Fugas - Vinhos

Fernando Veludo/nFactos

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"Já não fazemos bons vinhos só de vez em quando"

Como é que isso se resolve?
Estou convencido que é uma questão geracional. Nós estamos a notar que há jovens que entram no negócio numa lógica empresarial. Mas as mudanças levam tempo. Seja na adopção das práticas da viticultura moderna, onde as questões da dimensão são críticas, e depois também na verticalização. Nós estamos a assistir ao aparecimento de uma nova geração que não quer ser produtor de fruta, mas quer ser produtor de vinho, começando na vinha, continuando na adega e acabando no mercado. Hoje, provavelmente 15% do que é exportado é produção própria das grandes casas. Há 10 ou 12 anos era metade disto. Aliás, há quem associe o sucesso dos vinhos portugueses e a consistência qualitativa dos vinhos portugueses ao processo de verticalização. Uma empresa quando produz controla o processo de vinificação e o engarrafamento, logo corre menos riscos quanto à qualidade. O que mudou nos últimos anos foi a constatação de que não fazemos bons vinhos de vez em quando, que fazemos vinhos bons. Quando se lê um Wine Enthusiast, onde todos os anos estamos em terceiro ou quarto lugar, ou uma Wine Spectator, onde temos a maior taxa de vinhos outstanding ou classic, nota-se essa consistência.

Há uns dois anos defendeu a necessidade de apostar em mercados emergentes e deu como exemplo a Polónia, a Colômbia, a Nigéria ou Marrocos. O que foi feito em concreto nesse sentido?
Nós não demos passos nessa estratégia, porque estamos amarrados a um plano até 2016/17. Fizemos este ano uma experiência na Polónia, que era um mercado onde nunca tínhamos trabalhado colectivamente. Estamos a ensaiar trabalhar a Suíça. Mas em mercados como a Nigéria, ou Marrocos, ou Moçambique, nada fizemos porque, ao fazê-lo, teríamos de desinvestir de mercados onde queremos ter continuidade de acções. Nós temos vindo a resistir muito a avaliações precipitadas que nos levem a desinvestir aqui para investir ali. Temos sido teimosos em trabalhar nos mercados escolhidos e só fazemos pequenas extensões: a Polónia foi um desses casos, a Coreia vai ser outra para o ano, como já foi Singapura e Japão. Estamos a procurar mercados mais sensíveis à gama média e média alta de que em mercados, como a Nigéria ou Marrocos, que têm potencial mas onde o mais importante não é o posicionamento. Diversificação sim, mas em mercados de maior poder de compra.

Alguns mercados históricos para o vinho português, como a Bélgica ou a Holanda, não têm ficado desprotegidos?
É natural. Nós admitimos que sim. Mas a manta é curta. A questão é que para se fazer a cobertura desses mercados teríamos de descobrir outros. E diria que talvez todas as apostas que têm sido feitas são apostas ganhas. Nós temos metido um terço do nosso orçamento nos Estados Unidos e o mercado comporta-se de maneira extremamente interessante. Nós temos feito apostas no Brasil e em Angola e não nos sentimos defraudados com os resultados. Se vamos deslocar investimentos desses para outros mercados, corremos o risco de os desproteger ou de descontinuar acções quando os resultados ainda não estão consolidados. De qualquer forma, e por admitir que esses mercados merecem outro tratamento, nós em 2016 vamos lançar um programa de acções de formação, sobretudo centrado nos profissionais da restauração e compradores de lojas independentes na França, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Dinamarca e Suíça. Nos mercados visados pela nossa emigração, o problema que nós temos não é um problema de notoriedade; é um problema de posicionamento. Se queremos corrigir o posicionamento, a melhor forma de o conseguir é pela via da restauração.  

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