Fugas - hotéis

Um mundo almofadado no Palácio das Cardosas

Por Patrícia Carvalho (Vídeo de Daniel Cerejo) ,

Há um hotel bem no coração da cidade que não deixa a cidade entrar nele. Patrícia Carvalho passou uma noite no Intercontinental e só vislumbrou o Porto nas paredes ou através das vidraças. O bulício fica fora do Palácio das Cardosas - mas o sino da igreja não e acaba por embalar um sono cinco estrelas.

Passar as portas do Palácio das Cardosas, no centro do Porto, e entrar no que é hoje o Hotel Intercontinental equivale a mergulhar de cabeça numa pilha de almofadas. Ali dentro, tudo é fofo. Os pés afundam-se no tapete grosso que cobre parte do hall e os cadeirões aveludados parecem engolir quem neles se senta. Nos quartos, a sensação não é diferente: as camas altas são confortáveis e as almofadas, bom... as almofadas são como os cadeirões do hall, engolem as cabeças que lá pousam, de tão fofas que são.

O luxo é uma coisa fofa? No cinco estrelas da Baixa do Porto pode dizer-se que sim. Entrar no Intercontinental representa um corte radical com a cidade que fica do lado de fora da porta giratória. Nada da urbe granítica e por vezes escura permanece no interior brilhante do hotel. Há lustres luxuosos, tecidos sumptuosos, tectos trabalhados com flores, um bar com as paredes cobertas por estantes com livros a fingir. E há uma música suave a percorrer o espaço. 

Apetece ficar pelo hall, dar um salto ao café Astória ou, no extremo oposto, bebericar um copo no bar, antes ou depois de se experimentar uma massagem no spa do hotel. Isto para quem gosta de relaxar e não se cansar muito. Porque para os outros há um ginásio no piso -1, onde se podem deixar para trás algumas calorias. Mas um hotel é um hotel: o sítio onde, em última instância, vamos apenas para uma boa noite de sono. Por isso, escolha a escadaria trabalhada junto à parede envidraçada das traseiras do hotel ou entre no elevador mais próximo e explore o quarto que lhe calhar em corte. No Intercontinental pode optar entre um quarto standard, um deluxe ou uma suite, mas, seja qual for a sua escolha, estamos a falar de um cinco estrelas, pelo que a qualidade está garantida.

O nosso fica mesmo em frente ao elevador e tememos ser acordados durante a noite pela voz que anuncia o piso onde nos encontramos. Nada disso. Mal a porta pesada do quarto se fecha, a voz alta da senhora do elevador desaparece, como se todo o hotel fosse feito de compartimentos estanques. Entra-se no edifício e perde-se a cidade. Entra-se no quarto e esquece-se o corredor.

A janela tem vista para a Avenida dos Aliados, que com o cair da noite se torna cenário de poucos carros. Há a ocasional ambulância que passa, mas não é esse ruído que nos chama a atenção. Quando as luzes já se apagaram e queremos dormir somos surpreendidos pelo tocar de um sino que, madrugada dentro, vai dando as horas. Não incomoda, é apenas um elemento estranho. Como se não estivéssemos no centro do Porto. De onde virá o ruído? Dos Clérigos? Da Igreja dos Congregados? Da Sé? Não chegamos a saber, mas o som é reconfortante, lembrando-nos que o Porto, afinal, ainda é um sítio pequenino e reconfortante, onde à noite se ouve o toque de um sino.

Mas, antes de fechar os olhos, exploramos o quarto, decorado em tons de azul e castanho. Há fotografias antigas da cidade nas paredes, da Alfândega à Igreja dos Grilos, passando pela Rua do Laranjal. Tudo a preto e branco e lembrando um Porto que permanece nas pedras mas já não existe no movimento. Os candeeiros de pedras brilhantes repetem a escolha do hall e da cama e das almofadas já falámos. Não usámos a secretária nem o cadeirão colocado junto à pequena varanda, mas demos uso ao comando do ecrã plano e ficamos com pena de não termos baixado um pouco o aquecimento do quarto, para podermos usufruir do edredão sem sentirmos calor.

O pequeno-almoço é servido no restaurante Square, onde já jantáramos devagar e saborosamente na noite anterior. Há sumos naturais, bolos, pães, doces para barrar, queijos, frutas, leite, chá, ovos, bacon... Para lá das vidraças estende-se a futura Praça das Cardosas, rodeada pelos edifícios do quarteirão com o mesmo nome que estão ainda a ser reabilitados (e estarão nos próximos anos). Mais uma vez, mesmo perante os nossos olhos, há gruas que se movimentam, homens que trabalham, mas o ruído que fazem não chega ao restaurante, e mesmo a sua imagem parece difusa, perdida entre os reflexos que se estendem pelas janelas. A cidade não entra, o hotel não deixa.

Nome
Hotel InterContinental Palácio das Cardosas
Local
Porto, Porto, Praça da Liberdade, 25
Telefone
220035600
Website
http://www.ihg.com/
--%>