Fugas - hotéis

  • DR
  • DR
  • DR
  • DR
  • DR
  • DR
  • DR
  • DR
  • DR
  • DR
  • DR
  • DR
  • DR
  • DR

Dormir com Alqueva aos pés

Por Sandra Silva Costa ,

É o lugar ideal para carregar baterias. Com as águas de Alqueva aos pés, as Casas de Juromenha têm tudo o que é preciso para uma estadia retemperadora. Lareira para o Inverno, terraço para o Verão - e uma vista imperdível o ano inteiro. Quer mais boas notícias? O telemóvel funciona a meio gás.

Não deixa de ser estranho ter de marcar +351 para ligar para casa - quando, na verdade, estamos em casa. Isto é Portugal, é verdade, mas há apenas um lago a separar-nos de Espanha. E, caprichos das antenas de telemóvel, entramos em roaming praticamente quando entramos em Juromenha.

Ainda não tínhamos percebido esta coisa do roaming, mas já tínhamos percebido que entráramos num mundo bem diferente daquele de onde viemos quando cruzámos a fronteira de Juromenha. É sexta--feira, fim de tarde, e não se vê vivalma nas ruas desta freguesia do Alandroal. Ainda não sabemos que os Censos de 2011 lhe contaram 107 habitantes, mas agora quase apostamos que conseguimos contá-los pelos dedos. Vamos em busca de um café para cigarros de última hora mas isso, para já, parece coisa de outra vida. "Há ali a associação recreativa, tentem lá", sugerem as duas únicas mulheres que encontramos a percorrer as ruas desertas da freguesia. Tentámos e tivemos sorte - mas se não tivéssemos tido haveria sempre a mercearia, que por acaso ainda tem a porta aberta.

Não é que sejamos as pessoas mais urbanas deste mundo, nem de perto nem de longe, mas era mesmo disto que estávamos a precisar: de um fim-de-semana a carregar baterias longe do barulho dos carros e do telemóvel a tocar por tudo e por nada. Estamos em roaming e essa é uma boa notícia.

Entramos de novo no carro e descemos as escassas centenas de metros que nos faltam até chegarmos à nossa morada deste fim-de-semana ainda chuvoso. Debaixo destas luzes, as Casas de Juromenha parecem coloridas casinhas de bonecas, o que é um bom prenúncio. Dizem que aqui há um dos melhores céus para observar as estrelas - estamos em Juromenha, o Guadiana aos pés, em território da Reserva Dark Sky do Alqueva - mas esta noite as nuvens fazem as vezes de cortinas pesadas. Brilha é a lareira na sala da nossa casa, a 4, aonde Vera e Nuno nos acompanham agora.

Abre-se a porta e é isto: um sofá e um cadeirão, uma mesa de centro feita a partir de paletes, mesa de jantar e quatro cadeiras, uma secretária recuperada e pintada de branco, uma prateleira com títulos de Miguel Sousa Tavares, António Barreto, Manuel Jorge Marmelo. Uma porta de madeira fechada esconde a cozinha equipada com o básico: fogão, frigorífico, microondas, torradeira, chaleira. Uma escada de madeira leva ao andar de cima, onde há dois quartos - um deles, de dimensões bem generosas, com uma cama de criança. O que está preparado para nós é ligeiramente mais pequeno, mas de manhã esta janela enorme há-de trazer-nos o Guadiana casa adentro e esse é um luxo que não tem preço. Ainda temos, porém, uma noite pela frente.

Instalamo-nos na sala a ouvir falar da troika mas nem as más notícias nos beliscam o apetite. O festim começa dentro de minutos. Vera bate à porta e com ela parece trazer comida para um regimento. Há perdizes de escabeche com torradas de pão alentejano, empadinhas de javali e pato, queijo de ovelha e enchidos regionais, bacalhau com coentros e salada para acompanhar. Bebe-se um tinto Aldeias de Juromenha - em Roma sê romano - e ainda se arranjará um espacinho para uma sericaia que ficará na memória.

Até pelas suas características, de alojamento que permite ao hóspede preparar a sua própria comida, as Casas de Juromenha só servem refeições por encomenda, mas, pelo que nos foi dado a provar, vale a pena experimentar pelo menos uma vez.

Passamos parte do serão a encher a lareira de lenha e a ouvir a chuva que cai, impiedosa, lá fora. Abrimos a porta de casa num destes momentos de dilúvio e deixamo-nos estar no alpendre apenas a ver chover. As águas do Guadiana estão a meia dúzia de metros, mas hoje não as conseguimos ver.


Aldeia ribeirinha

Deixamos essa tarefa para a manhã seguinte. Choveu a bom chover durante a noite, mas o sábado será de tréguas. Abrimos a janela e, agora sim, temos a noção de onde estamos. As Casas de Juromenha têm mesmo Alqueva aos pés e Espanha ao virar da esquina. Não há sol mas ainda assim a vontade que temos é de saltar cama fora rapidamente e em força. Só agora percebemos - a parte boa de chegar de noite a um lugar desconhecido é que de manhã as surpresas abundam - que a casa tem um terraço com espreguiçadeiras e chuveiro que há-de ser top no Verão.

Descemos ao andar de baixo e já temos um cesto de piquenique - adoramos o paninho com motivo lenços dos namorados - com tudo o que precisamos para o pequeno-almoço. Tomamo-lo sem pressas, a espreitar, de novo, o Alqueva pela janela. Já é meio da manhã, há uns raios tímidos de sol lá fora e esta é a nossa deixa para sairmos de casa.

Encontramos Miguel Pereira Coutinho, o proprietário das Casas de Juromenha, no alpendre da casa principal. À boleia de um café, Miguel conta-nos como nasceu este projecto que visa recriar o ambiente de uma aldeia ribeirinha. "A minha família tinha uma herdade no Alandroal e ficaram-me na memória os piqueniques que fazíamos por estes lados", recorda. Em 2005, surgiu a oportunidade de comprar o que era apenas "um casão agrícola". "Respeitou-se a implantação existente, fez-se depois uma ampliação" e o resultado está à vista: cinco casinhas, com capacidade para quatro adultos cada uma, mais uma casa principal onde há mais um quarto duplo, que abriram ao turismo há mais ou menos um ano. Para o futuro, Miguel Pereira Coutinho antecipa a construção de um restaurante e de um centro de apoio às actividades náuticas.

Para além da arquitectura tipicamente alentejana, é justamente na proximidade à água que reside grande parte do potencial das Casas de Juromenha. Graças a uma parceria com a empresa Wadnature, estão disponíveis passeios de barco, caiaques e windsurf, explica-nos agora Nuno Medeiros, quando também nós já deslizamos nas águas de Alqueva. Temos à direita a fortaleza de Juromenha, o altaneiro monumento da freguesia, e nas encostas pachorrentos rebanhos. O resto é o imenso espelho de água a perder de vista e o silêncio - que permanece praticamente inalterado quando voltamos a pôr os pés em terra.

Sentamo-nos de novo no alpendre de olhos agora pousados na piscina e a suspirar pelo Verão. À falta dele, agarramo-nos à ideia de que ainda temos mais um dia em Juromenha +351.

Há quanto tempo não ouvimos tocar um telemóvel?

A Fugas esteve alojada a convite das Casas de Juromenha

___


Como ir
De Lisboa, apanhar a A2 e sair na saída 7, para entrar na A6 em direcção a Espanha/Évora. Na A6, tomar a saída 8 em direcção a Borba/Alandroal. Apanhar a N255 e seguir indicações para Alandroal/Vila Viçosa/Borba. Entrar na N373 e virar à direita para Juromenha.

Onde comer
Já dissemos que vale a pena experimentar pelo menos uma vez as refeições das Casas de Juromenha (bacalhau com coentros e arroz de pato para duas pessoas a 18€, por exemplo). De resto, quem preferir pode cozinhar as suas próprias refeições ou então experimentar alguns dos bons restaurantes das imediações. Em Elvas, a 18 quilómetros de Juromenha, visitámos a Adega Regional (Rua João de Casqueiro, 22) e as plumas de porco preto ficaram na memória. Em Vila Viçosa, recomendamos A Taverna dos Conjurados: a lista é variada mas experimente-se a sopa de cação, complete-se com um prato de enchidos regionais e está o almoço feito.

O que fazer
Nada e muita coisa - há estas duas opções. Quem for em busca de descanso puro e duro tem aqui o lugar perfeito. O enquadramento paisagístico presta-se a isso, seja Verão ou Inverno. Se o tempo estiver mais para o frio, as casas, embora simples, têm tudo o que precisa para tornar a estadia confortável: lareira, ar condicionado, televisão, livros nas prateleiras. Se, por outro lado, houver sol e temperaturas amenas, então o dolce fare niente ganha outros contornos: há o terraço da casa para leituras mais intimistas ou a área à volta da piscina, para quem não se importar de socializar com outros hóspedes. E, já o dissemos, as actividades náuticas.

Fora de portas, é obrigatório ir ver a fortaleza de Juromenha, de onde se tem, aliás, uma bela vista sobre a região. E depois é só escolher para que lado se quer conduzir o carro: Elvas e as suas fortificações Património da Humanidade estão a 18 quilómetros, Vila Viçosa e o imponente Paço Ducal a 25, Olivença/Olivenza a 48. Vire o carro para o lado que virar, aceite a sugestão e passe também pelo Alandroal, onde vale bem a pena subir ao castelo.

Nome
Casas de Juromenha
Local
Alandroal, Juromenha (Nossa Senhora do Loreto), Ribeira de Mures
Telefone
268969242
Website
http://www.casasdejuromenha.com
--%>