Tudo isto dá muito trabalho e requer bastantes conhecimentos. Fernando Paiva faz regularmente macerações de plantas e já chegou a fazer os principais preparados. Mas, como diz, prefere comprá-los “a quem os sabe fazer mesmo bem”. E o seu principal fornecedor é Pierre Masson, o homem que lhe deu a conhecer a agricultura bodinâmica.
Desde então, já teve outros formadores, como Daniel Noel, Daniel Pasquet (que o aconselhou tecnicamente durante dez anos), Jacques Fourés e Nicolas Joly, um dos mais famosos produtores biodinâmicos de França. Depois ter trabalhado em Finanças no Reino Unido e nos Estados Unidos, Joly regressou em 1977 para tomar conta da propriedade da família no vale do Loire e começar a fazer alguns dos melhores vinhos desta região.
Fernando Paiva ainda não chegou tão longe, mas os seus vinhos, com a marca Quinta da Palmirinha, merecem ser descobertos. Em Portugal, só são conhecidos no circuito alternativo. O grosso das cerca de 15 mil garrafas que produz é vendido no Reino Unido, Alemanha, Espanha, Noruega, França, Estados Unidos e Canadá
A sua premissa é a de que os vinhos “são feitos pela natureza”, pelo que se limita a ser um mero intermediário na transformação das uvas, sem desengace e leveduras industrias e indo até mais longe do que impõe o caderno de normas da viticultura biodinâmica. De acordo com a entidade certificadora, a empresa alemã Demeter, os vinhos biodinâmicos podem levar até 120 mg/l de sulfuroso. Mas Fernando Paiva usa muito menos e no tinto da casta Vinhão que fez na última vindima não usou mesmo nada. Ainda no inox, é um vinho cheio de fruta vermelha, fresquíssimo e nada adstringente.
A mesma pureza e franqueza é também notória nos brancos (todos sem barrica), em especial no Quinta da Palmirinha Loureiro. O 2015 está muito delicado e fino, revelando uma precisão aromática e uma frescura deliciosas. Tem apenas 11,5% de álcool, mas parece mais gordo e a acidez não magoa, como acontece com tantos vinhos verdes. O Loureiro/Azal 2015 é ainda mais seivoso, por ter mais acidez e menos álcool (11%). Muito interessante está também o Azal/Arinto 2015, um branco de textura gorda, com alguma sensação tânica até e grande frescura. Por sete euros, o preço estimado a que chegam ao mercado, são vinhos imperdíveis.