Fugas - Viagens

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A bela desconhecida quer tornar-se na bela reconhecida

Com quase um quilómetro de longitude, a Calle Mayor, ligando a Plaza León com o Parque del Salón de Isabel II, é a mais emblemática da cidade, com as suas colunas prismáticas em que se apoiam os miradouros das casas mais proeminentes de Palência, algumas com as suas varandas em ferro forjado, mas também a rua onde se encontram muitos dos espaços comerciais com grande tradição e que se misturam, na actualidade, com lojas de moda. Da mesma forma, surgem, aqui e acolá, edifícios construídos em meados do século passado, inestéticos e com mais pisos do que o habitual, o que motivou, na última década do século passado e nos primeiros anos deste, um esforço para devolver à Calle Mayor parte da sua essência, materializada em fachadas mais eclécticas e tradicionais. Ao mesmo tempo, algumas das construções mais antigas foram restauradas e, aos poucos, embora com um ou outro atentado à beleza estética, Palência vai recuperando grande parte da sua imagem burguesa, à qual estava associada no século XIX.

Caminhar pela Calle Mayor é um prazer que se vai renovando à medida que a manhã corre para abraçar a tarde — há lojas que nos remetem para outro tempo, há prédios que nos recordam esse mesmo tempo. Um deles é a Casa de los Señores García Germán, projectada pelo arquitecto palentino Jerónimo Arroyo em 1912 e sede do Governo Civil (e mais tarde de uma delegação da polícia) desde que a obra foi concluída, em 1916, até se tornar, 30 anos mais tarde, num espaço privado; por mais vistoso que seja, o edifício remete-se à sua insignificância quando comparado com a fachada — que é uma reinterpretação do gótico veneziano e do catalão — do colégio de Villandrando, também situado na Calle Mayor e igualmente desenhado por Jerónimo Arroyo, no número 36, e construído entre 1910 e 1911, por ordem de Eduvigis Sanz de Sedano y Monedero, viscondessa de Villandrando, para servir como asilo, recolhimento e formação de instrutoras de crianças órfãs, com a designação de Asilo de San Joaquín e Santa Euduvigis.

Um olhar pousa-se vagarosamente neste ícone de Palência, nos seus três pisos de uma fachada ricamente decorada e encimada, como alguém que deseja completar algo de sublime, com uma cornija com um friso cerâmico que mostra, para a posteridade e com a assinatura de Daniel Zuloaga, ceramista e pintor espanhol, a doação da fundadora.

Há cada vez mais gente caminhando pela Calle Mayor à medida que o sol vai subindo no azul do céu.

Não muito longe do colégio Villandrando, no número 54, os meus passos e os meus olhos descobrem outra das maravilhas arquitectónicas da Calle Mayor, a sede do Consejo de Cuentas de Castilla y León, mais um edifício projectado pelo multifacetado Jerónimo Arroyo, este nos estilos Arte Nova e neoclássico, com as suas janelas que projectam para a rua outras tantas varandas, de ferro forjado negro, tão típicas da cidade de Palência, mais duas torres nos extremos da parede principal que transmitem uma sensação de grandeza ao prédio. Levantado entre 1912 e 1913, pretendia servir de morada para uma sala de espectáculos, conhecida como Salón Novedades, o Centro Cultural do Círculo Mercantil e o Café Royal de Paraíso Alonso, completando-se com um conjunto de vivendas para alugar.  

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