Fugas - Vinhos

  • Ricardo Filipe, produtor dos
vinhos Humus (Óbidos), é o
rosto principal do movimento.
Não como prosélito militante,
mas por ser aquele que mais
vinho natural faz. Em 2015
fez cerca de 20 mil garrafas
    Ricardo Filipe, produtor dos vinhos Humus (Óbidos), é o rosto principal do movimento. Não como prosélito militante, mas por ser aquele que mais vinho natural faz. Em 2015 fez cerca de 20 mil garrafas Pedro Granadeiro/NFactos
  • Pedro Granadeiro/NFactos
  • Os vinhos de
Fernando
Paiva, com a
marca Quinta
da Palmirinha,
merecem ser
descobertos.
Em Portugal, só
são conhecidos
no circuito
alternativo
    Os vinhos de Fernando Paiva, com a marca Quinta da Palmirinha, merecem ser descobertos. Em Portugal, só são conhecidos no circuito alternativo Pedro Granadeiro/NFactos
  • Pedro Granadeiro/NFactos

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Os vinhos naturais estão aí e não são uma moda passageira


Discreto e tímido, Rodrigo Filipe é uma espécie de anti-vedeta do vinho. “Comecei a fazer vinhos naturais como um desafio, porque tinham algo que me interessava, que era a autenticidade. E gostei do resultado. São vinhos que me dão muito prazer a beber. E também tenho tido bons feed-backs de pessoas que são intolerantes aos sulfitos”, diz.
Embora faça tudo para não usar sulfuroso, até por ser um produto desagradável ao olfacto, Rodrigo não partilha do radicalismo de alguns produtores de vinhos naturais. “Há anos em que não é possível deixar de usar algum sulfuroso. É preferível usar algum do que fazer vinhos estragados”, defende.
O grande desafio dos vinhos naturais prende-se com a sua regulamentação. Ao contrários dos vinhos orgânicos e biodinâmicos, que contam com entidades certificadores, os vinhos naturais não estão sequer consagrados em lei. Um vinho dito “natural” pode ser tão ou mais “químico” do que outro vinho qualquer, porque ninguém o controla. Há associações de defesa do vinho natural em vários países, mas cada uma tem o seu próprio regulamento. Em França, há associações que toleram o uso de algum sulfuroso, mas a associação espanhola, por exemplo, defende a interdição total.


Por outro lado, o termo “natural” tem algo de maniqueísta e dogmático. A existência de vinhos “naturais” pressupõe que os outros não são naturais, logo são piores. Este confronto não é meramente etimológico. O famoso escritor de vinho inglês Andrew Jefford afirmou à revista Decanter que alguns produtores naturais perseguem uma “perversão de ideias de naturalidade fundamentalista”. O crítico americano Robert Parker foi mais contundente, classificando os vinhos naturais como uma gigantesca fraude.
Não há razões para tanto. É verdade que se vendem vinhos naturais (a preços até mais elevados do que os ditos convencionais) que estão cheios de defeitos; é verdade que não há nenhuma entidade que ateste a sua elaboração; e também é verdade que existe alguma arrogância em muitos dos seus praticantes, ao colocarem todo os outros produtores de vinho no lado dos maus. Mas também há enormes virtudes neste movimento, porque pode ajudar o sector a optar por práticas mais sustentáveis e a intervir menos quimicamente no vinho. “No futuro, vamos olhar para o vinho natural como uma dádiva. Os consumidores estão, talvez pela primeira vez, a começar a questionar seriamente o que vai dentro do vinho que bebem, assim como milhões já fazem com a comida”, defende a Master of Wine francesa Isabelle Legeron, responsável por uma das principais feiras de vinhos naturais do mundo, a RAW, que se realiza em Londres.

 

O  único viticultor biodinâmico certificado em Portugal tem 72 anos

Fernando Paiva

Se não o conhecêssemos e se nos tivessem falado pela primeira vez do único viticultor biodinâmico certificado em Portugal, imaginaríamos alguém entre os 30 e os 50 anos, de ar negligé, talvez um hippie ou um wine freak. Alguém a procurar fugir das modas e a viver de forma extravagante e alternativa. Um homem a fumar tabaco de enrolar e, de vez em quando, até uns “charros”. Um beberrão de tintos e brancos alternativos, um produtor meio louco a fazer vinhos intransigentes numa adega simples, muito artesanal, com tecnologia mínima.

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