Fugas - Vinhos

Fernando Veludo/nFactos

Continuação: página 5 de 5

"Já não fazemos bons vinhos só de vez em quando"

Quantos anos de investimento vão ser necessários até que uma região portuguesa se compare com Rioja ou Barolo [Piemonte, Itália], isto para não falar das grandes regiões francesas como Bordéus ou Borgonha?
O Douro poderia mais facilmente ter a notoriedade de uma Nappa Valley…

Diz no condicional. Porquê?
Quem vê de fora, essa notoriedade existe. Mas quando olhamos para aquilo que é o potencial do Douro e depois olhamos para os topos de gama, damos conta que representam muito pouco do que se produz no Douro. Estamos a falar de um Douro onde há 80 mil pipas [de 550 litros] sem colocação com denominação de origem. O Douro tem reconhecimento, mas esse reconhecimento não está à medida do potencial de produção da região.

Mas quando é que vamos ter uma região que se compare, por exemplo, a Nappa Valley?
É melhor não responder (risos). É preciso uma cultura diferente. Nós quando vamos a Nappa vemos um esforço colectivo muito grande. Trabalhar pelo valor faz parte da sua natureza e nós aqui ainda não sabemos trabalhar da melhor forma o valor. Julgo que há aqui apreconceitos que é preciso eliminar. No dia-a-dia não deixamos de ver o vizinho como concorrente. Nós temos um excelente exemplo que é o dos Douro Boys. Mas não é repetido. Para lá do marketing colectivo, houve um trabalhar colectivo do mercado. Temos também no Algarve a Adega do Cantor. Era bom que este fenómeno se repetisse em outras regiões e também no Douro. Isso resolvia-nos o problema da escala.

Portugal está a chegar a um limiar crítico em que é preciso uma nova aposta estratégia para continuar a crescer?
Sim, é natural que a produção suba, incrementalmente, por via das reestruturações de vinha que têm sido feitas. É natural que o consumo mantenha esta tendência de decréscimo, e portanto vai havendo aqui uma libertação marginal de vinho para exportação. Mas a percepção que temos é que essa margem é menor do que a nossa taxa de crescimento das exportações. De facto é hora de trabalharmos o valor e muito menos a quantidade. Precisamos de ter profissionais mais bem preparados, que saibam negociar. Nós por vezes questionamos se quando um português entra na sala de um comprador tem o seu discurso devidamente preparado, se tem prontos os seus argumentos negociais. Muitas vezes vamos para um negócio e não saímos da dimensão do preço.  

A Viniportugal conseguiu recentemente o estatuto de organismo interprofissional. Isso serve para quê? O que vai fazer com esse estatuto?
Isto é a mesma coisa que um empregado que trabalha na mesma empresa há 15 anos com recibos verdes entrar no quadro. Ele no dia seguinte vai continuar a produzir e a ganhar o mesmo, com a mesma dedicação, mas apesar de tudo tem um estatuto muito mais estável e sólido. É um reconhecimento que nos dá estabilidade acrescida e nos traz estabilidade. Mas que nos aumenta a responsabilidade.

--%>