Chama-se Aldeia da Terra e depressa se compreende porquê. Esta aldeia não só poderia ser de qualquer uma das terras por onde já passámos, de norte a sul, como é de terra que se alimenta. Mais precisamente de barro. Em poucos metros quadrados, reúnem-se anos de história, tradições e cultura, salpicados por quadros bem-humorados.
O parque, nascido de uma brincadeira transformada em sonho, faz parte do recém-lançado projecto de Dinamização e Promoção Turística dos Parques Temáticos e pólos de animação, da responsabilidade do Turismo do Alentejo e que inclui ainda a Amieira Marina, o Badoca Safari Park, o Centro de Interpretação da Batalha de Atoleiros, o Fluviário de Mora e o Monte Selvagem. Pelo meio, há uma Caderneta de Cromos, que exibimos alegremente, que funciona como uma espécie de passaporte para registar a passagem pelos vários divertimentos. Os cromos referentes a cada espaço podem ser adquiridos no local, em saquetas de seis, e os primeiros a completar a colecção habilitam-se a ganhar bilhetes para assistir a jogos da I Liga de futebol — seja-se adepto do Benfica, do Sporting, do FC Porto ou do Sporting de Braga.
De caderneta em punho, encontramos a Aldeia da Terra numa pequena e maltratada estrada, entre Arraiolos e Évora. A contrapor os buracos no asfalto, um alto e branquíssimo muro separa o Alentejo de uma colorida urbe que, em miniatura, pode muito bem representar qualquer zona do país. É a “aldeia mais caricata de Portugal”, como nos avisa um painel à entrada. Há aeroporto e dentista (“tira 3, paga 2”), hospital e escola — com as típicas brincadeiras retratadas, entre o jogo do berlinde e o salto ao eixo. E há ainda, entre um trânsito imparável, com pães-de-forma, táxis e transportes das autoridades, roulottes de hambúrgueres e cachorros, estádio de futebol (jogam Portugal x Argentina, mas a partida está parada com jogadores lesionados!) e urinóis públicos (com inscrições nas paredes a condizer: “sacudir + 3 x é pecado”). Os quadros repetem-se, sempre com uma pitada de humor, e não há semana em que não cresçam: no dia em que por lá passámos foi a vez de juntar Amália à colecção, que já contava com 1315 personagens, 293 casas, 155 viaturas e 2009 adereços. Um total de 3772 peças, na maioria nascidas na pequena oficina instalada logo à entrada.
Envidraçada, permitindo uma visão ampla sobre toda a aldeia, é lá que Tiago Cabeça passa os seus dias, entre o prato giratório e uma parafernália de pequenas ferramentas que ajudam as peças a ganhar vida (ali mesmo, à nossa frente, entre dois dedos de conversa, uma carpideira e dois elefantes), sempre com as mãos na massa. Ou, melhor, no barro. Da oficina, seguem para o forno, localizado no exterior, e daí para a mesa de pintura, onde Magda se encarrega de dar cor às formas criadas por Tiago: há peças que ficam nas prateleiras, quer da loja da Aldeia da Terra (acabadinha de inaugurar), quer no espaço que mantêm em Évora, para venda; outras seguem directamente para a aldeia, com respectiva contabilidade actualizada num quadro de ardósia.