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Nuno Ferreira Santos

Plantar uma horta é criar “vacinas contra a poluição”

Por Mara Gonçalves

Ter uma horta biológica, por mais pequena que seja, só traz vantagens, defende o especialista Mariano Bueno. É terapêutico, mais saudável e barato. E está longe de ser uma tarefa difícil.

“Quando comemos alimentos não ingerimos apenas nutrientes, também recebemos informação.” Para Mariano Bueno, especialista em agricultura biológica e autor do livro A Horta-Jardim Biológica, um guia repleto de dicas práticas que acaba de ser editado em Portugal, esta é uma das razões fundamentais para, há mais de 40 anos, fazer a apologia do consumo de produtos biológicos produzidos localmente. Sermos nós próprios a plantá-los é apenas somar vantagens.

É que as plantas reagem ao meio envolvente em que crescem, protegendo-se das agressões a que são sujeitas: calor, frio, chuva, contaminação ambiental. Para sobreviverem, “fabricam polifenóis, substâncias aromáticas, vitaminas e antioxidantes”. “Quando as comemos, não ingerimos apenas os seus nutrientes mas também as substâncias protectoras que sintetizaram”, defende Mariano Bueno. Funcionam, por isso, como “vacinas naturais”, resume o especialista espanhol, que esteve em Portugal para apresentar o seu livro, o primeiro da extensa bibliografia do autor a ser editado em português.

Para o horticultor, esta é uma “vacina natural e específica para a poluição” que estamos a desperdiçar ao comprarmos frutas e legumes cultivados a milhares de quilómetros de distância – que se protegem das agressões desses locais e não daquelas que nos afectam cá – ou quando comemos produtos criados em estufas, “desinfectados, esterilizados, empacotados”. “Não nos vão contaminar, mas também não vão contribuir para a capacidade do sistema imunitário se defender”, defende Mariano Bueno, para quem a industrialização da produção de alimentos está a contribuir para o crescimento de alergias e doenças associadas ao sistema imunitário. “Estamos a perder capacidade de resposta à contaminação ambiental porque comemos alimentos muito artificiais”. Deixamos de ter “informação sobre aquilo que nos rodeia através da alimentação”, acrescenta.

A poluição existente nos centros urbanos não serve, por isso, de desculpa para não se ter uma pequena horta na varanda ou num espaço comunitário. “Se a planta não conseguir defender-se, morre. Se sobreviver é porque criou defesas.” O único efeito colateral é “crescer mais lentamente e produzir em menor quantidade, porque investe muita energia a proteger-se”, indica o especialista. No entanto, são essas mesmas substâncias protectoras que dão aroma e sabor aos alimentos. Já existem até empresas produtoras de tomate em estufa que, na fase final, deixam de regar as plantas para “ficarem stressadas e terem mais sabor”, exemplifica.

Uma pequena horta biológica, exposta aos elementos, “produz menos e é menos rentável, mas é mais nutritiva, saudável e gostosa”, remata. E o tempo utilizado a cultivá-la pode ainda ser terapêutico. Uma forma de estar “em contacto com a natureza, com o ar livre, com a luz”, fazer um algum exercício físico e reduzir o stress do dia-a-dia. Isso significa, então, que deveríamos ser todos pequenos agricultores? “Seria maravilhoso” mas, com cidades tão grandes, seria “muito difícil cultivar localmente todos os alimentos de que necessitamos”, admite Mariano Bueno.

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