Fugas - restaurantes e bares

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Um imperador na noite do Porto

Por Mariana Pinto ,

Tem um currículo de mais de três décadas e é uma alternativa aos destinos de enchente do Porto. O Bonaparte, voltado para o mar da Foz, tem como clientes avós e netos e paredes repletas de antiguidades. Pedimos uma cerveja e ouvimos algumas das histórias que fazem a história do "Bona".
A conversa não demora muito até que tenhamos a certeza daquilo que já desconfiávamos: no Porto, o Bonaparte é um pub-mito. Um espaço para quase todos, mas, acima de tudo, para um grupo de "habitués" que se habituaram a fazer deste bar uma espécie de segunda casa. Já lá vamos.

 

Primeiro uma cerveja, por favor. Não que a conversa precise de ânimo extra, mas, perante a panóplia que nos é apresentada, é falha grave não fazer o pedido. Talvez o aspecto exterior do Bonaparte (e a sua improvisada esplanada em pleno passeio da Avenida do Brasil) não seja uma tentação irresistível à entrada, mas um pé lá dentro é carimbo de forte probabilidade de regresso. Madeira escura, luminosidade baixa, sofás de couro frente a frente, com as mesas (também em madeira) no centro, a fazer lembrar locomotivas de outros séculos.

 

Isto é o geral. Mas são os pormenores quem mais ordena: pelas paredes, pelo tecto ou pelos balcões, perdemo-nos entre velhos anúncios de cerveja, barcos e carrinhos de colecção, "frames" históricos numa máquina fotográfica, um espelho imponente de moldura talhada a ouro, "bonecas antigas, um relógio de uma estação de comboios e um gramofone". Estes três estão no pódio dos objectos mais cobiçados da casa: "Temos dois ou três clientes que insistem em tentar comprar estas peças, mas dificilmente cedemos", conta Paulo Gonçalves, proprietário do Bonaparte, juntamente com Cláudia Teichgräber.

 

Mas houve um tempo em que a ideia de entrar no Bonaparte para comprar antiguidades não era desapropriada. O tempo de Klaus Teichgräber, fundador do pub. Quando se mudou para o Porto e alugou o número 130 da Avenida do Brasil, este emigrante alemão, coleccionador de antiguidades, fez do primeiro andar a casa da família (hoje é também parte do pub) e decorou o rés-do-chão com algumas das muitas antiguidades que tinha (nessa altura, o espaço era um dois-em-um: bar e loja de antiguidades aberta ao público). O resultado é uma parafernália de improváveis objectos, feita sem esboço prévio: "Uma peça de cada vez, pouco a pouco", conta Paulo Gonçalves, responsável pela decoração do primeiro andar do Bonaparte, quando este passou de restaurante (onde a decoração era mais "clean") a prolongamento do pub, há cerca de quatro anos.

 

Quem entra no Bonaparte não busca alternativa aos destinos de enchentes da cidade (Rua da Galeria de Paris, Cândido dos Reis). O Bonaparte não está na moda, mas é moda permanente para muitos: "Temos clientes que não falham um dia, avós que trazem os netos; é dos 16 aos 80", garante o proprietário. Os turistas são também público do Bonaparte, mas não tanto como os proprietários gostariam: "Infelizmente, a zona da Foz não está ainda muito dinâmica, os turistas optam todos pela Ribeira", lamenta.

 

No "Bona" (assim lhe chamam os clientes mais assíduos) a banda sonora é como o público que entra na casa: heterogénea. "Música dos anos 60 aos 90, jazz, blues e, acima de tudo, muita variedade." Na prática, são sobretudo as conversas intimistas que enchem a casa de som. Os 32 anos de sucesso do Bonaparte não têm "segredo", diz Paulo Gonçalves, mas "a decoração, as antiguidades, a localização e o serviço", juntos, contribuem decisivamente para ele.

 

De saída, pés no passeio portuense, temos a sensação de ter regressado de uma longa viagem: à Irlanda e à Inglaterra (no típico pub, na decoração), a França (no nome da casa), à Alemanha (na nacionalidade do fundador). É também isto o Bonaparte: um pub internacional.

 

Referências

 

Para beber e comer
A lista de cervejas - com mais de trinta variedades - é uma espécie de volta ao mundo: há as portuguesas, as espanholas, as belgas, as famosas alemãs e irlandesas (há até a cerveja bebida pelo mediático Homer Simpson). Mas para os que não apreciam, não faltam alternativas: o vinho a copo (€3,5) é uma aposta recente da casa ("Ainda não há muita tradição de beber bom vinho a copo, no Porto, mas queremos implantá-la", explica Paulo Gonçalves) e os mojitos (€4) arriscam-se a figurar na lista dos melhores da cidade do Porto. Para revestir o estômago, as tapas variadas (desde €5) e os míticos pregos de lombo (€6) dão conta do recado.

 

Ecrã gigante e plasmas
Se o estádio é longe, se os bilhetes são caros, se se procura ambiente de grupo sem confusões de maior, o Bonaparte resolve. Em dias de jogos de futebol - sobretudo Liga dos Campeões - o espaço enche mais do que o habitual e mais cedo do que o normal. São dois plasmas no rés-do-chão (espaço para não fumadores) e um ecrã gigante no 1.º andar (aqui o fumo é permitido) - destino de todos os olhos em dias de jogos. 
Nome
Bonaparte
Local
Porto, Foz do Douro, Avenida do Brasil, 130
Telefone
226188404
Horarios
Todos os dias das 19:00 às 02:00
Website
http://www.bonaparteporto.net
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