces, couves, rúcula), intercaladas com espécies de raiz (como as cebolas). Sem esquecer as aromáticas, como o tomilho, a sálvia, o alecrim, que têm propriedades medicinais e ajudam a temperar as refeições.
O essencial, defende, é que “a terra seja negra”, rica em nutrientes, com “muita matéria orgânica, muito composto”. Depois, o ideal é dar-lhe, de vez em quando, uma dose extra de “comida rápida”, mas natural: juntar húmus negro, “produzido pelas minhocas”, a um litro de água, agitar e “regar ou pulverizar directamente nas folhas”.
Quem tem – ou quer ter – uma horta na varanda, precisa ainda de ter em conta a exposição solar. Se o espaço recebe pouca luz, é possível “criar todas as plantas de folha”, como alfaces e couves, mas é melhor esquecer as plantas de fruto, como tomateiros e pimenteiros. “Têm de receber sol directo, senão caem as flores mas não frutificam”, indica. “Outro problema que detectámos quando se cultiva em vaso é o facto de se evaporar muita água por causa do sol. A planta sofre muito e não cresce bem.” Neste caso, a solução passa por instalar rega automática gota-a-gota ou plantar em hidrovasos (que podem ser adquiridos ou construídos a partir de garrafões – o livro ensina como).