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O bosque encantado da nacional

Por Rute Barbedo ,

A propriedade agrícola que há 300 anos abastecia Lisboa “vende” hoje o campo de outra maneira.

Mal vemos onde pomos os pés quando Sérgio passa a contar que tentou apanhar uma das 35 ovelhas no bosque. “Mas ela corre mais rápido do que eu!”, lamenta. É ele quem cuida do rebanho, e o rebanho, por sua vez, cuida dos 11 hectares de pinheiros, sobreiros e ciprestes que, na visão dos proprietários, é o principal elemento diferenciador da Quinta dos Machados.

“Há muitas quintas com vinhas”, relvados ou jardins, mas natureza densa como esta nem tanto, acredita Miguel Almeida. Sim, estamos no campo. Já estávamos, mal embocámos no caminho para Gradil — às portas de Mafra —, longe de roseirais e de espargueiras. No Oeste, o campo despenteia-se em couves, cebolas e batatas, rente à erva orvalhada pelo Atlântico.

Ainda assim, é caso para dizer: nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Neste espectro saloio cabem roupões brancos e jacuzzi, a cozinha estende a mão ao micro-ondas e o café é Nespresso. Nos dias que correm, “what else”? 

Mas continua a ser um lugar caseiro. Não é mentira que depois do jantar, pelas dez da noite, encontrámos um casal enroscado no sofá a ver o Benfica. Nem é menos verdade que avistámos duas pernas delgadas a cirandar de pantufas. E porque lá fora o céu andou a diluviar ao vento, os “chazinhos” prolongados assentaram nas mãos que nem luvas.

Miguel Almeida e Carmo Tenreiro quiseram que quem os visitasse provasse compotas, biscoitos e bolos feitos na quinta, que cheirasse o pequeno jardim (quase ao estilo japonês) de alfazema, que aquecesse as mãos na fogueira. A ajudar à sensação está o vintage feito hoje e o verdadeiro, e algumas peças maciças vindas da arte de moer farinha. “Esta mesa, por exemplo, era uma esteira para malhar cereais”, indica Carmo, responsável pela decoração e pela organização de eventos (sim, além de hospedar citadinos desejosos de campo, este lugar também acolhe desde reuniões corporativas a casamentos, mas os dois planos nunca se misturam, ficando a tranquilidade intacta, garantem os proprietários). E tudo se firma na articulação com as comunidades locais. “Sempre que é possível compramos coisas usadas, em feiras da região ou em associações, e damos-lhe outra vida e dignidade. É uma quinta que quer fazer o máximo com o mínimo, porque isso preocupa-nos”, explica a decoradora.

Amor e guerra

A primeira reciclagem é a da propriedade em si, que foi construída pela família Camarate no século XVII e comprada pelos Machado no ano em que o terramoto que marcou a história da capital obrigou muitas famílias a procurar novos espaços de vida nas imediações de Lisboa. Mas sempre foi um espaço de produção agrícola, daí a eira, o lagar do vinho e o do azeite, que hoje impõem a sua presença e memória a escassos metros da Estrada Nacional 8. Era pela ribeira de Pedrulhos — que continua a correr na quinta — que alguns produtos circulavam para serem comercializados na Grande Lisboa. 

Sim, estamos no campo, mas também num pedaço com história, como a da avó Machado ter sido pedida em casamento junto à roseira Bela Portuguesa que fica por detrás da casa principal — peça rara no país, segundo os botânicos — ou a do batalhão de ingleses escondidos entre estes arcos em pedra durante a Invasão Francesa. História recente: em 2009, Miguel, gestor de empresas e com o tempo ocupado pela indústria do plástico, e Carmo, que trabalhou durante 20 anos em multinacionais, decidiram mudar de vida e adquirir a quinta. “Quando comprámos, estava tudo muito degradado”, recorda o empresário. Puseram as mãos à cabeça e depois à obra para recuperar o casario, preservando a traça e a envolvência — que começa nas tábuas corridas do chão, vai pelas molduras de granito e termina nas traves de madeira do tecto.

Nome
Quinta dos Machados
Local
Mafra, Gradil, E.N. 8 – Barras
Telefone
261 961 279
Website
www.quintamachados.com
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