Fugas - restaurantes e bares

Nelson Garrido

Era uma vez no Porto ''vintage''

Por Andreia Marques Pereira ,

Quando abriu, em 2005, tornou-se quase um clássico. Não faltava nada, desde a decoração retro à vocação alternativa. O Era Uma Vez no Porto está mais bar, mas o charme "vintage" mantém-se e agora também "bate o pé" no Rés-do-Chão.

No início foi o Porto. E a vontade de fazer algo ligado à música e à moda. Algo memorável, algo como um encontro fugaz em terras estranhas que se agarra à memória, algo ao estilo de "era uma vez.". Então, surgiu um "era uma vez" que começa (e acaba) no Porto um "era uma vez" de colheita "vintage", e, portanto, irredutivelmente contemporâneo. É mais conhecido como bar, mas é também salão de chá e já foi muitas outras coisas só nunca foi monótono.

Após o terceiro aniversário, o Era Uma vez no Porto apresentou-se mais encolhido e mais especializado. A parte boa é que manteve a personalidade retro e alternativa que fez dele um clássico imediato e até descobriu que sabe dançar, pelo menos "bater o pé": fá-lo no Rés-do-Chão, ao fim-de-semana apenas, no espaço onde já se vendeu roupa "vintage" e em segunda mão, bicicletas cruiser e chopper, artesanato urbano.

Entramos na casa antiga, branca, largas janelas com vista para o rio Douro prestes a encontrar-se com o mar, pelas porta escancarada não há nenhum sinal, mas a porta assim é um convite, para descobrirmos um espaço que já foi muitos espaços, embora tenha sido originalmente pensado para ser apenas sala de chá e bar. Transformou-se, por força das circunstâncias ("tinha" de ser aquela casa, mas era sobredimensionada para o projecto inicial) num pequeno, pequeníssimo, centro comercial alternativo e camaleónico uma espécie de Artes em Partes (ainda mais) familiar. O que permanece igual é a sala de chá/bar (que na verdade são três espaços, com ambientes distintos), no primeiro andar.

De resto, já houve um cabeleireiro, loja de mobiliário, loja de produtos naturais. O Era Uma Vez no Porto já vestiu muitas peles (irá, com certeza, vestir outras) e agora apresenta-se em versão reduzida (quase) até ao esqueleto e esse esqueleto é mesmo a sala de chá/bar, que actualmente se faz acompanhar somente do Gira-Discos, o espaço onde a música, a literatura e o cinema se encontram em porções desequilibradas, mas onde há papel de parede retro à venda para compensar.

Aliás, retro é mesmo a palavra de ordem (e não faltam sequer os sabonetes e outros produtos da Claus Porto para vender, em exposição numa cristaleira), sobretudo na decoração. O papel de parede que vendem também cobre duas salas: uma é uma espécie de "lounge" no andar superior, tons de verde, castanhos e amarelos nas paredes, mesas baixas e "puffs" uma sala saída dos anos 70, portanto; a outra é o recém-inaugurado Rés-do-Chão, um "prolongamento do bar", como explicou Nelson Pedrosa, sóciogerente, em vários tons de rosa (e rosas nos tampos das poucas mesas), que se ilumina com a bola de espelhos no meio e vários focos de luz há candeeiros, retro, claro, pendurados por cima do balcão mas esses são para venda. É aqui que se "bate o pé", diz Nelson, o contraponto do andar de cima, onde a ideia é sentar, beber um copo e conversar.

A sala principal é a que merece verdadeiramente o epíteto de sala de chá: paredes brancas, mobiliário de madeira escura, devidamente caucionado pelo acumular de anos porque a atmosfera é sempre "vintage", embora nunca pesada ou ostensiva. Às vezes são apenas pormenores: mesinha com telefone e sofás no patamar das escadas, bengaleiro com espelho no cimo.

Podia ser, portanto, a casa da avó e não faltam mesmo os quadros e as fotografias na parede, porque essa é outra das caras do Era Uma Vez no Porto que se mantém, um espaço onde as exposições se sucedem de cinco em cinco semanas.

O que é certo é que os clientes se sentem em casa e esse era o objectivo; e ali só vão os clientes que se querem sentir em casa. Porque o Era Uma vez no Porto não é um local de massas é "cosy" no espaço e no atendimento, relaxado e informal. E depois há a música é alternativa e não há volta a dar-lhe: o indie-rock ocupa um lugar especial e a "playlist" está sempre em actualização. Mas como ali não entram fundamentalismos, há também música portuguesa e brasileira, por exemplo, tudo depende dos DJ, que são normalmente "amigos" da casa.

Um amigo, involuntário, da casa, é Eugénio de Andrade. As suas palavras são quase uma assinatura e estão plasmadas nas ementas: "O Porto é só uma pequena praça onde há tantos anos aprendo metodicamente a ser árvore". Este Era Uma Vez pertence a esse Porto e é tão "vintage" e actual quanto as palavras do poeta. A praça de Eugénio era a da Alegria, a do Era Uma Vez no Porto é o Jardim do Passeio Alegre por coincidência, a dois passos da casa onde o poeta viveu e morreu pouco tempo antes de o espaço abrir as suas portas, em Setembro de 2005.


Referências

Casa de chás
Como casa de chá que também é, o Era Uma vez no Porto tem uma selecção cuidada de chás. Não são muitos, mas alguns prometem euforia, relaxamento, aumento de poder de raciocínio, acção reparadora e mais algumas coisas e têm nomes como Dreamscope, Afrodite, Yogi Tea. Há ainda os chás mais comuns: vermelho, branco, hortelã-pimenta. Entre €3,50 e €4 por bule (dá para mais do que uma pessoa).

Livros&música
Na parede, os rostos de Scarlett O'Hara e Rhet Butler até podem induzir em erro. No Gira-Discos há cinema (DVD), mas é uma amostra residual. Ali, é a música (CD e vinil) e a literatura que dominam. Os livros têm a chancela da Papiro e da Bertrand (em breve regressa a Quasi) e encontra-se desde a poesia de Vasco Graça Moura à "Utopia", de Thomas Moore, passando pelo álbum "Paris Eros" (preços desde €6). Na música a tendência é a do bar, indie-rock, mas encontram-se vinis (entre €9 e €22) de Brigitte Bardot a Rolling Stones, sem esquecer Aretha Franklin. De resto, espera-se MGMT e Vampire Weekend, Battles e Blonde Redhead. Os CD começam nos €10 e vão até €16.

"Happy Days"
Às terças e quartas-feiras, os finos e as minis bebem-se a €1,20. E às segundas e quintas as caipirinhas ficam por €2,50. O chá é a €2,50 ao domingo.

Nome
Era uma vez no Porto
Local
Porto, Bonfim, Rua das Carmelitas, 162, 1.º
Telefone
914376801
Horarios
Segunda a Sexta das 21:30 às 20:00 e das 21:30 às 02:00
Sábado e Domingo das 16:00 às 02:00
Website
http://www.eraumaveznoporto.blogspot.com
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