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O que é que Melides tem?

Por Mónica Menezes

Se Carmen Miranda cantasse sobre esta aldeia alentejana diria que Melides tem praia, tem sossego, tem paisagem e tem boa mesa. E isso chega para se estar a tornar a estância de férias da moda da elite portuguesa e internacional.

“Está a ver aquela mesa ali ao fundo, só de dois lugares? É ali que se senta sempre o senhor dos sapatos quando vem aqui comer.” O senhor dos sapatos é Christian Louboutin, o designer francês que comprou uma casa em Melides para passar alguns meses do ano. A Quinta do Lourenço é apenas um dos restaurantes desta aldeia onde Louboutin gosta de comer. Maria Luísa Lourenço, proprietária, não sabe qual será o prato preferido do designer  — “na cozinha não me dou conta disso” ­—, mas sabe que ele vem sempre acompanhado por outro homem e que a ida ao seu restaurante é uma das poucas saídas que faz quando está na sua casa em Melides.

É numa estrada de terra, onde o mar está tão próximo que se ouve o bater das ondas, que se situa a casa de Louboutin. Com vista sobre a lagoa, com pinheiros a fazer de muro para quem ali passa, é o sossego envolvente que mais salta à vista. Na estrada da Vigia há mais casas construídas, mas estrategicamente posicionadas para ninguém se impor na vida de ninguém e, acima de tudo, para ninguém estragar a paz de ninguém. A condessa Noemi Marone Cinzano, empresária ligada ao vinho, tem casa na mesma estrada e até já comprou terrenos do outro lado da sua herdade, onde plantou vários hectares de vinhas.

Comprar um terreno — com ou sem casa incluída — não é uma tarefa difícil em Melides. Sobretudo se se tiver dinheiro para gastar. Porque num mundo cada vez mais turbulento um cantinho sossegado em Portugal pode chegar a custar mais de quatro milhões de euros. Por isso, são várias as imobiliárias que prosperam com o recente interesse da classe alta estrangeira por Melides. Na pequena aldeia alentejana, os cartazes com nomes de agências e números de telemóvel em baixo já fazem parte da paisagem.

A oferta serve quase todas as carteiras: uma das operadoras, que trabalha com clientes de todo o mundo, “oferece” nove propriedades por valores que oscilam entre os 240 mil e os quatro milhões de euros. E quem procura estas casas? Franceses, acima de todos, o que não será alheio ao facto conhecido de Louboutin — que possui igualmente uma casa no bairro lisboeta de Alfama — ter lá residência e de não perder uma oportunidade para declarar a sua “rendição” a Portugal.  Numa entrevista à revista Visão, em Agosto de 2016, o designer explicou o seu encanto pelas terras alentejanas: “Adoro os locais que permanecem autênticos e onde me sinto desenraizado. A parte que me interessa do Alentejo é uma parte onde não há franceses, que não me apetece nada encontrar em Paris, quanto mais no Alentejo! Não gosto de encontrar pessoas quando estou de férias, gosto de ter experiências.” E não é o único a gostar de não se cruzar com ninguém. António Candeias, nascido e criado em Melides, confirma a obsessão pela discrição:  “Mesmo no Verão, quando há bastantes focos de animação na aldeia, os turistas da classe alta não saem de casa. Podemos vê-los de manhã a comprar um jornal ou o pão, mas pouco mais. São pessoas simpáticas, mas preservam bastante a sua intimidade.”

Com 1658 habitantes, Melides quer continuar a ser só uma pacata aldeia alentejana. Pelo menos, é o que assumem alguns habitantes nas conversas descontraídas de rua. Isabel Santos, outra local, quer que a sua praia continue a ser só sua, que o largo da igreja continue a ser só seu, que o sossego da aldeia perdure. “Claro que é importante ter turistas e novas pessoas a viver cá, isso traz-nos mais trabalho, mas não quero que isto se torne o Algarve”, afirma. Nos meses de Verão, a população de Melides chega a triplicar e os habitantes mais pacatos resmungam quando já não encontram o lugar de sempre para o seu automóvel.

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