Fugas - Vinhos

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O mundo do vinho passou pela feira de Bordéus

Por Pedro Garcias

Dizem que, para fazer negócios, a melhor feira de vinhos do mundo é a alemã Prowein. Mas a grande montra do sector continua a ser a Vinexpo, em Bordéus, cuja última edição se realizou entre os passados dias 19 e 23. Pedro Garcias passou por lá e deixa aqui algumas impressões de uma viagem que incluiu também uma soirée de vinhos do Douro no faustoso Château Pichon-Longueville.
A nova imagem de Portugal
Com quase mil metros de comprimentos, o principal pavilhão da Vinexpo começava e acabava em português. Numa das pontas, estavam os vinhos do Brasil, na outra, os vinhos de Portugal, divididos em duas famílias: de um lado, os produtores durienses, abrigados no stand do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, do outro, os do resto do país, reunidos nos stands da Viniportugal. Todos sobre um chapéu comum, a marca "Wines of Portugal". Não era o melhor lugar, mas, para a dimensão do país, ninguém se pode queixar.Além do mais, algumas das maiores companhias portuguesas, como a Sogrape, a Taylor`s e a Symington, ocuparam espaços mais nobres da feira.
Alguns participantes portugueses queixavam-se da fraca afluência, outros mostravam-se optimistas com os contactos estabelecidos, sobretudo com importadores asiáticos e do Canadá. Portugal não está propriamente na moda, mas a percepção estrangeira dos vinhos portugueses parece estar a mudar. E a participação nesta Vinexpo pode ter ajudado um pouco. Sem a opulência de outras representações, a presença portuguesa não envergonhou ninguém, surgindo com uma imagem jovem e colorida.

Helicópteros e boutiques
Um dos sons típicos da Vinexpo é o barulho dos helicópteros a pousar ou a descolar. É um vaivém aparentemente improvável para uma feira do género, mas o mundo do vinho está cada vez mais ligado a exibições de riqueza e charme.
Os preços que algumas garrafas atingem justificam bem o luxo e a ostentação. Voar de helicóptero do château para a feira e da feira para o château permite fugir ao trânsito e impressionar os clientes. Mesmo aqueles que não estão directamente ligados ao vinho.
Algumas das mais renomadas casas francesas fazem vinhos para milionários. Os stands de algumas delas parecem autênticas boutiques de alta-costura e relojoaria. As garrafas surgem como objectos raros e exclusivos, dissimuladas em cenários de luxo e sofisticação.

A atracção chinesa
A forte afluência de jornalistas e importadores chineses na Vinexpo chegou a abrir telejornais em França. Não há produtor de vinho no mundo que não olhe para a China como o novo eldorado.
Os seus importadores são hoje as figuras mais pretendidas e bajuladas do negócio. Todos lhes querem vender vinho, mas os chineses já não compram de olhos fechados. Só mesmo quando os rótulos têm impressos nomes franceses lendários.

Argentina em alta
As grandes revistas da especialidade têm antecipado que esta será a década dos vinhos argentinos. Mas, como sublinhava, Ricardo Rebelo, vice-presidente e CEO da Finca Flichman, a empresa argentina da Sogrape (integra o top five das maiores empresas argentinas, vendendo por ano cerca de 18 milhões de garrafas), DR o país já está na moda há algum tempo. "Há 10 anos, a Argentina exportava 90 milhões de dólares de vinho. Em 2009, exportou perto de 900 milhões [já ultrapassou Portugal]", lembrava.
Apesar de conotada com o chamado Novo Mundo do vinho, a Argentina tem uma história vitivinícola antiga. Em Mendoza, a principal região do país, faz-se vinho pelo menos há 400 anos, desde que monges portugueses plantaram ali as primeiras vinhas.
Os argentinos sempre produziram muito vinho, mas também sempre consumiram muito (cerca de 90 litros por pessoa anualmente). Era pouco o que exportavam.
Há cerca de duas décadas, com a modernização da economia e abertura do país ao investimento estrangeiro, a situação mudou.
Os preços estabilizaram e a chegada de companhias europeias e americanas abriu o país à exportação. Apesar de não haver ajudas públicas à plantação, o investimento compensava, e continua a compensar, porque a terra é barata e altamente produtiva. Para os vinhos de gama média, as produções atingem facilmente os 15 mil quilos de uvas por hectare. Para os de topo, chegam aos sete mil quilos. Com estas condições, a Argentina pode começar a oferecer qualidade a bom preço. "Os vinhos argentinos vendem-se cada vez melhor porque são bons e baratos. Têm a melhor relação qualidade/preço do mundo", assegurava Ricardo Rebelo, lembrando que beneficiam ainda da ajuda de três produtos argentinos de grande impacto mundial: o tango, o futebol e a carne.

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