Fugas - restaurantes e bares

Enric Vives-Rubio

Casinha encantada em jardim sobre o Tejo

Por José Augusto Moreira ,

Agarra-nos pelos mais diversos motivos: da cozinha que nos prende o gosto ao encanto do lugar e às vistas deslumbrantes sobre o rio e o casario lisboeta. No castelo de Almada mora um restaurante sobretudo dedicado aos peixes que merece incentivo e aplauso: Amarra Ó Tejo.

Está amarrado ao Tejo e agarra-nos também pelos mais diversos motivos: pela comida, o ambiente intimista (ou romântico, para os que assim preferirem), o rigor e aprumo como tudo acontece, mas também pelo enquadramento e vistas fabulosas que oferece sobre o Tejo, a ponte e o casario luminoso de Lisboa. Para além disso, o restaurante está numa espécie de casinha encantada, uma pequena construção de paredes de vidro cuidadosamente encaixada entre as árvores e voltada ao miradouro. Está-se mesmo bem!

Com tudo isto, e porque assim parece ser já lá vai quase década e meia, estranha-se que não seja mais badalado e procurado por gente com e/ou em busca de estatuto. Mas há circunstâncias que o podem explicar. Desde logo porque fica “na outra banda” e não é fácil lá chegar. Por ruelas da velha Almada e nada apropriadas aos bólides que terão também que estacionar longe das vistas. E isso não joga com estatuto. Outra das razões pode ter a ver com o estilo de serviço: correcto e rigoroso, esclareça-se, mas num conceito austero — quase impositivo, por vezes — e como tal sem mordomias ou arrebiques. Não devem gostar!

A gosto é sem sombra de dúvidas a cozinha, ao mesmo tempo simples, criativa e até com pormenores de sofisticação. Uma carta curta e sensata, à base de peixes frescos, pois claro, entradas com toques de criatividade e boa selecção de produtos. Carnes? Sim. Mas apenas com duas opções para os irredutíveis.

Couvert com pão e azeite (2,50€). Enchidos com paio de porco preto bolota (10€) ou de Ibérico Jabugo (8,50€) e três propostas de mariscos: camarão tigre (70€/kg); camarão cozido (50€/Kg); e gambas al ajillo (12,50€). Devorado o azeite e os pãezinhos, quentes e crocantes, passou-se logo às entradas, que se desdobram numa dezena de propostas. Puro produto, os pimentos “Amarra Ó Tejo” (8€), assados no forno e servidos apenas com flor de sal e azeite. Interessante a trouxinha de queijo de cabra (7,50€), um pastel com passas, amêndoa e chutney de cebola, e também muito bem conseguida a casca de alheira “amolecida” (8€), um troço de alheira crocante com a parte interior a ser recheada com espargos. O prato é montado ao alto com um ovo frito de codorniz a coroar a estrutura.

Propõe-se apenas um caldo, a “sopa da conchinha” (9,50€), uma saborosa e equilibrada sopa de mariscos no meio da qual é montada uma concha, de vieira, com camarão frito. Caldo saboroso e bem apurado, com amêijoa, berbigão, búzios e umas tostinhas. Não tivesse sido o pão torrado, ou frito em azeite (croutons), substituído pelas tostas adocicadas de fabrico industrial e estaria a roçar a perfeição.

Por provar ficaram polvo à galega, vieiras frescas ou carpaccio das mesmas, delícia de Camembert, batata doce assada, carpaccio de novilho, e um insinuante bife tártaro que é elaborado com queijo parmesão, alcaparras e pão de noz. Os preços oscilam entre 8/12€.

São oito as propostas de pescado, das quais se meteu o dente no polvo à lagareiro (19,50€), asa de raia à moda antiga (18,50€), vieira sauté (22,50€) e confit de bacalhau fresco e alho (21,50€). Tudo produto irrepreensível, com trato culinário impecável, servido de forma elegante e convidativa. E em doses mais que suficientes.

Acompanhou o polvo com a tradicional batata a murro, cebolada e grelos, enquanto a raia tinha como companhia um molho de alcaparras e elegantes batatas cozidas torneadas. Um risotto de espargos verdes a fazer brilhar a frescura da vieira, ao passo que o mais elaborado confit de bacalhau era servido em cama de batata doce e grelos, com um molho de queijo de Azeitão. Um prato arriscado, pela firmeza e intensidade de sabores, mas que resulta tenso, desafiador e bem equilibrado. É assim que se manifesta a competência da cozinha.

A carta propõe ainda garoupa estaladiça, com crosta de broa, linguini e feijão verde; filetes de peixe galo, com açorda das suas ovas; pregado gratinado, com crosta de pão e queijo sobre mil-folhas de legumes e molho de champanhe; e atum braseado, com batata alourada, tomate à algarvia e chutney asiático. Os preços por prato vão dos 19,50 aos 24,50€. É claro que há mais barato, só que não será a mesma coisa.

As duas propostas de carne constam de tornedó charolês (21,50€) e lombinho de porco preto (19,50€). Provou-se o primeiro, servido com primoroso molho de pimenta verde (há também de mostarda antiga), batata assada e legumes salteados, a atestar que a competência culinária e o critério na utilização dos produtos não são exclusivos dos pescados.

Criteriosa é também a lista de vinhos, com oferta reduzida mas a procurar cobrir todas as regiões do país. E a fugir à tentação das extravagâncias que por vezes se vêem por aí. A frescura e intensidade de um dos bons espumantes da Bairrada, o bruto da casa Campolargo, e a envolvência redonda do mais recente Esporão Reserva Branco estiveram ao nível da refeição, que pedia um fecho à altura — o extraordinário Aneto 2007, um colheita tardia do Douro que bem mostra a riqueza e diversidade do país vitícola.

São dez as sobremesas propostas, da selecção e queijos (Nisa, Parmesão, Cabra e Azeitão) aos granizado de chocolate branco e gelado de limão. Provámos o pudim Abade de Priscos, que sem nos levar até Braga fez brilhar o Aneto; brownie de avelã, com gelado de caramelo; cheesecake quente de baunilha e citrinos, bem interessante; e o muito competente pão-de-ló de queijo de cabra, com azeitona confitada e fruta da época. Os preços andam entre os 4,50 e 7,50€.

No castelo de Almada há coreto, um jardim cuidado e bancos ondulados que convidam à preguiça. Atrai também pelo miradouro e vistas que nos amarram irremediavelmente ao Tejo, mas também com esta cozinha que nos prende pelo paladar. Para lá do critério e elegância com que é servida, afirma-se pela qualidade na selecção dos produtos, critério e acerto culinário, num estilo que procura a sofisticação das coisas simples. E sabe-se como isso é tarefa só para alguns.

Nome
Amarra Ó Tejo
Local
Almada, Almada, Largo 1.º de Maio (Jardim do Castelo)
Telefone
212730621
Horarios
Terça a Domingo das 12:30 às 15:00 e das 19:45 às 23:00
Terça a Sábado das 12:30 às 15:00 e das 19:45 às 23:00
Website
http://www.amarraotejo.pt/
Preço
40€
Cozinha
Peixe e Marisco
--%>