Fugas - hotéis

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Um hotel na terra do silêncio

Por Andrea Cunha Freitas ,

Dizem que já foi uma aldeia fantasma. Hoje, no vale da serra da Marofa, em Figueira de Castelo Rodrigo, ergue-se o Colmeal Countryside Hotel, um lugar cheio de história(s) e com 700 hectares para ouvir.

Há uma estrada com curva e contracurva para lá chegar mas não custa nada. Ainda na viagem percebemos que o lugar compensa o incómodo de um caminho torto. A pouco mais de duas horas do Porto, está o nosso destino: Colmeal Countryside Hotel. Onde um dia existiu uma aldeia escondida num vale da serra da Marrofa, perto de Figueira de Castelo Rodrigo, existe hoje um conjunto de ruínas e um hotel de quatro estrelas. O resto é história. E muito silêncio.

Pouco a pouco, a desabitada aldeia do Colmeal ganha uma nova vida. Para já, encontramos ali um hotel e uma casa independente, edifícios modernos construídos em cima de ruínas, depois de aproveitados todos os pedaços possíveis de pedra. À volta das novas paredes há alguns restos de habitações de xisto e granito com tapetes de relva a céu aberto e as sobras de uma igreja, começada no século XII e que foi acabada aos soluços nos tempos que se seguiram.

Mas há mais. Há caminhos, árvores, bichos no chão e no céu e até há, a cerca de 300 metros do hotel, um cantinho onde ainda se podem ver uns vestígios do que se acredita serem pinturas rupestres do período neolítico. A quinta tem cerca de 650 hectares de silêncio para ouvir. Hoje, além dos hóspedes do hotel, que vêm e vão, há umas quatro pessoas a viver ali o ano todo: dois caseiros, o director do hotel e o cozinheiro.

Não foi sempre assim. Já ali viveu muita gente. “Algumas dezenas de pessoas”, admite João Leitão, um dos três irmãos que no Verão de 2011 começaram a fazer da herança do avô um negócio. O proprietário sorri com as histórias que se contam sobre o Colmeal. Talvez nem tudo seja verdade nestas histórias que, com o tempo, ganham sempre o tempero q.b. do exagero. 

Por isso ou outro motivo qualquer, João Leitão não faz muitos comentários aos relatos sobre uma violenta acção de despejo dos habitantes daquela aldeia pela GNR que terá ocorrido nos anos 1950 e que, dizem, envolveu tiros, casas queimadas e até mortos. No livro sobre o projecto Colmeal Countryside Hotel refere-se apenas que “no final dos anos 50 do século passado, um processo judicial acabaria por decretar a saída da população que ainda residia no Colmeal”. 

João Leitão volta a sorrir quando se fala sobre as raízes de Pedro Álvares Cabral no Colmeal. Não parece importar se ali nasceu a mãe da figura da história de Portugal, Isabel de Gouveia. O mais interessante são os sinais da história que ainda resistem no lugar. No topo de uma das portas do hotel está o vestígio bem conservado do século XVI: o desenho de “dois chibos” avermelhados. Eis o brasão dos Cabrais que parece confirmar que aquela terra foi herdada por Pedro Álvares Cabral. 

Verdade, sem exagero, é que a aldeia ficou deserta durante várias décadas. Uma aldeia fantasma, dizem alguns. Era assim que estava em 2011 quando os três irmãos herdeiros tiveram de decidir o que fazer com o terreno povoado de ruínas. Vender? Deixar estar? Ou arregaçar as mangas, agarrar naquelas terras e fazer algo novo? Está mais que visto qual foi a decisão. A mais acertada, arriscamos dizer. 

Nome
Colmeal Countryside Hotel
Local
Figueira de Castelo Rodrigo, Colmeal, Quinta do Colmeal
Telefone
271 312 352
Website
www.colmealhotel.com
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