Fugas - Vinhos

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Cinco nomes que puxam pelo que o Dão tem de melhor

Por Rui Falcão

O Dão é lugar potencial para a criação de vinhos de classe superior. Mas o abandono de vinhas, o esquecimento de castas e uma certa modorra impedem a região de cumprir esse potencial. Há, no entanto, quem aponte caminhos. E mostre um futuro para essa região extraordinária.

A região do Dão insiste em manter-se num estado de entorpecimento geral, apagada num exercício voluntário e derrotista que se repete ao longo do tempo. O Dão, apesar de todos os elogios que a imprensa vai soltando, mantém-se numa modorra e apatia que a conduzirá, se a tendência não for invertida, a um voto de esquecimento a médio ou longo prazo. Como vão longe os tempos áureos das décadas de sessenta e setenta do século passado quando o nome Dão era respeitado e valorizado, reconhecido como um sinal identidade e qualidade.

O Dão, convém não esquecer, é uma das raras denominações de origem portuguesas que ultrapassou a linha divisória do primeiro século de idade. Chegou mesmo a afirmar-se como uma das referências dos vinhos portugueses, transformando-se na região de origem de alguns dos vinhos mais afamados do país. Chegou a dizer-se que o Dão era a Borgonha de Portugal, a denominação onde nasciam os vinhos mais finos e delicados, a região de origem dos vinhos mais elegantes, viçosos e capazes de viver durante anos em garrafa.

Não é fácil explicar a inércia da região e o lento ocaso a que a região do Dão se tem prostrado. O Dão, diz-se muitas vezes com reiterada convicção, é uma das regiões mais abençoadas de Portugal, aquela que é capaz de proporcionar os vinhos mais elegantes, assumindo-se como a denominação naturalmente mais habilitada a produzir vinhos frescos e com maior capacidade de envelhecimento. Argumentos sólidos e efectivos mas que carecem de contraponto.

É verdade que o Dão goza das vantagens naturais apontadas mas também é verdade que sofre de alguns contratempos que dificultam a sua afirmação. Por um lado o forte emparcelamento da terra que frequentemente impede a viabilidade económica da vinha. Mas também o clima volúvel capaz de apadrinhar o melhor e o pior intercalando colheitas extraordinárias com anos sofríveis anuindo inconsistência de colheitas que afasta alguns consumidores. O envelhecimento da população e a desertificação do interior tem como consequência o abandono das vinhas e a consequente perda progressiva de material genético.

O arranque mais ou menos indiscriminado de muitas das vinhas mais velhas, a aposta quase única nas cinco castas dilectas, a Touriga Nacional, Tinta Roriz, Alfrocheiro, Encruzado e Malvasia Fina, desprezando as restantes castas tradicionais da região e sem qualquer estudo aprofundado sobre os méritos e deméritos de cada variedade, força a um estreitamento genético que a próxima geração irá pagar caro. A falência do sector cooperativo na região contribui igualmente para o abandono das vinhas e do vinho do Dão.

Mas a condição mais importante é o factor humano, a falta de uma visão regional e de um sentido histórico da denominação do Dão. Uma carência de identidade que condiciona alguns produtores a querer reproduzir estilos de outras paragens e regiões, nomeadamente do Douro, insistindo em propor vinhos carregados de cor, espessos e pujantes, carnudos e pesados, numa antítese formal do que a região do Dão sempre produziu… e onde se transcende! Nenhuma região do mundo se impõe por copiar modelos alheios. Nenhum dos grandes produtores do Dão, das grandes referências nacionais da região, se afirmou por pretender imitar vinhos de outras denominações, apostando na autenticidade, identidade, na genuinidade de uma região que para o bem e para o mal se diferencia de todas as outras.

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