Fugas - Vinhos

  • Vintage Noval Nacional 1963: 5570 euros a garrafa.
    Vintage Noval Nacional 1963: 5570 euros a garrafa. Fernando Veludo/Nfactos
  • Barbara Wanner (à esquerda), Eric Beaumard (ao centro) e João Pires (à direita)
    Barbara Wanner (à esquerda), Eric Beaumard (ao centro) e João Pires (à direita) Fernando Veludo/Nfactos

A noite em que se bebeu o lendário Vintage Noval Nacional 1963

Por Pedro Garcias

Alguns dos melhores "sommeliers" do mundo estiveram três dias no Norte para provar e falar sobre os vinhos portugueses. Um dos pontos altos foi o jantar de gala na Quinta do Noval, com "smoking" e barbatanas e grandes vintages, incluindo o Noval Nacional 1963. Pedro Garcias participou nesse momento único em que se provou um vinho que custa 5570 euros cada garrafa.

Dia 13 de Novembro. A noite promete na Quinta do Noval, anfitriã de um grupo muito especial e influente, os Mad Wine Lovers Of The World. Daquela propriedade do Douro têm saído alguns dos melhores vinhos portugueses de sempre. Um deles, o Porto Vintage Noval Nacional 1931, foi considerado pela revista Wine Spectator como o segundo melhor vinho do mundo do século XX. Não devem existir mais do que umas poucas dezenas de garrafas espalhadas por alguns coleccionadores. Há uns anos, provar uma dessas garrafas ainda continuava a ser a ambição da vida de Christian Seely, o director geral da Axa Millésime, proprietária da Quinta do Noval. Não sabemos se já a cumpriu.

A mesa já está posta quando os sommeliers começam a chegar impecavelmente vestidos de smoking e caminhando como pinguins. Ao segundo dia da excursão a Portugal, preparam-se para o seu tradicional jantar de gala. As barbatanas que todos trazem calçadas mostram o lado “louco” do grupo. Depois de quase um ano a sugerir e a provar diariamente dezenas ou centenas de vinhos, alguns dos melhores sommeliers do mundo viajam até um país vitícola para conhecer novos vinhos, revisitar outros e comer e beber quase sem regra (este ano, o grupo escolheu Portugal). Só param tombados pelo sono e pelo cansaço de tanto rir com as histórias, as cantorias, os discursos humorados e as “palhaçadas” — daí o nome Mad Wine Lovers Of The World.

São cerca de uma dúzia de sommeliers reputadíssimos e com grande poder e influência no negócio do vinho. Um deles, o francês Olivier Poussier, responsável pelos vinhos do grupo Lenôtre, ostenta o título de Melhor Sommelier do Mundo, obtido em 2001, no Canadá. E outros três já venceram o concurso de Melhor Sommelier da Europa: o alemão Bernard Kreis e os franceses Eric Duret e Eric Beaumard. Este, actual director do Restaurante Georges V, no Hotel Four Seasons, em Paris, também já foi vice-campeão do mundo. Do grupo faz parte também João Pires, o único master sommelier português e considerado um dos melhores do mundo da actualidade.

Ninguém sabe que vinhos vai servir Corine, funcionária da Axa Millésime e também ela sommelier. O Noval Nacional 1931 não será, obviamente. O Noval não Nacional do mesmo ano, que dizem não ser inferior, também estará interdito. E o Noval Nacional 1963, talvez a mais lendária colheita de Porto Vintage, não passa de um sonho. Pelo menos, para nós. Cada garrafa custa na loja de Gaia da Noval 5570 euros! É um daqueles vinhos para beber como último desejo. Sobra a expectativa, suficientemente empolgante, de se provar algum Colheita histórico (Porto Tawny de uma só colheita envelhecido em cascos por um período mínimo de sete anos) ou um outro grande Noval Nacional (exclusivo vintage que a quinta produz a partir de uma vinha velha de dois hectares plantada com videiras não enxertadas).

Na mesa, há garrafas de tintos D.O.C da Noval e da Romaneira, para acompanhar uma sopa de nabiças e um delicioso leitão assado. O vinho do Porto vem depois, com a sobremesa. Para acompanhar uma tarte, Corine serve o Noval Colheita 1968, um vinho vibrante, profundo, fresco e ainda muito jovem. É um começo em grande. Chega o queijo Serra da Estrela. “Um dos melhores queijos do mundo”, exulta Éric Boschman. “Remarquable!” (notável), repete Eric Beaumard.

--%>