Fugas - Vinhos

Nelson Garrido

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O segredo do vinho português descobre-se cada vez mais na vinha

Jorge Moreira reconhece essa realidade. “O nosso conhecimento sobre as castas é muito pequeno. No Douro temos dezenas de variedades, mas só cinco é que foram estudadas. É um conhecimento muito redutor”, diz. Até porque as conclusões obtidas nos anos de 1980 estão hoje postas em causa. Castas como a Barroca, a Tinta Roriz ou a Tinto Cão, que na altura mereciam todos os elogios, suscitam hoje muitas dúvidas aos produtores. E muitas outras, como a Sousão, são alvo de um renovado interesse. A Real Companhia Velha tem um projecto que aposta na descoberta de novos vinhos de castas “estranhas”, como a Rufete, Tinta Francisca, Samarrinho, Arinto ou Sémillon. Peguemos no caso da Rufete. “Há uns anos, quando se privilegiavam vinhos carregados de cor, de volume e álcool, essa casta não tinha interesse. Mas agora que há uma procura por vinhos mais elegantes, pode ter muito potencial”, diz Jorge Moreira.

O Estado não se tem envolvido nas opções dos agricultores em relação às castas, deixando as escolhas à livre iniciativa dos investidores. Mas, no futuro próximo, admite discriminar positivamente os apoios financeiros destinados a plantações com as variedades indígenas, afirma Frederico Falcão. Neste processo, vai surgir a discussão sobre o que são, de facto castas nacionais – algumas, como a Jaen (a Mencia da Ribeira Sacra, na Galiza), ou a Alicante Bouschet, a casta rainha do Alentejo, foram “nacionalizadas” e ninguém as vê como intrusas. Mas há quem questione a expansão acelerada que algumas castas internacionais conheceram em Portugal nos últimos 20 anos. A Syrah, por exemplo, é já a décima casta mais plantada em Portugal, ocupando uma área de 3.900 hectares.

A mudança das regras europeias para o sector do vinho cria uma boa oportunidade para se discutir o que fazer e para se acertarem estratégias. Porque a partir de 2018 não há garantias de ajudas ao investimento na reconversão das vinhas – até lá haverá um fundo de 65 milhões de euros por ano. Depois, deixará de haver direitos de plantação para começar a ser praticada a política de autorizações de plantação. Até agora, um produtor podia arrancar a sua vinha e vender os seus direitos de plantação a outro interessado. A partir de Janeiro, ou esse produtor replanta a sua vinha num prazo de três anos ou perde esses direitos. Para a instalação de novas vinhas passará a haver uma bolsa correspondente a 1% da área de cada estado-membro para distribuir, o que no caso português representa 2.200 hectares por ano.

Esta bolsa suscita diferentes apetites por parte das diferentes regiões. O Alentejo e, principalmente, o Douro, a braços com excedentes de produção, não parecem muito interessados em alargar as suas áreas vinha. Mas a região dos Vinhos Verdes vê essa possibilidade como uma urgência. “Vivemos um período de stocks particularmente baixos”, diz Manuel Pinheiro, presidente da Comissão Vitivinícola Regional. Ou seja, a região está em dificuldades para responder á procura crescente dos seus vinhos, em particular os Loureiro e Alvarinho – para se ter uma ideia, as exportações de vinhos brancos cresceram 14% no primeiro trimestre deste ano. No caso de nenhuma região querer participar na distribuição das novas autorizações, os Vinhos Verdes admitem ficar com tudo. “O Conselho Interprofissional já enviou um pedido ao secretário de Estado para que a região possa aceder ao máximo de licenças de plantação atribuídas”, diz Manuel Pinheiro. Para o presidente da Comissão dos Verdes, “a viticultura é a nova fronteira do Vinho Verde”, sublinhando que a região “tem de reforçar a sua capacidade de produção”.

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