Fugas - Vinhos

Carlos Lopes

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Calor, a quanto obrigas

E se em tempos recentes as recomendações possíveis de Vinho do Porto se ficavam pela família dos tawnies, sem espaço funcional para mais argumentos, a onda recente de investimento e atenção dedicada à jovem família dos Porto brancos veio abrir uma nova janela de oportunidades que há muito se encontrava negligenciada. É aqui, no mundo renovado dos Portos brancos secos, que poderemos ir buscar a melhor inspiração para prosseguir o consumo de vinhos generosos durienses no Verão. Tudo neles convida à aventura, apoiados na secura, na tensão de uma acidez refrescante e na facilidade de adaptação à gastronomia mais leve da estação. Fuja, durante esta estação mais soalheira, dos estilos mais doces, concentrando-se nos Porto brancos mais secos e austeros.

O que não impede que continue a ser nos vinhos generosos da ilha da Madeira que se consigam descobrir os melhores motivos para seguir entrincheirado no consumo de vinhos generosos durante o Verão, graças à multiplicidade de estilos e variedades, sempre assentes numa acidez pungente que os refresca e revitaliza de forma admirável, mesmo nos estilos mais doces e empolgados.

Porém, os vinhos da Madeira que melhor defendem a frescura por que tanto suspiramos durante o Verão fundamentam-se nas castas Verdelho, vinificada sempre num estilo meio seco, e, acima de tudo, na casta Sercial, desenhada obrigatoriamente num discurso extra seco, duro e tenso, num registo tendencialmente austero mas retemperador, perfeito para as entradas frias, ainda antes do início da refeição, ou para acompanhar saladas e pratos frios e leves, suportando com coragem o assédio do vinagre ou do limão no tempero de saladas. coisa a que poucos vinhos do mundo conseguem sobreviver.

São estes os encantos do Vinho da Madeira e do Vinho do Porto branco seco, senhores de uma imensa diversidade de estilos e feitios que os convertem em vinhos versáteis e retemperadores, oportunos para refrescar e alegrar nos dias de maior calor. Este ano, com tantas alternativas válidas e sedutoras, não terá pois desculpas para sustentar o divórcio sazonal tradicional com os vinhos generosos portugueses. Atreva-se!

Escolhas

Poças Special Reserve Dry White

Durante muitos anos, demasiados anos, os vinhos do Porto brancos foram relegados de forma implícita para segundo plano, vivendo quase escondidos sob a ditadura dos vinhos tintos, subjugados perante a robustez dos Porto Ruby e a serenidade dos Porto Tawny. Foram poucas as casas a insistir na família dos Porto brancos, abandonando o género a vinhos simples e muito doces, por regra enjoativos, sem brilho e sem glória. E de repente, numa mudança radical que apanhou muita gente do sector desprevenida, o sector começou a apostar seriamente nos Porto brancos de qualidade, porfiando num estilo mais seco e comedido, mais austero e fresco, mais sério, com vinhos mais velhos e mais ambiciosos, com mais anos de envelhecimento. Acima de tudo, e para além de todas as demais qualidades, vinhos muito mais frescos e atraentes, suficientemente versáteis para serem bebidos durante os meses de Invernou. ou durante os longos meses de canícula. Ora este Poças Special Reserve Dry White apresenta-se como um dos melhores exemplos, seco e vivo como o nome pressagiava, vestido de cor amarela ouro velho, numa tonalidade viva e brilhante. Deliciosamente seco na boca, medianamente austero, viçoso e espevitado, com notas bem evidentes de casca de laranja e amêndoas torradas, a que se acrescem restolho e chá, é um vinho de Verão notável, capaz de ser bebido sozinho, a acompanhar uma conversa ou a abrilhantar o início de qualquer refeição.

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