Fugas - restaurantes e bares

Nuno Ferreira Santos

XL sempre à cunha e sem surpresas

Por David Lopes Ramos ,

O nosso crítico não ia a este restaurante de Lisboa desde 2001. Voltou lá e reencontrou uma cozinha segura, nada dada a entusiasmos passageiros ou a modas, apaladada e que agrada a uma clientela que conseguiu fidelizar e lhe esgota a capacidade com muita frequência.
É um fenómeno de popularidade, este XL. É assim desde a sua abertura, nos anos 90 do século passado, num rés-do-chão da Rua de São Bento, quando servia bifes tardios e potatoes skin, uma especialidade irlandesa, cascas das batatas fritas, estaladiças, que podemos continuar a pedir como entrada. Já não ia ao XL desde Setembro de 2001 e a casa pouco mudou. Terá mais uns candelabros com velas, as paredes foram pintadas de novo, parece-me que tem um pouco mais de luz, mas, no essencial, quer dizer, na cozinha, as coisas estão praticamente na mesma. Cozinha-se bem no XL. Os produtos, salvo um caso ou outro, têm qualidade, os temperos são os adequados, bem como os pontos de cozedura, a casa fidelizou uma clientela que, com muita frequência, lhe preenche todas as mesas. Foi assim no primeiro turno de uma destas terças-feiras e a situação repetiu-se no sábado seguinte.

Não há, actualmente, em Lisboa, muitos restaurantes que se possam gabar de lotações esgotadas, a exigir a quem lá queira ir marcação prévia de mesa, como sucede no XL de Vasco Gallego. E tem de dizer-se que não se trata de um restaurante barato, mas a classe média que o frequenta parece não ter razões de queixa neste particular ou noutros. Incluindo o da alta vozearia, para mim um dos pormenores mais desagradáveis do ambiente. Uma das inovações da oferta do XL em relação a Setembro de 2001 é a existência de um menu degustação, que não está disponível às sextas-feiras e sábados. É composto por cinco entradas, um prato de peixe, um prato de carne, sobremesa e café e custa 58 euros, sem bebidas, claro. Como em quase todos os restaurantes, é servido para toda a mesa.

Comparando a ementa actual com a de há nove anos, vemos como novidades nas três dezenas de entradas o pan tomaca, que deverá ter afinidades com o pan amb tomac catalão, mas no caso do XL o pão esfregado com tomate maduro é servido com presunto de porco ibérico; os "calamares com molho alioli" (9,50 euros), um petisco muito agradável devido ao bom tamanho das lulas, cortadas em aros, envolvidas num polme fino e bem fritas, sendo que o molho de alho é tipo "português suave", para não prejudicar o bafo; o "ovo Viridiana" (9,90 euros), que se junta aos ovos à professor e ao ovo na galinha, uma criação do chefe espanhol Abraham Garcia. Na versão original, trata-se de ovo estrelado , servido na companhia de boletos e de trufas pretas e está na actual ementa do Viridiana (Calle Juan de Mena, 14, Madrid; telefones: 915234478; 915315222) a 35 euros. A interpretação do XL não deixa de ser saborosa, mas é muito mais modesta: o ovo, bem estrelado, surge envolvido num creme de cogumelos, trufa e foie, em que se podem molhar umas torradinhas; as "gambas despenteadas" (9,75 euros) são envolvidas em massa kataifi (cabelos de anjo) e, pareceu-me, terminadas no forno; a massa turca, também muito usada pelos gregos, evita que as gambas sequem e enriquece-as com notas estaladiças; no domínio das novidades, experimentou-se ainda o "mexilhão com manteiga de ervas" (9,10 euros), receita engenhosa, mas prejudicada pela falta de qualidade do bivalve; quando a fizerem com mexilhões frescos da nossa costa ou da Galiza, o petisco merecerá que o honrem; o "tártaro de salmão com as suas ovas", que não se pediu, é outra das novidades deste sector da carta. Mantêm-se, entretanto, o polvo à galega, o folhado de queijo de cabra, a salada do chefe, o foie gras com brioche ao Pedro Ximenez", entre outros. Bem como as "molejas salteadas em manteiga com alcaparras", que me parecem ter uma existência virtual, visto que, como em 2001, pedidas das duas vezes, em ambas me foi dito que não havia.

As sopas, uma meia dúzia, não se provaram. Dos soufflées, um dos emblemas da casa, pediu-se o de bacalhau (16,70 euros), para se confirmar que é no XL que se comem os melhores soufflées salgados que conheço. Chegou à mesa bem enfolado, de massa leve que não se amachucou, muito quente, muito bom.

Dos peixes provaram-se um clássico da casa e da cozinha lisboeta, o bacalhau à Brás (15,90 euros), muito suculento, amarelinho de gemas de ovos, conjunto catita; e as novidades - falo sempre em relação a 2001 - raia au beurre noir (18,90 euros), muito fresca, cozida a vapor no ponto, servida com a manteiga queimada e umas alcaparras para cortar a gordura, mais um competente puré de batata; e o toro de atum (19,90 euros), designação incorrecta, pois toro é o nome japonês para a parte mais gorda da barriga do atum, antes um belo bife, bem temperado e cozinhado no ponto, isto é, muito mal passado, servido na boa companhia de linguini com tinta de choco.

Das carnes, entre muitas escolhas possíveis, entre elas os bifes com que tudo começou nos anos 90, deixados de lado as novidades bochechas de porco preto e magret de pato, escolheu-se o rabo de boi (18,75 euros), uma das vedetas deste regresso; belissimamente temperado e estufado, foi servido com puré de batata, que aceitou na perfeição o apurado molho.

Nas duas jornadas beberam-se, por copos adequados à função, de uma carta de vinhos que impressiona pela quantidade, qualidade, actualidade da selecção e datação das colheitas, os brancos Morgado de Santa Catherina 2007 (18,90 euros) e Tiara 2008 (27,90 euros), este Niepoort pareceu-me mais austero e mais vinho do que as colheitas anteriores e o Morgado de perfil mais frutado e fresco do que outras safras, e o tinto Duas Quintas 2007 (12,80 euros, meia garrafa), que, com o seu perfil fino e harmonioso, foi o contraponto ideal à rusticidade do prato de rabo de boi. Quem quiser levar a sua garrafa pode fazê-lo, contra o pagamento de uma taxa de 15 euros de serviço. Esclareça-se que há um conjunto significativo de garrafas na carta de vinhos abaixo dos 15 euros.

As sobremesas são, como antes, o sector menos relevantes da ementa: crumble de maçã (4 euros), blattertorte (3,60 euros), crème brulée (4,10 euros) e uma mousse de chocolate com praliné de amêndoa (4,20 euros), que parecem todas saídas de uma dessas centrais de fabrico de doces. Com a agravante de a mousse de chocolate, aliás muito boa, não vir acompanhada de nenhum praliné, mas sim de farinha de amêndoas. O serviço é despachado, mas poderia ser organizado de maneira que, quando chegasse à mesa, o empregado soubesse quem pediu o quê.

A quem interessar, fica então avisado de que, para o pior - querendo evitar susceptibilidades digo, como os treinadores e jogadores de futebol, "o menos bom" - e para o melhor, o XL se mantém igual a si mesmo: afreguesado, barulhento, com uma cozinha segura, nada dada a aventuras, apurada e apaladada.

Nome
Restaurante XL
Local
Lisboa, Lapa, Calçada da Estrela, 57/63
Telefone
213956118
Horarios
Segunda a Sábado das 20:00 às 02:00
Preço
35€
Cozinha
Internacional
Espaço para fumadores
Sim
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