Fugas - restaurantes e bares

  • DR
  • Nuno Ferreira Santos

Uma cozinha de sabores do Sul

Por David Lopes Ramos ,

O restaurante Guarda Real, que tem o chefe de cozinha Celestino Grave como responsável, pratica uma cozinha inspirada nos aromas e sabores do Sul. O nosso crítico elogia-lhe a escolha e pede apenas um pouco mais de rigor na confecção de alguns dos cozinhados.
A generalidade dos novos hotéis portugueses melhorou de forma significativa a sua oferta culinária. Muitos dos seus restaurantes têm como responsáveis chefes de cozinha bem preparados, os quais, em vez da chamada cozinha internacional, sempre difícil de caracterizar, apresentam uma oferta culinária original, respeitadora da sazonalidade, bem como das melhores qualidades dos produtos.

A cozinha deste restaurante Guarda Real, do lisboeta Hotel Real Palácio, enquadra-se nesta caracterização, sendo as ementas do seu restaurante da responsabilidade do jovem chefe de cozinha Celestino Grave e sua equipa. A lista abre com seis "entradas & saladas"; quatro "sopas e caldos"; cinco "peixes"; cinco "carnes"; seis "massas & risotos"; sete "sobremesas". Elaborados com pratos constantes do serviço à lista, há o "menu degustação Bairro Alto" (entrada, prato de peixe, prato de carne e sobremesa, 42,50 euros, sem bebidas); e o "menu degustação Belém" (entrada fria, sopa, prato de peixe, prato de carne e sobremesa, 65 euros sem bebidas). Acresce a esta oferta o "menu executivo", servido de 2.ª a 6.ª feira, apenas aos almoços e que muda todos os dias, em duas modalidades: "completo", com entrada, prato principal e sobremesa, 30 euros; e "duas sugestões", com entrada ou prato principal ou sobremesa, 20 euros, "incluindo vinho a copo em cada prato".

Notas de um almoço e jantar recentes. Do menu executivo do dia 13 de Maio, pediu-se a "salada tropical com camarão e molho mil ilhas" (9,50 euros), entrada fria, como é bom de ver, constituída por bocados de papaia e kiwi, alfaces, rabos de gambas (por que é que não lhes tiram a tripa?) e um molho cor-de-rosa da família do "cocktail"; mostrou-se fresca e ligeira, que era o que se esperava dela; o prato eleito foi o "arroz de marisco" (13,50 euros), embora ao mesmo preço houvesse um "tachinho de carne de alguidar com amêijoas". Ora, este arroz, cheiinho de gambas e uns mexilhões, estes daqueles congelados que não sabem a nada, teria ganho se tivesse ficado ao lume uns dois minutos mais. O núcleo do bago estava cru, o que é desagradável. Estava cru e não al dente, que é um ponto de cozedura que fica bem ao arroz.

Da lista pediu-se o "gaspacho cremoso com jaquinzinhos fritos" (6,50 euros), o caldo frio dos dias quentes das nossas terras do Sul, servido sem os legumes aos cubinhos, mas com todos os aromas e sabores do original num creme fino: avinagrado, azeitado, presença do alho, do pimento, do tomate e dos orégãos, mais a companhia cabal de três carapauzinhos muito bem fritos e frescos, muito bem. Menos bem o "tacho de choquinhos estufado com ervilhas e batata-doce de Aljezur" (16 euros), primeiro pela ausência dos choquinhos, substituídos por bocados de chocos adultos, frescos e saborosos, mas não choquinhos. As ervilhas também não compareceram e a batata-doce dita de Aljezur não tinha nem a cor nem a doçura que é costume ter. Além disso, o molho apresentou-se carregadinho de calda de tomate, com duas insólitas rodelas cruas deste legume a boiar e uma presença excessiva de coentros. Sejam rigorosos, por favor.

O "doce de leite merengado" (5 euros), do menu executivo, e a "farófia sobre biscoito de canela, espuma de creme baunilhado e gelado de mel" (7 euros) foram as sobremesas, que cumpriram, embora ostentando uma presença notória de essências, pormenor a exigir correcção. O amouse bouche desta refeição foram uns niquinhos de pombo guisado apaladado. Bebeu-se o Alvarinho Soalheiro 2009 (20 euros), ainda a acusar uma presença excessiva de sulfuroso no aroma. Alguns vinhos brancos estão a sair para o mercado muito cedo, o que não os beneficia.

O jantar, dois dias depois, correu muito melhor. O amouse bouche foi uma refrescante saladinha de polvo. Seguiram-se, como entradas, "vieira salteada com mexilhão avinagrado e salada de flores" (12 euros), com os mariscos bem trabalhados (a vieira na frigideira e os mexilhões cozidos e aos bocadinhos), refrescados pelo molho avinagrado e uma salada de rúcula, enfeitada com três ou quatro pétalas de rosa amarela; e os "lagostins na chapa com fricassé de amêijoas e coentros" (15 euros), conjunto catita, com os quatro lagostins em bom ponto de cozedura, corpo descascado (por que é que não lhes tiram a tripinha?), mas com a cabeça e a ponta do rabo, com o molho de fricassé bem cremoso e saboroso e as amêijoas frescas e com a casca e os coentros discretos.

Os pratos pedidos foram o "bacalhau panado com amêndoa sobre salteado de cogumelos e arroz malandro de coentros" (18 euros), com o gadídeo bem demolhado, cortado em iscas altinhas, sem espinhas e pele, bem panado e frito, servido com cogumelos salteados, conúbio que se revelou harmonioso, e um arroz de coentros servido no ponto e ainda bem que pouco amalandrado; e o "tornedó de novilho, salteado de batata, enchidos regionais e mousse de bróculos" (19 euros), prato substancial, constituído por um naco de uma carne macia, bem sangrada, suculenta, mal passada (como se pedira), enfeitada e apaladada por niquinhos de boas morcela e chouriça, servido à fatias grossas sobre batatas salteadas e uma mousse de bróculos, forma engenhosa e saborosa de valorizar este legume verde, por vezes um tanto enjoativo por excesso de cozedura.

Como sobremesas pediram-se a "areada de maçã" (oito euros), com um belíssimo gelado original que escondia no seu interior praliné e pedaços de passas de fruta; e uma muito bem imaginada e trabalhada "trilogia conventual: espuma de arroz doce, shot de pastel de nata e gelado de toucinho do céu" (oito euros). As sobremesas são da responsabilidade do chefe de pastelaria Francisco Pavia. Bebeu-se o branco Vinha Formal de 2004 (19,50 euros, excelente relação qualidade/preço), de Luís Pato, que está numa fase de evolução óptima e se mostrou capaz de acompanhar toda a refeição. A carta de vinhos do Guarda Real, embora não muito extensa, é equilibrada quanto às regiões e aos preços, havendo alguns vinhos a copo. O serviço é atento e prestável. A cozinha é inspirada sobretudo nos nossos sabores do Sul, o que lhe fica bem, devendo esforçar-se por tornar o rigor da confecção no seu objectivo máximo.

Nome
Guarda Real
Local
Lisboa, Lisboa, Rua Tomás Ribeiro, 115
Telefone
213199500
Horarios
Todos os dias das 12:00 às 15:00 e das 19:30 às 22:30
Website
http://www.hoteisreal.com
Preço
30€
Cozinha
Internacional
Espaço para fumadores
Não
--%>