Fugas - restaurantes e bares

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Clérigos underground

Por Andreia Marques Pereira ,

Entra-se na Tendinha dos Clérigos já à espera de guitarras ao alto, até porque o logótipo da casa é claro: nome e guitarra fundidos a preto, vermelho e branco. Não se busque nada de excepcional: não tem (não tem sequer janelas). Foi (e é) a música que o distinguiu - o rock alternativo (cada vez mais) dançável deu-lhe uma aura "underground", numa altura em que o house, techno, trance e afins faziam as noites ditas "mainstream".

Se no início foi pioneiro - na música, mas, sobretudo, na localização -, hoje é a fórmula mágica que muitos bares-clubes tentam replicar. "Não sei explicar o sucesso, talvez pela qualidade da música, todos gostam", reflecte Alberto Fonseca, proprietário, "talvez pela equipa que trabalha comigo". Sabe que muitos lhe dizem "A Tendinha é o melhor do Porto" e ele gosta que o digam; mas não gosta de o dizer, de falar. Pode ser coincidência, mas há um antes e um depois da Tendinha dos Clérigos. Antes: uma zona do Porto com comércio, prédios vazios e vazia de gente após as sete da tarde; depois: ruas cheias em constante vaivém nocturno.

No tempo em que a zona dos Clérigos ainda não andava na boca do mundo que sai à noite no Porto, já a Tendinha dos Clérigos passava de boca em boca entre uma certa população noctívaga da cidade: a que gostava de ouvir rock alternativo; a que gostava de ir à Tendinha dos Poveiros. Porque antes da Tendinha dos Clérigos, já havia (há, agora com outro proprietário) a Tendinha dos Poveiros, na Praça dos Poveiros, na altura em que a noite da baixa estava em alta no eixo da Rua de Passos Manuel. Por isso, a abertura da "outra" Tendinha numa zona que passava ao lado da movida da cidade foi quase como um salto de fé que acabou a fidelizar a noite portuense - "toda a gente vem atrás do sucesso", tenta explicar Alberto Fonseca, que no ano passado abriu o La Bohème, duas ruas acima, recentemente adquiriu o Blá Blá (Matosinhos) e é também proprietário do restaurante Tendinha do Padrão.

Corria o ano de 2005 quando abriu a Tendinha dos Clérigos e a Tendinha dos Poveiros era um fenómeno inexplicável que havia começado anos antes: sem qualquer pretensão de design, um espaço exíguo que transbordava literalmente para a rua, para a esplanada. Foi esta exiguidade - "A Tendinha [dos Poveiros] foi sempre pequena" - que impulsionou Alberto Fonseca a procurar outro espaço. "Isto era um deserto, mas foi o único espaço que encontrei que me agradou", recorda Alberto. "Aqui a música pode ''bombar'' toda a noite. Lá [nos Poveiros] tinha sempre a polícia à perna".

Mas foi "lá" que se deu a estranha alquimia que tornou a marca "Tendinha" o sinónimo de "underground" favorito da cidade. Alberto Fonseca dá os créditos a André Spencer - "começou a levar vinis e a passá-los. Vieram muitos estudantes, artistas e as sextas e sábados cresceram" - e a Emília Sousa. Definiram o que se pode chamar de "som Tendinha", que definiu o público - parte do público seguiu o som para os Clérigos: rock alternativo "all the way". No início foi um fenómeno, depois acalmou e agora regressaram as noites brancas.

Numa das mais discretas ruas - a Conde Vizela - uma porta vermelha em parede branca marca o X (bem, agora há também a placa identificativa...). Entra-se e percebe-se que não há truques na manga: o que se vê é o que se tem, o que não se vê não existe. Antes de mais, não existem janelas e a simplicidade decorativa é a regra, nas duas zonas mais ou menos delimitadas, cada qual com o seu bar. Preto e vermelho são as cores-imagem da casa, com o laranja a intrometer-se "para quebrar a monotonia": a paredes são vermelha e preta (pintado a fingir lambril), ou laranja e preto, ou às riscas (vermelho, laranja e branco) e preto. Nas paredes, vinis, guitarras, fotos de músicos - PJ Harvey e Yeah Yeah Yeahs, entre elas - t-shirts - Rolling Stones, Jim Morrison, Janis Joplin. Este foi o "rock de sempre" com o qual Alberto cresceu, o outro é a resposta às novas gerações que querem "coisas mais dançantes".

É fácil compreender com que linhas se cosem os alinhamentos musicais da Tendinha dos Clérigos - a tendência é seguida religiosamente pelos DJ, entre eles alguns mais assíduos do que outros, como Jorge Monteiro, Ricardo Teixeira e Isidro Lisboa. Pois, a Tendinha é daqueles locais onde se sabe sempre o tipo de música que se vai ouvir - e os clientes são tão "fanáticos" que, se a música começa a divagar para outros territórios, se queixam abertamente. Aliás, se há coisa que a Tendinha nunca vai ter, por exemplo, são noites temáticas, para não alienar o público.

E para não enganar o público, convém dizer que a Tendinha é mais clube do que bar. É, cada vez mais, um local para dançar e a mesa de bilhar que antes animava o início das noites foi a primeira a baixa desta saída do armário. O que se mantém é a vocação tardia da Tendinha: abre à 1h00 e é assim que tem de ser neste espaço - sem janelas, nem se presta a outro horário, assume Alberto. Além disso, acrescenta, "este é um mito que já se criou, podia abrir mais cedo, mas não tinha ninguém". Abre tarde, fecha tarde, sempre com muita, muita gente. Por isso, há obras no futuro próximo da Tendinha (depois de, no ano passado, já ter recebido um "facelift") e, sim, a pista será alargada.


"Merchandising"

Uma vitrina cobre uma pequena parede da Tendinha dos Clérigos com artigos de merchandising. São isqueiros, crachás, t-shirts, calendários... Por enquanto, não estão à venda, mas a ideia é comercializar estes produtos, muito procurados sobretudo pelo público estrangeiro da casa.

Comer "after hours"
Quando os bares das redondezas começam a fechar, muitos dirigem-se à Tendinha. Para dançar, sim, mas também para comer. "Já é tradição", diz Alberto Fonseca, "o pessoal também precisa de comer". Sandes, tostas e salgados.

Nome
Tendinha dos Clérigos
Local
Porto, Porto, Rua Conde de Vizela, 80
Telefone
933347079
Horarios
Terça a Sábado das 01:00 às 06:00
Website
http://www.tendinhadosclerigos.com
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