Fugas - Vinhos

  • Margarida Basto
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"Tenho um defeito horrível: tenho de ter terra"

Gosta desse estilo?

Os meus vinhos também têm um bocadinho esse estilo. Mas estou de acordo com essa definição e, sabe, eu gosto muito. Nunca mais me esqueço de uma prova, quando começámos a traçar o perfil dos vinhos da Duorum, onde estavam mais de 40 vinhos do Douro. Havia uma cábula com os números todos, éramos para aí dez a provar, fui o primeiro a classificar os vinhos e disse assim: há aqui três vinhos do José Maria. Este, este e este. Acertei. Ele tem um estilo. É um bocadinho contracorrente? É. Mas quando se compra um vinho dele sabe-se que se pode guardar. O Colheita de 2007 está uma bomba.

Como se pode entender então que sejam lançados mais cedo que os seus alentejanos?

É mais ou menos lançado com o mesmo tempo do Vila Santa, um nadinha antes.

Da nova geração de enólogos, quem é que gostava de contratar?

Eu fujo normalmente a essa pergunta. Fujo por comodidade e por dificuldade em responder. Há muitos. Conseguiu-se passar para estas novas gerações a coisa mais importante de todas: é eles terem consciência que a coisa mais importante do vinho é respeitar o terroir onde foi produzido, A nossa missão é acompanhá-los até à garrafa. Isso está cada vez mais conseguido. Os enólogos alquimistas, de grandes blends, com o terroir menos intuído, estão cada vez menos presentes nas novas gerações. Até eu próprio sinto cada vez mais isso, mais do que quando comecei.

Quando começou havia uma certa tendência para imitar o que se fazia lá fora, com muita extracção, fruta intensa, mais álcool?

Houve várias fases. No princípio sim, havia extracção, havia fruta – foi por isso que o Alentejo ganhou a guerra. Quando as cooperativas alentejanas apresentaram os seus vinhos com fruta madura, engarrafados mais cedo, jovens, gulosos, sumarentos, isso veio completamente ao arrepio do que os portugueses tinham à sua disposição. Era completamente moderno. Os portugueses tinham vinhos normalmente oxidados, com taninos secos, que iam tarde para a garrafa. A fruta perdia-se.

Mas depois houve um certo exagero. Os vinhos ficaram doces.

Eu detesto vinhos doces. Mas uma coisa são vinhos doces e outra é vinhos com ênfase na fruta madura. Se quiser fazer um vinho do Douro muito bom, com grandes uvas, se quiser fazer com esse vinho um vinho novo, tem de esperar um bocadinho. No Alentejo isso consegue-se fazer mais facilmente. O Alentejo tem essa plasticidade: pode fazer vinhos de guarda e vinhos para serem bebidos mais facilmente.

Nestes 25 anos o percurso do vinho português foi no sentido correcto?

Sim. Há produtores que gostam de fazer bem e depois o negócio acontece. Há outros que não lhes interessa fazer bem ou mal, põem primeiro o negócio e o vinho é indiferente. Fazem falta mais dos outros. Quando fui às primeiras feiras, com os primeiros vinhos que deram que falar, tinha bichas. Agora há vinhos portugueses bons por todo o lado. Em Dusseldorf, na Prowein, estavam 360 produtores portugueses. Foi um sucesso.

Em Portugal continua a prevalecer o discurso de um certo nacionalismo ampelográfico. Subscreve-o?

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