A cozinha deste restaurante Guarda Real, do lisboeta Hotel Real Palácio, enquadra-se nesta caracterização, sendo as ementas do seu restaurante da responsabilidade do jovem chefe de cozinha Celestino Grave e sua equipa. A lista abre com seis "entradas & saladas"; quatro "sopas e caldos"; cinco "peixes"; cinco "carnes"; seis "massas & risotos"; sete "sobremesas". Elaborados com pratos constantes do serviço à lista, há o "menu degustação Bairro Alto" (entrada, prato de peixe, prato de carne e sobremesa, 42,50 euros, sem bebidas); e o "menu degustação Belém" (entrada fria, sopa, prato de peixe, prato de carne e sobremesa, 65 euros sem bebidas). Acresce a esta oferta o "menu executivo", servido de 2.ª a 6.ª feira, apenas aos almoços e que muda todos os dias, em duas modalidades: "completo", com entrada, prato principal e sobremesa, 30 euros; e "duas sugestões", com entrada ou prato principal ou sobremesa, 20 euros, "incluindo vinho a copo em cada prato".
Notas de um almoço e jantar recentes. Do menu executivo do dia 13 de Maio, pediu-se a "salada tropical com camarão e molho mil ilhas" (9,50 euros), entrada fria, como é bom de ver, constituída por bocados de papaia e kiwi, alfaces, rabos de gambas (por que é que não lhes tiram a tripa?) e um molho cor-de-rosa da família do "cocktail"; mostrou-se fresca e ligeira, que era o que se esperava dela; o prato eleito foi o "arroz de marisco" (13,50 euros), embora ao mesmo preço houvesse um "tachinho de carne de alguidar com amêijoas". Ora, este arroz, cheiinho de gambas e uns mexilhões, estes daqueles congelados que não sabem a nada, teria ganho se tivesse ficado ao lume uns dois minutos mais. O núcleo do bago estava cru, o que é desagradável. Estava cru e não al dente, que é um ponto de cozedura que fica bem ao arroz.
Da lista pediu-se o "gaspacho cremoso com jaquinzinhos fritos" (6,50 euros), o caldo frio dos dias quentes das nossas terras do Sul, servido sem os legumes aos cubinhos, mas com todos os aromas e sabores do original num creme fino: avinagrado, azeitado, presença do alho, do pimento, do tomate e dos orégãos, mais a companhia cabal de três carapauzinhos muito bem fritos e frescos, muito bem. Menos bem o "tacho de choquinhos estufado com ervilhas e batata-doce de Aljezur" (16 euros), primeiro pela ausência dos choquinhos, substituídos por bocados de chocos adultos, frescos e saborosos, mas não choquinhos. As ervilhas também não compareceram e a batata-doce dita de Aljezur não tinha nem a cor nem a doçura que é costume ter. Além disso, o molho apresentou-se carregadinho de calda de tomate, com duas insólitas rodelas cruas deste legume a boiar e uma presença excessiva de coentros. Sejam rigorosos, por favor.
O "doce de leite merengado" (5 euros), do menu executivo, e a "farófia sobre biscoito de canela, espuma de creme baunilhado e gelado de mel" (7 euros) foram as sobremesas, que cumpriram, embora ostentando uma presença notória de essências, pormenor a exigir correcção. O amouse bouche desta refeição foram uns niquinhos de pombo guisado apaladado. Bebeu-se o Alvarinho Soalheiro 2009 (20 euros), ainda a acusar uma presença excessiva de sulfuroso no aroma. Alguns vinhos brancos estão a sair para o mercado muito cedo, o que não os beneficia.
O jantar, dois dias depois, correu muito melhor. O amouse bouche foi uma refrescante saladinha de polvo. Seguiram-se, como entradas, "vieira salteada com mexilhão avinagrado e salada de flores" (12 euros), com os mariscos bem trabalhados (a vieira na frigideira e os mexilhões cozidos e aos bocadinhos), refrescados pelo molho avinagrado e uma salada de rúcula, enfeitada com três ou quatro pétalas de rosa amarela; e os "lagostins na chapa com fricassé de amêijoas e coentros" (15 euros), conjunto catita, com os quatro lagostins em bom ponto de cozedura, corpo descascado (por que é que não lhes tiram a tripinha?), mas com a cabeça e a ponta do rabo, com o molho de fricassé bem cremoso e saboroso e as amêijoas frescas e com a casca e os coentros discretos.
Os pratos pedidos foram o "bacalhau panado com amêndoa sobre salteado de cogumelos e arroz malandro de coentros" (18 euros), com o gadídeo bem demolhado, cortado em iscas altinhas, sem espinhas e pele, bem panado e frito, servido com cogumelos salteados, conúbio que se revelou harmonioso, e um arroz de coentros servido no ponto e ainda bem que pouco amalandrado; e o "tornedó de novilho, salteado de batata, enchidos regionais e mousse de bróculos" (19 euros), prato substancial, constituído por um naco de uma carne macia, bem sangrada, suculenta, mal passada (como se pedira), enfeitada e apaladada por niquinhos de boas morcela e chouriça, servido à fatias grossas sobre batatas salteadas e uma mousse de bróculos, forma engenhosa e saborosa de valorizar este legume verde, por vezes um tanto enjoativo por excesso de cozedura.
Como sobremesas pediram-se a "areada de maçã" (oito euros), com um belíssimo gelado original que escondia no seu interior praliné e pedaços de passas de fruta; e uma muito bem imaginada e trabalhada "trilogia conventual: espuma de arroz doce, shot de pastel de nata e gelado de toucinho do céu" (oito euros). As sobremesas são da responsabilidade do chefe de pastelaria Francisco Pavia. Bebeu-se o branco Vinha Formal de 2004 (19,50 euros, excelente relação qualidade/preço), de Luís Pato, que está numa fase de evolução óptima e se mostrou capaz de acompanhar toda a refeição. A carta de vinhos do Guarda Real, embora não muito extensa, é equilibrada quanto às regiões e aos preços, havendo alguns vinhos a copo. O serviço é atento e prestável. A cozinha é inspirada sobretudo nos nossos sabores do Sul, o que lhe fica bem, devendo esforçar-se por tornar o rigor da confecção no seu objectivo máximo.
- Nome
- Guarda Real
- Local
- Lisboa, Lisboa, Rua Tomás Ribeiro, 115
- Telefone
- 213199500
- Horarios
- Todos os dias das 12:00 às 15:00 e das 19:30 às 22:30
- Website
- http://www.hoteisreal.com
- Preço
- 30€
- Cozinha
- Internacional
- Espaço para fumadores
- Não