Entramos a ouvir o classicismo de Filipe Acácio, fadista e nosso guia por aqui, os pianinhos e estilo de Yola Dinis ou o fado quase experimentalista de Marco Rodrigues. Pelas salas em galeria, tectos abobadados, colunas de pedra, palco corrido a cortinas vermelhas, luminosos vitrais e sólidas madeiras, passaram quase todos os grandes.
Suma atracção turística e restaurante luxuoso em espaço de antigas adegas e cocheiras de um palácio setecentista tornado sala de espectáculos profissional e bem artilhada, o café fadista do Bairro Alto está historicamente marcado por figuras como Amália Rodrigues - que aqui gravou em disco um espectáculo que se tornaria de culto -, Alfredo Marceneiro e tantos outros. O Luso, que começou a receber convivas nos finais da década de 20 em casa na Avenida da Liberdade, firmou-se como sala de referência nos anos 40, já no Bairro. Foi-se modernizando e, nos anos 90, comandado por João Pedro Ferreira Borges e sócios, começou um novo (velho) fado.
Hoje, além de um elenco de topo - que, inclui, realce-se, a visita de Celeste Rodrigues, que do alto dos seus 88 anos continua a marcar presença, habitualmente às sextas e sábados - prossegue a aposta na captação de turistas e numa restauração que procura inovar a tradicional gastronomia fadista.
Não falta o caldo verde ou o bacalhau, mas a cozinha, curiosamente, é comandada pelo chefe brasileiro Aléxis Gregório, que se esmera no conhecimento da gastrocultura portuguesa. A acompanhar os fados, há menus gourmet e pratos sazonais que recriam clássicos sob nomes musicais. Enquanto a imponente Yola Dinis lança "Velha taberna / Nesta Lisboa moderna / É a tasca humilde, eterna", nós poderíamos apreciar um magret de pato em frutos silvestres ou um cozido à portuguesa desconstruído.
Nada muito económico, que os fados em grande nunca saem baratos. "Aqui é tudo de qualidade", salienta Filipe Acácio. "Isto quando é a sério não é um espectáculo barato"; é que "só nesta casa trabalham umas 50 pessoas". Embora adiante que é o turismo que enche o Luso (há inclusive um espectáculo de folclore que lhes é dedicado), Acácio sublinha que há cada vez mais portugueses e cada vez mais jovens.
Numa segunda, tradicionalmente dia de pouca afluência, até porque a noite já vai longa (e os grupos de turistas saem cedo), Marco Rodrigues canta e toca no Luso só para nós e para uma mesa de turistas ávidas das suas palavras melodiosas, numa união quase jazzy com a guitarra portuguesa e um contrabaixo. O elenco semanal, além dos Rodrigues, Dinis ou Acácio, inclui também Elsa Laboreiro, Isabel de Noronha e Pedro Moutinho.
Comer e beber
O jantar custará acima dos 45/55€, sendo o consumo mínimo sem jantar (a partir das 22h30) de €25.
Embora a gastronomia tradicional das casas de fado seja a base, aqui o chef reconstrói pratos e dá-lhes um toque gourmet. Aliás, até os peixinhos da horta surgem na ementa como gourmet e a lista propõe logo como entradas outras variações como gambas em caramelo, piripíri e gengibre.
Nos pratos, o bacalhau pode ser à Alentejo (quase sem espinhas com cebolada em cama de açorda de coentros e azeite de ervas). O marisco inclui gambas desfiadas (camarão-tigre envolto em fios de batata, guarnecido com arroz de coentros).
O peixe, espadarte braseado (lombo de espadarte braseado com molho de citrinos sobre puré de aipo com wasabi e alho francês salteado).
Na carne, também há cozido à portuguesa (mas, lá está, em variação gourmet, apresentando-se limpinho no prato, destrinçando a carne de porco, frango, vaca e enchidos, hortaliças, arroz e feijão), pato silvestre ou vitela aos sabores da serra.
Nas sobremesas, sugere-se uma mousse de arroz doce com crocante de arroz selvagem ou mil-folhas de sericaia com geleia de ameixa e coulis de lima e limão.
- Nome
- Café Luso
- Local
- Lisboa, Encarnação, Travessa da Queimada, 10
- Telefone
- 213422281
- Horarios
- Todos os dias das 19:30 às 02:00
- Website
- http://www.cafeluso.pt
- Preço
- 55€
- Cozinha
- Portuguesa
- Espaço para fumadores
- Não