Fugas - Viagens

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O hotel “mais chique” de Salvador renasceu das cinzas

Embora mantendo a sofisticação, o novo Palace quer ter um ambiente descontraído e, sobretudo, quer ser um espaço não apenas para turistas, convidando os habitantes de Salvador a voltar a frequentar o centro da cidade e a almoçar ou a jantar no restaurante. Aliás, o objectivo dos novos proprietários, seguindo aquela que é a filosofia do grupo Fera Hotéis, é não ficar por aqui e, aproveitando o novo dinamismo que o Palace traz à zona, apostar na recuperação de outros edifícios da Rua Chile. 

“Estamos analisando edifícios para termos oferta residencial e de escritórios”, conta António. “Há um palacete deslumbrante que adquirimos e onde estamos a pensar fazer algo inspirado pelo Mercado Time Out, em Lisboa.” A rua ainda está deteriorada, mas o Governo do Estado prepara-se para refazer os passeios. E, dentro de um ano e meio, o Fasano, a famosa cadeia de hotéis, vai instalar-se mesmo ao lado do Palace, noutro edifício histórico que está já a sofrer obras de recuperação. 

E assim, espera António, a pouco e pouco, a Rua Chile voltará ao seu antigo esplendor. Já quase ouvimos ao longe no ar o tango que chama Dona Flor e Vadinho para a pista de dança. Dessa “noite de quimera”, escreve Jorge Amado, Dona Flor guardou na memória cada detalhe, “desde a entrada no salão de dança até ao derradeiro minuto de prazer infinito de desbragada impudicícia no leito de ferro, com ele a lhe cobrar, na raiz do seu corpo, o presente de aniversário: a ida ao Palace.” 
 
A Fugas viajou a convite do Fera Hotéis

Fera Palace Hotel
Rua Chile, 20
Salvador da Bahia
Tel.: +55 (71) 3266-0487
Email: reservas@ferahoteis.com
ferapalacehotel.com.br
Preço: a partir de 245 reais (cerca de 70 euros)

 

“Quem não tem balangandãs não vai no Bonfim”

No hall de entrada do Fera Palace Hotel, em Salvador da Bahia, estão duas peças da artista baiana Nádia Taquary. E trazem com elas essa mistura de português-negro-índio que faz muita da história da Bahia. 

Quando era pequena, sempre que fazia anos, Nádia recebia do pai uma pequena jóia representativa da joalharia afro-brasileira que, sem ela o saber, iria tornar-se a principal fonte de inspiração do seu trabalho — nas peças que hoje faz, esses objectos de pequenas dimensões crescem e conquistam uma presença feita do orgulho de uma história de mestiçagem. 

Chegamos ao seu atelier em Salvador e a primeira coisa que nos chama a atenção é uma série de fotografias antigas, enchendo uma parede, de negros com penteados esculturais e rostos tristes, fechados. Nádia descobriu o álbum de fotos num alfarrabista de Lisboa e viu logo como ele tinha tudo a ver com a sua vontade de aprofundar a cultura africana do adorno e o uso do corpo como forma de comunicação (uma série de peças que fez inspiram-se precisamente nestes complexos adornos de cabelo africanos). 

“A joalharia afro-brasileira nasce aqui na Bahia com a técnica portuguesa, referências portuguesas mas uma estética africana”, porque quem a fazia eram os escravos vindos de África. “A senhora usava o brinco, o camafeu, o anel, o pente, uma joalharia que não era tão opulenta”, conta Nádia. Mas quando a ourivesaria sai desse domínio e passa a ser usada pela crioula, “ela nasce com todos os símbolos e a estética africana”.

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