Fugas - Viagens

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Em nome do vinho, das rosas e do corpo sano

Em Baden bein Wien, com as suas ruas pedonais e as suas lojas exclusivas e os seus cafés, ruas que parecem desaguar todas na bonita praça Josefsplatz, Beethoven encontrou paz, procurou beneficiar das qualidades das águas e descobriu, ele que era um entusiástico amante da natureza (a Pastorale não deixa desmentir essa sua atracção), lugares que exacerbavam a sua inspiração, tantas vezes em caminhadas solitárias ao longo de Helenental, o vale onde a cada passo, caminhando por trilhos banhados de quietude, provavelmente escutando o marulhar do rio Schwechat, se vai ae encontro do rico passado da história da região.

E dramático.

Em Mayerling, próximo de Baden bei Wien, deixe-se seduzir pela história do princípe Rudolf, filho único do imperador Franz Joseph I da Áustria e da imperatriz Elisabeth, e da sua amada, a baronesa Mary Vetsera, cujos corpos foram encontrados num lodge de caça na manhã de 30 de Janeiro de 1889 – um acontecimento que provocou desestabilização nas relações entre austríacos e húngaros e conduziu, anos mais tarde, ao assassinato de Franz Ferdinand e da sua mulher, Sophie, em 1914, em Sarajevo, motivando o início da I Guerra Mundial.

A cultura do vinho

De acordo com uma velha lenda, a razão pela qual os austríacos têm vinhas deve-se a um certo comodismo dos romanos. Como carregavam o vinho desde Roma, quando chegavam, já estava azedo, impróprio para consumo – e por isso trouxeram vides para fabricar o seu próprio néctar. Outra tese defende a existência de vinhas nativas e primitivas tão pouco do agrado dos legionários romanos que estes não hesitaram em introduzir novas variedades do sul da Europa, refinando, ao mesmo tempo - e atendendo à época- , todo o processo tecnológico.

Em Baden bei Wien a cultura do vinho perde-se na história da cidade e está fortemente impregnada na vida dos seus habitantes desde tempos imemoriais. A par das águas termais, a produção de vinho sempre foi uma das maiores fontes de rendimento da população local e o primeiro documento que faz referência à existência de vinhedos remonta a 1113, um presente de Markgraf Leopold III ao mosteiro de Klosterneuburg, permitindo a posse de cinco vinhas.

Com o vinho nasceu outra cultura, ainda hoje fortemente implantada no coração dos austríacos – a cultura Heuriger, já desenvolvida no início da Idade Média. Nessas tavernas, nesse tempo distante, cada habitante de Baden bei Wien estava autorizado a servir o vinho que o próprio produzia, «sob o seu próprio fumo», uma expressão que significa na sua própria casa.

De acordo com a tradição, um rapaz, transportando uma vara adornada com uma Föhrenbusch (um ramo de pinheiro silvestre), corria pelas ruas da cidade apregoando o nome do local onde o vinho estava a ser servido – e exibir uma Föhrenbusch é, ainda nos dias de hoje, uma das tradições das Heuriger.

Actualmente, Baden bei Wien conta com uma centena de produtores, beneficiando das condições climáticas para produzirem vinhos de grande qualidade (também da blauer portugieser, uma casta cujas origens, apesar da sugestão bem portuguesa, não estão provadas) num total de 340 hectares e cuja colheita é dividida entre a Badener Winzergenossenschaft, uma cooperativa que celebrará no próximo ano o seu centenário, e as Heuriger.

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