Fugas - hotéis

Um hotel escondido no Chiado

Por Isabel Salema (texto), Joana Bourgard (vídeo) ,

No Chiado 16, conseguimos ver o sol a levantar-se sobre o Mar da Palha sem sair da cama. Há novos quartos com uma vista avassaladora, depois desta unidade ter começado a sua vida com quatro suites de 85 metros quadrados. 

Chegámos ao hotel já à hora de ir para a cama, mas a vista do quarto é mais espectacular do que imaginávamos e é difícil fechar as cortinas. Parece que estamos numa gravura de Piranesi, uma espécie de vista nocturna do rio Tejo com uma perspectiva que só ele imaginamos capaz de desenhar. Vemos o frontão triangular dos Paços do Concelho de esguelha e a cúpula com o lanternim em vidro está mesmo ali à frente. Também não é normal vermos o Arco do Triunfo da Rua Augusta deste ângulo de 45 graus, com a escultura da Glória de costas. Só a Sé de Lisboa está direitinha com a fachada virada para nós e mais acima, do lado esquerdo, destaca-se o Castelo de São Jorge. Todos os monumentos com as suas pedras brancas iluminadas sobressaem à noite e só rivalizam com as luzes do Barreiro, Seixal ou Montijo na outra banda.

Espreitar a vista foi a razão para dormirmos fora, a menos de um minuto de casa, num normalíssimo dia de semana. "Como é que nos descobriu?" - perguntava Gonçalo Soeiro, há menos de meia hora, quando entrámos no Hotel Chiado 16, no Largo da Academia Nacional das Belas-Artes. Ele, que faz o turno da noite na portaria, sabe que o hotel é mais ou menos invisível da rua. Nós fizemos como aqueles que passam por este largo no Chiado, já no fim da Rua Ivens, que vêem, desde o final do Verão, uma montra enfeitada com uma orquídea e não resistem a colar o nariz ao vidro para perceber o que se passa lá dentro. Gonçalo já se habituou a dizer adeus, porque são muitos os que não percebem que se trata de um hotel, uma vez que ainda não há as autorizações necessárias para fazer uma entrada assinalada como deve ser.

A história do hotel contada por Heleen Uitenbroek Rosa da Silva, 42 anos, começa em 2001, quando comprou a casa ao lado para arrendar. "Como as leis de arrendamento ainda são um bocadinho complicadas, surgiu a ideia de fazer como em Inglaterra com os serviced apartments, que não tem tradução em português." Suites de 85 metros quadrados mobiladas para pessoas que querem mais do que um hotel mas os mesmos serviços. "A ideia é home away from home", explica Heleen. Acabaram por dar mais acompanhamento do que isso e fazer o marketing à volta da ideia de hotel de charme: "Arranjar tours, restaurantes. Fazer as férias à medida das pessoas, mesmo personalizado. Resulta muito bem."

Só com quatro suites, era fácil estarem cheios. Daí os novos quartos, entre os quais está aquele onde acabámos de dormir. A alvorada vale tanto como a vista nocturna: o sol aparece por volta das 7h20, uma bola cor-de-laranja que vemos subir sem nos levantarmos da cama e que faz o Mar da Palha parecer exactamente aquilo que o seu nome evoca, um mar feito de palha.

Estas vistas maravilhosas levaram Heleen a fazer uma ligeira alteração no conceito do Chiado 16: "Notámos que tínhamos pessoas que ficavam só no fim-de-semana, jovens que já não precisavam deste apoio todo, mas que queriam vista."

A extensão que abriu em Setembro tem, assim, quartos mais pequenos, mas com mais vista. O pequeno-almoço é agora servido no novo espaço diante da montra que dá para o largo, de onde vemos chegar os alunos da Faculdade de Belas-Artes, que é do outro lado da rua, com as suas grandes pastas de desenhos. É onde estamos a conversar com Heleen, uma holandesa que passou a infância na Nova Zelândia e aterrou em Lisboa aos 18 anos na semana do grande incêndio do Chiado, em 1988. Veio viver com os pais para Portugal e a primeira notícia foi essa do centro histórico a arder.

Nome
Chiado 16
Local
Lisboa, Mercês, Largo da Academia Nacional das Belas Artes, nº 16
Telefone
213941616
Website
http://www.chiado16.com
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