Para quem só conhece a Guimarães que vem nos guias turísticos tradicionais pode ser difícil encontrar o novo hotel da cidade. Fica meio escondido numa rua que já foi uma das principais entradas e saídas da cidade, mas que hoje está algo esquecida. Um projecto com outras características arriscar-se-ia a passar despercebido, mas não será o caso do Hotel Santa Luzia, que abriu portas no último dia do ano passado. A arquitectura excelente e a sua dimensão, que fazem desta um das maiores unidades hoteleiras locais, são condições suficientes para que se torne marcante.
O hotel toma a designação da área onde se implantou, Santa Luzia, a antiga estrada em direcção a Braga e ao Alto Minho. A rua (hoje com o nome de Francisco Agra) é estreita e de casario irregular, próprio de uma artéria que se desenvolveu em torno de uma entrada da cidade. Esta zona ficou de fora da dinâmica de reabilitação urbana que mudou a face de Guimarães nas últimas décadas e está, por isso, algo degradada, mas, mesmo que esteja arredada dos circuitos turísticos mais comuns, está bem próxima do centro histórico, do castelo ou da Plataforma das Artes e Criatividade, três dos melhores motivos para visitar a cidade. Não será, pois, necessário mais do que uma caminhada de cinco minutos para encontrar qualquer um destes lugares a partir do hotel.
Mas primeiro há que encontrá-lo. Para isso, o melhor ponto de referência é o edifício dos Correios, prestes a ficar vazio, na Rua de Santo António, numa das entradas do centro histórico. A rua estreita que se vislumbra a partir da entrada desse prédio mal-amado pelos vimaranenses é a de Santa Luzia e a unidade hoteleira está sensivelmente a meio dessa artéria. Ao fim de umas dezenas de passos, já não haverá como deixar de notar o edifício, que conjuga a fachada e o portão de entrada numa casa oitocentista com um desenho corajoso de um novo corpo construído ao lado da estrutura pré-existente.
A obra foi projectada pelo gabinete de arquitectura Cerejeira Fontes, que tomou a opção de cobrir a fachada com um ripado metálico, que acentua a verticalidade da nova ala do hotel. Essa escolha repete-se no interior, onde tectos e paredes voltam a ser cobertos por ripados, desta vez em madeira. Essa solução torna-se uma verdadeira assinatura dos arquitectos bracarenses autores do projecto do Santa Luzia à medida que percorremos os vários espaços do hotel — e traz à memória que os ripados são centrais num dos projectos mais icónicos deste gabinete, a capela Árvore da Vida, no Seminário Conciliar de S. Pedro e S. Paulo, em Braga, vencedora do prémio ArchDAily de 2011 para o melhor edifício religioso.
Além da madeira, a arquitectura interior do hotel foca-se sobretudo no granito (de produção local), privilegiando as linhas rectas e simples. Mas, porque parte de uma pré-existente casa oitocentista de grandes dimensões — que estava abandonada há vários anos, encontrando-se bastante degradada — o projecto tenta manter essa memória, recuperando a sua organização original. Há uma lareira que dá as boas-vindas aos hóspedes e uma saleta que recorda as salas das casas de famílias abastadas. Por outro lado, o granito da fachada principal é deixado bem à vista na interior da área do bar ou na Loja das Tentações, um espaço de venda de produtos regionais e artesanato nacional, no rés-do-chão.
- Nome
- Santa Luzia Art Hotel
- Local
- Guimarães, São Paio (Guimarães), Rua Francisco Agra, 100
- Telefone
- 253071800