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O erro em Benidorm é chegar e só ver praia

Por Margarida David Cardoso

Há muito na província de Alicante — as texturas e as cores — que se aproxima do Norte de África. Mas a identidade é em tudo espanhola. Marcada por um passado de guerras, virada para o turismo, é uma região a reinventar-se.

Se Alicante não fosse amarela, cor da terra clareada pelo sol, seria azul certamente. Se não fosse a cor de terra embranquecida que deu à costa o nome de Branca, seria a cor do Mediterrâneo a primeira a saltar à vista. Mas nesta guerra de terra e mar, ganha a cor que as janelas do avião insistem em focar. Ganha a terra.

Este é dos primeiros voos portugueses a aterrar no aeroporto a meio caminho entre Alicante e Elche. Havemos de passar quatro dias calcorreando terras brancas à beira-mar: Alicante, Jijona e Benidorm. Mas quando se fala de surpresas, começamos por aí.

Descemos entre as rochas até à praia que finda o vale. Termina ali, de forma quase abrupta, no parque natural da Sierra Gelada, a planície que tomara a cidade. E, com a força que a natureza impôs à terra, termina ali, de forma quase abrupta, a Benidorm que conhecemos.

A cidade cresceu para cima, em andares de enormes prédios virados para o mar. Entramos em Benidorm por ruas ladeadas por palmeiras, onde os cartazes e painéis iluminados fazem um percurso ao longo dos passeios, como que delimitando uma pista turística a percorrer: hotéis, casinos, parques aquáticos. Podíamos parar aqui e seguir o sotaque britânico até à praia do Levante, onde a língua oficial é a que o turista quiser. Mas não, na Benidorm que queremos a viagem segue.

De bicicleta sob o sol alto, o caminho dá as costas à copiosa arquitectura da cidade. Acabam os prédios com andares em cima da dezena, para dar lugar às casas brancas encavalitadas na encosta. No meio da natureza, recuperamos o sentido da escala humana.

É preciso pegar nas bicicletas pela mão para passar a entrada do Parque Natural da Sierra Gelada. Depois o caminho segue com as devidas pausas para interiorizar a paisagem da serra encavalitada no mar. Seis quilómetros de serra formam um litoral escarpado. É o flanco sudeste do parque a dar-se ao mar.

O parque natural tem essa designação desde 2015 num esforço de impedir que o betão continuasse a descer a escarpa. “Se não fosse assim, talvez só parasse no mar.” Laura García, técnica de promoção do Visit Benidorm, ainda fica espantada com a diversidade da flora do parque. Aponta para as plantas a duas cores – verdes e cinzentas – que ponteiam a encosta. As dunas esclerofilas, “inteligentes” como as descreve, são plantas com adaptação a longos períodos secos: durante o Verão, parte da planta seca para permitir a poupança de água e a sobrevivência na época seca.

Depois descemos às praias de areal curto, de mar imenso. É fácil achar que, por ser tão límpida a água, vemos o que o mar esconde. Não se engane e coloque uns óculos de mergulhador para ver a vida que a água tolda.

Livro de praia cheia

A julgar pela capa, Benidorm é um livro com uma foto de um areal repleto de gente - só praia. Teria um título em inglês, cores escaldadas e, se possível, cheiraria a água do mar e cerveja. Se tivesse música, a banda sonora estaria entre a pop espanhola e inglesa, gritada.

Benidorm está nas bocas dos jovens portugueses a caminho de uma viagem de finalistas e nas memórias de adultos que ali viveram as longas noites que separaram o ensino secundário do resto da vida. Benidorm continua nos planos de muitos portugueses que procuram as praias mergulhadas em sol (às vezes) até às 22h e a agitação de uma cidade que dificilmente dorme. Há rótulos para todos os gostos. Mas a cidade já teve melhor reputação.

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