Fugas - Vinhos

  • Ricardo Filipe, produtor dos
vinhos Humus (Óbidos), é o
rosto principal do movimento.
Não como prosélito militante,
mas por ser aquele que mais
vinho natural faz. Em 2015
fez cerca de 20 mil garrafas
    Ricardo Filipe, produtor dos vinhos Humus (Óbidos), é o rosto principal do movimento. Não como prosélito militante, mas por ser aquele que mais vinho natural faz. Em 2015 fez cerca de 20 mil garrafas Pedro Granadeiro/NFactos
  • Pedro Granadeiro/NFactos
  • Os vinhos de
Fernando
Paiva, com a
marca Quinta
da Palmirinha,
merecem ser
descobertos.
Em Portugal, só
são conhecidos
no circuito
alternativo
    Os vinhos de Fernando Paiva, com a marca Quinta da Palmirinha, merecem ser descobertos. Em Portugal, só são conhecidos no circuito alternativo Pedro Granadeiro/NFactos
  • Pedro Granadeiro/NFactos

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Os vinhos naturais estão aí e não são uma moda passageira


Mas nada do que pudéssemos imaginar, a não ser a simplicidade da adega e a vontade de fazer vinhos autênticos, encaixa em Fernando Paiva. Não fuma, é discreto, faz os seus vinhos sem grandes alaridos e tem 72 anos. Elegante e com a pele bem tisnada pelo sol do campo, é um septuagenário em grande forma e muito preocupado com o que come e bebe. “Tornei-me biodinâmico a pensar na minha saúde. Fui egoista, reconheço”, diz.
Fernando Paiva possui a Quinta da Palmirinha, em Bouça Chã (concelho de Felgueiras), e uma pequena parcela de 0,5 hectares junto a Amarante. Ao todo são cerca de 3,5 hectares de vinha que herdou de família. Palmirinha era o petit-nom da mãe, que morreu com 104 anos. Antes de ser viticultor, Fernando Paiva foi professor de História e Português no 2º Ciclo em Amarante. E dirigiu durante alguns anos o jornal local.


Reformado aos 56 anos, virou-se para as vinhas sem saber muito bem o que fazer. No ano 2000 surgiu-lhe a possibilidade de realizar em Celorico de Basto uma formação com o especialista francês em biodinâmica Pierre Masson. “Na altura, nem sequer conhecia a palavra ´biodinâmica`”, recorda. E durante essa semana de formação teve uma espécie de epifania. Masson dera-lhe a conhecer um mundo novo, uma nova forma de encarar o cultivo da terra e a transformação dos alimentos, sem pesticidas e outros produtos químicos, em respeito pela natureza e pelo bem-estar da humanidade. Fascinou-o a ideia de produzir uvas e vinhos saudáveis, num ambiente holístico, em que tudo o que a vinha precisa para se alimentar e proteger tem origem na própria exploração agrícola, nas plantas e nos animais que a povoam. “Comecei por ter grandes dúvidas. O que eu precisava de saber era se a agricultura biodinâmica poderia ser generalizada ao ponto de poder assegurar a alimentação da humanidade. E na altura fiquei bastante convencido”, conta.
Nessa época, o valor das uvas na região era muito baixo e tendia a diminuir ainda mais. Pela mesma altura, Fernando Paiva leu um artigo sobre uma investigação feita em França que concluiu que os agricultores eram o grupo profissional com maior incidência de cancro na cabeça, associado à exposição aos pesticidas. “Prejuízo por prejuízo, então mais vale fazer uvas biológicas”, disse para si. E foi assim que tudo começou.

Os primeiros anos foram de aprendizagem. A sério, só a partir de 2007 é que Fernando Paiva começou a fazer viticultura biodinâmica. Sempre com um sentido prático e sem ceder ao esoterismo e à religiosidade que muitos agricultores biodinâmicos cultivam. “Eu sou agnóstico”, diz. Mas, mesmo não sendo homem de fé, acredita na eficácia do preparado de bosta (o preparado 500) que é usado no solo para aumentar a vida microbiana e facilitar a obsorção dos minerais por parte das videiras; acredita no preparado 501, uma mão cheia de cristais de quartzo moídos que são enterrados num corno de vaca desde a Páscoa até ao Outono e que, pulverizado sobre a vinha, depois de ser agitado numa grande quantidade de água durante uma hora, ajuda à frutificação e à maturação dos cachos; acredita nas macerações hidroalcoólicas de folhas de consolda, urtiga, cavalinha e eucalipto, que usa para tornar as videiras mais resistentes a várias doenças; e respeita dentro do possível o calendário desenvolvido por Maria Thun com as actividades que devem ou não devem ser realizadas em cada dia do ano, de acordo com as energias cósmicas que chegam à Terra. Uma espécie de avatar biodinâmico do almanaque Borda d’água. Também não tem dúvidas sobre a importância das abelhas na paisagem cultivada, como polinizadoras e como transportadoras de veneno, com efeito estimulante conhecido na vida das plantas; e por isso tem sempre uma ou duas colmeias na quinta, bem como cerca de 50 a 60 galinhas, que ajudam a diminuir as ervas infestantes e também, queixa-se Fernando Paiva, a “alimentar raposas e milhafres”.

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