Atenas ontem e hoje
Atenas está bem longe de ser o paraíso idílico que Astérix e os outros gauleses visitaram. O trânsito é uma marca registada, assim como a poluição, que paira como uma enorme nuvem sobre a cidade, cuja expansão se perde de vista mesmo quando se está num miradouro. Cidade antiga, com marcas de várias civilizações que estão sempre a aparecer. Qualquer buraco que se faça no chão de Atenas pode resultar numa escavação arqueológica.
Na Antiguidade, os Jogos Olímpicos eram sinónimos de tréguas, em honra de Zeus, o pai dos deuses. Olímpia era o palco, e apenas aqueles que falavam grego eram elegíveis. No início durava apenas um dia e havia apenas uma prova, uma corrida de cerca de 240 metros que correspondia a uma volta ao estádio. Mais tarde, tal como depois aconteceu na era moderna, cresceu em duração e número de eventos, mais corridas e desportos de combate, como o boxe, a luta e o pancrácio (que inclui elementos das duas primeiras).
No ano 50 a.C. já Atenas estava sob o domínio romano e os Jogos estavam reservados a gregos e romanos. Isto representava um problema para a aldeia, o único pedaço da Gália que os romanos não conquistaram, mas Astérix e os outros não querem falhar a glória olímpica e, num momento raro (o outro é quando decidem alistar-se na legião em Astérix Legionário), decidem que, por Toutatis, são romanos e, portanto, elegíveis para participar nos Jogos, ao lado do único representante de Rodes (que é, naturalmente, um colosso) e dos espartanos, que desfilam descalços e só comem caroços de azeitona e banha - mas, mesmo eles, não resistem às iguarias que se comem nas comitivas "decadentes" e querem, eles próprios, "decandentar" com vinho e bifes do lombo.
Uma das coisas em que Goscinny e Uderzo acertaram em cheio foi na proibição das mulheres em assistir e participar nestes Jogos da Antiguidade. Na verdade, as mulheres solteiras podiam assistir às competições dos homens, enquanto as casadas estavam proibidas de entrar em Olímpia. Esta proibição ainda se manteve nos primeiros Jogos da Era Moderna em 1896, mas, quatro anos depois, já não existia - a igualdade de género nos Jogos tem sido, aliás, algo bastante difícil de alcançar; apenas em Londres 2012 todos os eventos tiveram versões masculinas e femininas, sendo que, em número de atletas, os homens continuam em maioria.
A 6 de Abril de 1896, os Jogos Olímpicos regressaram a casa, por acção de um aristocrata francês, Pierre de Fredy, o Barão de Coubertin. Não foram em Olímpia, mas em Atenas, receberam 241 atletas (apenas homens) de 14 nações (Portugal não esteve presente) e decorreram no Estádio Panathinaiko. A ideia inicial dos organizadores gregos era manter os Jogos em Atenas para sempre, mas Coubertin já se tinha comprometido em levar o evento para Paris em 1900 - foram um fracasso, tal como em Saint Louis, 1904; os Jogos só recuperaram o seu brilho quatro anos depois, em Londres. Voltariam a casa em 2004, para os XXVIII Jogos Olímpicos da Era Moderna. Cento e oito anos depois, os segundos Jogos de Atenas já eram um verdadeiro ritual global da humanidade: 10.625 atletas de 201 países.